No primeiro pregão do Ibovespa pós-eleições, na segunda-feira (3), as ações da Sabesp (SBSP3) dispararam, fechando com alta de 16,94%. Os papéis da companhia reagiram, justamente, ao resultado das urnas do domingo (2), que apontou uma liderança inesperada – dadas as pesquisas eleitorais – para Tarcísio de Freitas, candidato do Republicanos, à frente de Fernando Haddad, do PT. Agora, os dois disputam o governo de São Paulo no próximo 30 de outubro, e o resultado promete impactar os papéis e os destinos da estatal, segundo analistas entrevistados pelo BP Money.
Para João Abdouni, analista da Inv, a Sabesp já está precificando uma vitória de Tarcísio e um início de conversas sobre a privatização da empresa. Isso porque o ex-ministro de Infraestrutura do governo de Jair Bolsonaro já sinalizou uma possível privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, além de ter tido ações privatistas enquanto ministro.
Segundo ele, a alta nas ações da própria Sabesp já tinham sido observadas na eleição de Doria, que também falava na privatização da empresa, que não veio. Na época, as altas foram logo devolvidas, por isso, para ele, seria arriscado não seguir com a privatização.
Nesse cenário, o mercado vê como alta a possibilidade de Tarcísio assumir o governo de São Paulo e dar início a conversas sobre privatização, o que animou os investidores.
Segundo Guilherme Loures, economista e head de renda variável da WIT Invest, há expectativas de que os papéis da Sabesp se mantenham em alta neste mês de outubro, até o segundo turno, levando em conta o perfil de gestão de Tarcísio, o fato de seus votos e posição em primeiro lugar surpreenderem.
Matheus Spiess, analista da Empiricus, concorda que as ações da empresa foram puxadas pela possível eleição de Tarcísio, que, para ele, é um movimento de overshooting natural. Mesmo assim, a continuidade de uma boa gestão sob a estatal, também é um tipo de percepção positiva pelo mercado.
Os destinos da Sabesp e as reações do mercado
Em âmbito nacional, a eleição presidencial pouco deve impactar a empresa, como explica o analista da Inv. “Mesmo com uma eleição de Lula, que é mais provável, e com um Congresso mais à direita, o fiscal ainda deve ser preservado. Dessa forma pouca coisa deve influenciar na Sabesp. Ainda assim, os juros precisam começar a cair para que a Sabesp possa andar, e isso deve acontecer nos próximos dois anos”.
Para os analistas, a Sabesp deve seguir caminhos diferentes em relação a cada governador. Loures explica que, no caso de Tarcísio, a perspectiva é de privatização e um “desbloqueio de um grande potencial da empresa”.
No caso de Haddad, Loures explicou que, mesmo com uma perspectiva de permanência de empresa pública, há, agora, uma obrigatoriedade na abertura de licitação para novas concessões ou concessões vincendas, envolvendo empresas públicas e privadas.
“Tais atualizações na regulação do setor visam torná-lo mais competitivo e eficiente, de modo a avançar substancialmente em seu desenvolvimento. Se a Sabesp não permanecer competitiva, pode começar a perder concessões ao longo do tempo”, apontou.
Segundo Abdouni, o mercado reagiria de forma muito negativa caso Haddad vença as eleições.
“A ação deveria cair para a casa dos R$ 38, cairia muito. Com a privatização, você tem um corte de custos na privatização gigantesco. Você tem uma melhora de eficiência muito grande. E isso tudo já começa a entrar no preço da empresa. Nesse momento, a Sabesp está negociando a dezesseis vezes lucro dos últimos doze meses. Se ela não for privatizada ela está cara”, apontou.
Mesmo assim, para o analista da Inv, com Haddad, pouca coisa mudaria, de fato, na Sabesp, mas suas cotações devem cair para uma empresa de capital misto. “O que vai mudar é que a empresa vai voltar ao valuation que ela tinha há seis meses atrás”, apontou.
Por outro lado, segundo Spiess, mesmo com a tendência mais privatista de Tarcísio, o processo não é, ainda, tão certo.
“A Sabesp é uma empresa muito diferente do que era antes da gestão Doria. Ela conseguiu crescer bastante. Está muito melhor com resultados e rentabilidades interessantes. Claro que seria interessante, de um ponto de vista privatista, vendê-la, mas não é certeza que ela, de fato, será privatizada nos próximos anos”, explicou.