Saída do Nubank mostra ponto fraco da bolsa brasileira; entenda

Fintech anunciou na última quinta (15) que deixará de ter capital aberto no Brasil; analistas explicam o que isso significa para a empresa e para o mercado doméstico

Após anunciar o fechamento de capital na bolsa de valores de São Paulo (B3), o Nubank (NUBR33) deixou investidores com algumas dúvidas sobre a movimentação inesperada da empresa. Analistas consultados pelo BP Money destacaram que, apesar de não ocorrer mudanças drásticas para as operações da companhia, a saída do Nubank do mercado brasileiro de ações diz mais sobre o mercado doméstico do que sobre o neobanco.

Em um cenário de volatilidade e economia instável, é natural que investidores e empresas fujam do risco (e corram para economias mais sólidas). Por isso, o mercado internacional tem atraído cada vez mais capital. Os papéis do Nubank negociados no Brasil, em reais, não representam nem 0,2% do capital da fintech, ou seja, a companhia tinha muitas obrigações regulatórias e pouco retorno por aqui. 

Para Guilherme Zanin, analista da Avenue, a saída do Nubank da B3 é negativa para a bolsa brasileira, já que mostra que “não só existe uma fuga de capital como também desincentiva o mercado brasileiro a trabalhar com esse tipo de investimento”. 

“Acho que o grande destaque é que demonstra o tamanho incipiente do mercado brasileiro. O próprio estudo do Nubank comprovou que a liquidez era menos de 5% do volume em reais. Se a gente comparar em dólar, o valor fica ainda mais expressivo. Dito isso, mostra como a nossa bolsa é regionalizada e focada principalmente nas grandes estatais ou empresas que são consideradas oligopólios”, explicou Zanin. 

“Não à toa a gente viu o Nubank abrir o capital lá fora, Banco Inter também migrando para o exterior e a gente vê uma fuga de ativos, principalmente empresas de tecnologia, que é um dos setores que deveriam ter maior crescimento na bolsa brasileira”, complementou o analista da Avenue. 

Segundo ele, empresas como o Nubank estão migrando para o mercado externo porque entenderam que existe um valuation maior e oportunidades de retorno maiores do que no Brasil. Além disso, os investidores estrangeiros também costumam trabalhar com um prazo maior de investimento, o que é sempre mais positivo para qualquer empresa. 

Com o encerramento da dupla listagem, o que muda para o investidor do Nubank?

Para esclarecer a (possível) principal dúvida do investidor, os BDRs Nível 3 – que necessitam de uma listagem da empresa no mercado doméstico – serão descontinuados pelo Nubank. Por outro lado, os BDRs Nível 1 – que não precisam de uma listagem da empresa no Brasil – seguirão na B3. Por isso, o investidor poderá optar por trocar seu BDR Nível 3 por BDR Nível 1 ou trocar por ações diretas da empresa nos EUA.

De acordo com Carlos Daltozo, chefe de research da Eleven Financial, o movimento do Nubank é negativo por tudo que o banco fez, como propaganda, para atrair investidores no cenário doméstico. 

“Para levar clientes para B3, o Nubank distribuiu BDRs para 7,5 milhões de clientes. Entendo o ponto deles de reduzir custos, porque tendo listagem em dois países você tem o custo de duas regulações e tem um custo maior, mas vai contra o “banco digital dos brasileiros””, destacou Daltozo. 

“A gente vê também que para o investidor em si muda pouco. Por outro lado, vemos como negativa a quantidade de informações que é disponibilizada. Eles vão parar, por exemplo, de ter obrigação de divulgar os dados trimestrais em português e isso fica ruim para a base de investidores e a quantidade de informações também pode diminuir significativamente para os investidores do Nubank. Por toda propaganda do NuSócios, isso é negativo, é um passo atrás, mas é compreensível, visto que outras empresas no mundo fizeram isso recentemente, como a Unilever”, completou Daltozo.

O analista Guilherme Zanin explicou o que muda com o encerramento da listagem do Nubank na bolsa de valores brasileira. 

“Para quem tem mais de seis BDRs, pode converter os papéis em uma ação através de uma corretora internacional e continuar sendo sócio do Nubank nos EUA. Se isso não acontecer, se a pessoa tem menos que isso, provavelmente o papel será liquidado e a pessoa vai receber o dinheiro, menos do que quando comprou ou quando recebeu o ‘pedacinho’”, disse Zanin.

Vale lembrar que cada BDR equivale a um sexto de uma ação ordinária do Nubank. Sidney Lima, da Top Gain, reiterou que os investidores poderão fazer escolhas em relação aos papéis do Nubank, já que ocorrerá a extinção dos BDRs Nível 3 listados pelo Nubank na B3.

“Esse nível um trata-se de algo que está relacionado a um recibo, de fato, da ação. Não teremos mais a ação específica aqui no mercado brasileiro, listada na bolsa de valores”, pontuou Lima.

“Entre as opções que o investidor terá com os papéis do Nubank estão a troca dos BDRs Nível 3 por ações nos EUA; a trocar do BDR de Nível 3 por um novo, de Nível 1, a venda dos BDRs no mercado tradicional e a venda dos BDRs através do fechamento, que ainda não teve as regras publicadas”, explicou Lima.

O Nubank destacou em seu comunicado que essa mudança que a diretoria decidiu fazer em relação ao mercado brasileiro está muito direcionada às normas que o mercado doméstico impõe.

“A proposta para a Descontinuidade do Programa de BDRs Nível III tem como objetivo maximizar a eficiência e minimizar redundâncias consequentes de uma companhia aberta em mais de uma jurisdição. A administração da Companhia afirma que a presente deliberação não afeta o compromisso de longo prazo do Grupo Nubank com o Brasil, tampouco com o mercado de capitais brasileiro”, informou a Nu Holdings.

Para Lima, da Top Gain, o Nubank ganhará bem mais sendo listado somente no mercado norte-americano. 

“O mercado norte-americano é a maior potência quando a gente fala de investimentos e de bolsas de valores. Isso significa que a empresa dará ênfase ao cumprimento de normas mais rígidas da bolsa norte-americana e não da brasileira, por mais que mesmo tendo BDRs nível 1 continuará cumprindo algumas regras por aqui”, disse Lima. 

“Na minha opinião, esse fato em específico não retira a credibilidade da empresa, tendo em vista que isso não afeta o seu negócio em si. O movimento é nada mais nada menos do que uma troca do nível desse BDR, que não tende a de fato afetar o negócio da empresa”, concluiu Lima. 

Vale lembrar que o plano de descontinuidade do programa de BDRs Nível 3 do Nubank ainda precisa ser aprovado pela B3.

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