Mercado

Santander (SANB11) se prepara para abertura de IPOs

Banco fortalece seu braço de investment banking desde meados do ano passado

O Santander (SANB11) se prepara para uma grande quantidade de abertura de IPOs em 2024, após dois anos de seca, com o fortalecimento de seu braço de investment banking desde meados do ano passado. Com Renato Ejnisman, que assumiu a divisão de Corporate e Investment Banking (SCIB) no começo de 2023, o Santander foi ao mercado em busca de profissionais para acelerar a parte de mercado de capitais e M&A.

A principal contratação foi Leonardo Cabral, ex-diretor de privatizações do BNDES, e que até sua chegada ao Santander era head de capital markets do Credit Suisse. Desde julho, ele e sua equipe, que ganhou reforços vindos do banco suíço após sua venda ao UBS, estão se preparando para a tão esperada reabertura do mercado.

“Estamos reforçando a plataforma desde meados do ano passado e estamos prontos para competir de igual para igual tanto com os bancos globais, quanto os locais”, diz Leonardo Cabral, head do investment banking do Santander Brasil, em entrevista ao NeoFeed. Com a equipe reforçada, e aproveitando que o mercado ainda não apresentava condições favoráveis, Cabral conta que o Santander montou um pipeline de operação, contando com “mais de uma dezena de casos de potenciais IPOs para este ano”.

No último dia 17 de janeiro, a Oceânica Engenharia, empresa que presta serviços submarinos para o setor de óleo e gás, informou que está trabalhando para realizar um IPO. O anúncio surpreendeu o mercado, que esperava que o pontapé inicial fosse dado por uma empresa de maior porte.

Para Cabral, a tese das grandes empresas vindo primeiro ao mercado permanece, pelo fato de atraírem mais o interesse dos investidores estrangeiros, é vista como fundamental para a retomada dos IPOs.

Isso não significa, porém, que teses como a da Oceânica não possam vir, considerando sua exposição a um segmento que apresenta boas perspectivas. “Ela é uma prestadora de serviço para um setor que está quase que dobrando de tamanho nos próximos anos”, diz Cabral.

Assim como seus concorrentes, Cabral espera a retomada dos IPOs ainda no primeiro semestre, mais especificamente no segundo trimestre, quando as companhias devem ter em mãos os números fechados de 2023.

Analistas estão esperançosos

Assim como no ano passado, 2023 foi mais um ano de seca para novos IPOs. Sob o novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Brasil continuou sofrendo com uma alta da inflação e com um alto patamar da taxa de juros. Além disso, os investidores locais testemunharam uma alta dos juros norte-americanos, promovida pelo Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA).

De acordo com Ricardo Rodil, líder de Mercado de Capitais da Crowe Macro Auditores e Consultores, com a alta da taxa Selic nos últimos dois anos, os agentes financeiros deram preferência por ativos de baixo risco, mas que ofereciam uma alta rentabilidade. Com isso, o cenário não foi propício para a ocorrência de novos IPOs.

“Com taxas Selic alcançando 13,75% ao ano, a opção por ativos de menor risco foi o caminho natural de boa parte dos investidores. Com os juros altos, os recursos colocados em investimentos de risco foram drasticamente reduzidos e, quando arriscavam algum investimento em renda variável, seguramente a opção era por empresas já consolidadas”, explicou Rodil ao BP Money.

“Neste cenário, nos últimos dois anos, os investimentos no mercado foram muito mais endereçados aos chamados ‘follow ons’, expressão em inglês para designar emissões adicionais de ações levadas ao mercado por empresas que já são de capital aberto”, acrescentou.

Para Rodil, diante das recentes quedas da taxa de juros, é natural que os investidores voltem a alocar capital em ações da Bolsa. Por conta disso, ele acredita que 2024 será um ano de retomada para os IPOs.

“Com a Selic em trajetória de queda, começaram a se formar as condições para uma retomada dos investimentos em renda variável. Entre eles, a compra de ações em Bolsa. Dado que essas condições ainda estão em formação, o movimento que vejo como mais lógico é que em 2024 somente companhias bastante consolidadas abram seu capital e que apenas em 2025 vejamos empresas médias chegando ao mercado aberto”, afirmou o analista.

Reformas podem impulsionar IPOs

Segundo Bernardo Freitas, advogado especializado em fusões e aquisições e sócio do escritório Freitas Ferraz Advogados, as reformas e medidas que foram aprovadas no Congresso nos últimos anos podem beneficiar a abertura de capital das empresas já em 2024. Além disso, o analista ressaltou positivamente o aumento da nota de rating do Brasil pela agência S&P Global Ratings.

“Há esperança para que o cenário melhore a partir de 2024 em razão de medidas que já vinham sendo tomadas e que devem surtir efeitos agora, a exemplo da recente aprovação da reforma tributária. Além disso, a agência de ratings S&P aumentou a nota do Brasil de BB- para BB, justificando essa evolução, nas palavras de seu relatório, “de um amplo histórico de reformas estruturais e econômicas desde 2016 que refletem um aumento pragmático da estrutura institucional que ajuda a ancorar a estabilidade econômica”, disse ao BP Money.

Partilhando da mesma visão que Freitas, Marlon Glaciano, especialista em investimentos, gestor e educador financeiro, apontou que as medidas econômicas tomadas durante o primeiro ano do Governo Lula trouxeram uma estabilidade ao mercado.

“Com a aprovação da reforma tributária e demais pacotes econômicos, ainda que em desacordo com alguns especialistas, temos um cenário de mais estabilidade justificado pela queda da inflação e da taxa de juros, que tende a manter o movimento de queda. Esses pontos fomentam a tomada de crédito e a recuperação da oferta de IPOs, pois os investidores precisarão buscar novas alternativas aos produtos de renda fixa ofertados já que teremos uma menor rentabilidade”, pontuou Glaciano.

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