As preocupações do mercado já chegaram ao consenso de economistas há algum tempo, quando as apostas de Selic (taxa básica de juros) de 1 dígito findaram-se, diante dos indicadores de economia e inflação. Apesar dos recordes recentes do Ibovespa, a cautela ainda é a base para a montagem das carteiras de investimentos para o restante do ano, coforme explicaram especialistas.
Conforme o último Boletim Focus do BC (Banco Central), que sempre inicia a agenda econômica semanal, a expectativa é de alta do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor), alta do PIB (Produto Interno Bruto) e manutenção da Selic em 10,50% ao ano.
No entanto, algumas instituições já apostam também que a taxa de juros brasileira pode sofrer um aumento nas próximas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária) e findar 2024 em 11% ao ano.
O movimento do IPCA, segundo André Colares, CEO da Smart House Investments, reflete as incertezas quanto à eficácia das políticas de controle inflacionário e a pressão que o governo enfrenta para equilibrar os gastos públicos.
“A combinação de inflação alta, Selic elevada e incertezas fiscais cria um cenário desafiador para o crescimento econômico e para os investimentos, com impactos diretos sobre a confiança do mercado e os números recordes recentes na B3” , afirmou Colares, em resposta ao BP Money.
Pensando na saúde das carteiras de investimentos até o final do ano, Colares indicou ser prudente “considerar a alocação em fundos de crédito privado, que podem capturar prêmios de risco adicionais, e manter uma reserva de liquidez para aproveitar oportunidades que possam surgir com a volatilidade”.
Para Bruno Corano, economista e idealizador da Imigre América, a dinâmica entre a alta da Selic e o desempenho da Bolsa, de que quando os juros sobem o Ibovespa cai, já está esclarecida desde outras ocasiões.
“A forma de se preservar seria antecipadamente saindo de ativos de maior volatilidade e de ativos que são mais sensíveis às instabilidades econômicas”, disse.
Conforme sua avaliação, as empresas de setores industriais de base e consumo garantido são as mais estáveis em um cenário de juros altos, a exemplo de companhias de energia elétrica, a Petrobras (PETR3;PETR4) entre outras que “se assemelham a isso, ou aquelas que têm um grande volume de geração de caixa internacional, como a WEG (WEGE3)”.
Além de concordar, Colares também complementou a consideração, afirmando que as empresas desses setores, incluindo o saneamento e saúde também, têm receitas mais previsíveis e são menos impactadas pelos custos de financiamento.
“Além disso, o setor financeiro pode se beneficiar, pois as margens de lucro tendem a aumentar com o crescimento das taxas de juros”, prosseguiu.
O perigo do consumo: quais setores manter longe das carteiras em tempos de Selic alta?
À essa altura das apostas, há instituições que veem a taxa de juros brasileiras indo ainda mais longe que os 10,50% e regredindo ao patamar dos 11% ao ano, pois além da inflação desancorada, a economia brasileira também está aquecida, como indicou o resultado do PIB do segundo trimestre, que veio com alta de 1,4% frente aos 3 meses anteriores.
Além da inflação, o caminho da agenda fiscal também preocupa os 34% de gestores que indicaram que a Selic deve voltar a crescer, conforme o Barômetro do Mercado, realizado pelo “InfoMoney”. É a tese em que o JP Morgan e a XP (XPBR31) também acreditam.
Sendo assim, Colares lembrou que os setores de consumo discricionário são particularmente vulneráveis a uma alta da Selic.
“Empresas que dependem fortemente de crédito para financiar suas operações ou para impulsionar as vendas tendem a sofrer com a redução da demanda. Isso pode se traduzir em margens mais apertadas e crescimento mais lento para esses setores”, afirmou.
Com essas perspectivas em mente, ambos os especialistas indicam que, mesmo sendo possível, pode ser improvável que os aportes no Ibovespa se animem e quebrem novas fronteiras, como os 140 mil pontos, como foi visto nas últimas semanas ao chegar nos 137 mil pontos.
“Para que o Ibovespa atinja essa marca, seria necessário um ambiente de recuperação econômica mais acelerada, combinado com uma melhora na confiança do investidor, principalmente em relação às reformas estruturais e à estabilidade fiscal”, disse Colares.
Já Corano vê um movimento de queda de juros nos mercados globais, o que deve fazer a Bolsa brasileira desaquecer, pela fuga dos capitais para mercados que têm mais incentivo para se valorizar, como as Bolsas dos EUA.
Para 2025, a XP espera que o Ibovespa alcance a marca de 155 mil pontos, ao passo que o Itaú BBA revisou suas expectativas para este ano e agora espera 165 mil pontos ao término de 2025.