Em um cenário em que diversas casas de análise têm elevado suas projeções para a Selic (taxa básica de juros), analistas apontam maneiras de preparar a carteira de investimentos.
Entre os pontos levantados por analistas ouvidos pelo BP Money, o destaque foi optar por ativos resilientes e sem dívidas. “Empresas com essas características, especialmente as vinculadas ao mercado global ou a moedas fortes, como as exportadoras, ganham destaque. Além disso, negócios que se beneficiam de um giro alto, como bancos e seguradoras, também têm potencial”, comentou Beto Saadia, diretor de Investimentos da Nomos.
Esse mesmo parâmetro vale para companhias ligadas a commodities e exportações — que representam uma parcela significativa do Ibovespa —, bem como segmentos resilientes, como energia e concessões, que possuem menor dependência do cenário econômico interno.
Em relação aos indexadores, ativos atrelados à inflação e prefixados podem sofrer mais, gerando maior volatilidade para a carteira. Logo, a preferência fica para os títulos prefixados, “seja no mercado de títulos públicos ou no crédito privado, sempre considerando uma estratégia mais adequada ao momento econômico”, acrescentou.
Cenário para a Selic
Ainda que o cenário brasileiro esteja bem mais forte que o projetado inicialmente, as questões em torno dos juros não possuem tanta influência do exterior. O Brasil está assistindo a uma taxa de desemprego reduzida, próxima da mínima histórica, apontando para uma demanda que, segundo o modelo do BC (Banco Central), pode estar ficando acima do que seria saudável para a economia crescer sem gerar inflação.
“Fora o pacote fiscal, que acaba tendo uma transmissão para os preços dos ativos, segundo o próprio Banco Central, a incerteza fiscal em relação ao aumento do endividamento público e à falta de medidas estruturantes para conter gastos públicos acaba alimentando incertezas no mercado, elevando o preço de ativos como juros futuros e o dólar”, explicou o analista de economia do Investing, Leandro Manzoni.
A dívida pública em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) está crescendo durante o governo Lula. “O mercado gostaria de ver que o arcabouço será respeitado, não só que o arcabouço seja respeitado, mas que o setor público gere superávites primários para que, ao menos, esse endividamento pare de subir”, acrescentou Manzoni.
Quando questionado sobre um cenário mais otimista para a Selic, o especialista pontuou que seria necessário o governo apresentar um “pacote fiscal mais crível”. Ele acrescentou que não basta gerar um déficit primário menor; é preciso também conter o avanço do endividamento público.
“Alguns economistas falam que tem que gerar um superávit de 2%, 3% do PIB e a gente está longe disso acontecer”, acrescentou.
Ainda em relação ao cenário otimista, seria necessário haver uma desaceleração econômica. Ou seja, a atividade econômica precisaria ficar abaixo do esperado de forma sistemática — não apenas em dados isolados.
Por outro lado, em um cenário pessimista — onde o contexto econômico brasileiro se agravasse — a Selic poderia alcançar patamares de 16%. Isso só aconteceria “caso as expectativas em relação à inflação e ao câmbio ficassem cada vez mais pessimistas. A principal ferramenta para o governo evitar esse cenário é o ajuste fiscal”, explicou Ulisses Dias, especialista em finanças e investimentos.