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Selic em ciclo de queda: O que fazer com a carteira de investimentos?

O BP Money ouviu três especialistas para avaliar e indicar quais investimentos valem a pena nesse cenário

Após permanecer inalterada por um ano em 13,75%, a taxa Selic foi reduzida em 0,50 ponto percentual durante a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, no início de agosto. O encerramento do ciclo de aumento da taxa de juros (Selic) fundamental da economia pode representar uma janela de oportunidade para ajustar a composição da carteira de investimentos.

Nesse sentido, o BP Money ouviu três especialistas do mercado financeiro para indicar como o investidor pode agir nesse cenário de queda da Selic, que deve seguir nos próximos meses. 

“Mesmo com a queda da Selic, o Brasil continua sendo um País com uma renda fixa ótima, tanto se considerar o juro nominal quanto o juro real, então segue como uma oportunidade interessante investir em renda fixa”, ressalta o analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, Rodrigo Cohen.

“Como em qualquer tipo de decisão de investimentos, o primeiro passo é entender quais são seus objetivos como investidor e avaliar como está a alocação da sua carteira em alinhamento a esse objetivo”, iniciou o especialista em finanças, Cadu Guerra. 

A analista econômica pelo FGV, Carol Curimbaba, reitera que,  o investimento sempre deve estar correlacionado com o apetite a risco do investidor, respeitando as proporções de renda variável VS renda fixa vs reserva de emergência. 

Sendo assim, Guerra destaca que o investidor deve refletir sobre o quão confortável está em assumir diferentes tipos de risco. Portanto, para os investidores cujo objetivo seja primariamente a busca de maiores taxas de retorno em seus investimentos, “pode ser uma boa hora para olhar novamente para os investimentos em renda variável ou em frentes ligadas à economia real”, indicou o especialista.

Investimentos pré-fixados: Ainda vale? 

O especialista em finanças explica que, se o investidor é avesso a correr os riscos da renda variável e gosta de estar mais exposto à renda fixa, o investimento em pré-fixados ainda pode ser uma boa alternativa. 

“Ninguém tem certeza de como a curva de juros vai se comportar no futuro, se o investidor acredita que a Selic vai continuar em queda por um período extenso o melhor momento para alocar capital no pré fixado é exatamente agora, antes que a taxa caia ainda mais”, afirmou Guerra. 

Em relação ao risco, o especialista explicou que está mais relacionado ao fato de que o investidor vai alocar o capital. “Independentemente de uma Selic mais alta ou mais baixa, títulos pré fixados do Tesouro ou CDBs de grandes grandes bancos continuam sendo opções de risco muito baixo”, destacou.

Em contrapartida, na visão da analista fundamentalista, fazer um investimento em taxa pré em um país tão volátil como o nosso é apostar e não investir. “O cenário macro no mundo e a política local não nos permitem fazer grandes apostas no longo prazo esperando o fechamento da curva do DI”, ressaltou.

Investimento em títulos de longo prazo indexados ao IPCA

Para Carol, os títulos de longo prazo indexados ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) são mais “razoáveis” para ter na carteira. “Eles podem representar um investimento mais condizente com um país de mercado emergente”, disse. 

Sendo assim, Guerra em linha com a analista, destaca que esses são títulos bons para compor e balancear a carteira do investidor, uma vez que garantem que o capital estará sempre protegido de perder valor frente à inflação. 

“Costumam ser bons títulos para alocar capital de longo prazo. Por exemplo, o dinheiro que o investidor pretende resgatar somente décadas no futuro. No fim do dia, os títulos indexados ao IPCA garantem que você, no longo prazo, não vai perder poder de compra do capital que foi alocado ali”, explicou Guerra.  

“Por isso, trazem uma proteção contra a instabilidade do cenário macroeconômico. É uma boa opção para manter balanceada a carteira de investimentos, principalmente se o investidor quiser fazer um mix entre produtos de risco baixo e opções mais arrojadas”, ressaltou.

Ativos atrelados à inflação

Em resumo, Guerra ressaltou que a inflação acumulada desde a adoção do Real é de mais de 650%, e somente de 2017 para cá o real perdeu mais de 30% do seu poder de compra. 

“Considerar a deflação como um cenário constante é muito arriscado. É muito mais provável que sejam reflexos de ações esporádicas ou variações pontuais de mercado. Um mês de deflação não é o suficiente para mudar a avaliação feita quanto a títulos indexados ao IPCA se pensados no longo prazo”, recomendou o especialista.

Nesse sentido, Cohen destaca que, mesmo com a deflação, vale a pena investir nesses ativos, isso porque, “o investidor ganha mais um percentual em cima de juros, então, quando falamos de investimentos, os investidores ficam muito ligados ao juro nominal, só que se a inflação for acima disso, o investidor será prejudicado”, explicou o analista de investimentos.

Busca por ativos de risco

Em suma, a tendência é que a medida que a Selic cai, maiores quantidades de capital passem a ser alocadas em ativos de renda variável e economia real. Isso porque a remuneração paga sobre o capital “parado” está diminuindo, explicou Guerra. 

“Então, provavelmente, caso a Selic continue em queda, veremos sim maior procura por ativos de risco”, afirmou o especialista. Sendo assim, a analista fundamentalista concorda com Guerra, e acredita que a procura por ativos de risco deve aumentar no médio e longo prazo. 

Ações de mid e small caps

Em relação às ações de pequenas e médias empresas, Guerra avalia que são opções ainda mais arriscadas e imprevisíveis do que as “blue chips”. Sendo assim, no seu ponto de vista, não é recomendável que o investidor tenha uma fração muito grande do seu patrimônio exposto a esse tipo de companhia, uma vez que as mesmas podem ser muito mais afetadas por flutuações macroeconômicas e mercadológicas. 

“Podem ser boas opções, mas devem ser estudadas com muita cautela. O investidor deve buscar alocar seu capital somente em empresas que ele realmente acredita que são negócios saudáveis e que terão sucesso no longo prazo, fugindo de compras especulativas”, recomenda Guerra.

Por outro lado, Carol ressaltou que esse tipo de investimento é recomendado para investidores experientes, isso porque, demandam mais análises e as mesmas têm menos liquidez, assim não são recomendadas para poupadores e investidores inexperientes, finalizou.