O Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu elevar a taxa de juros (Selic) para 12,75% ao ano, na última quarta-feira (4). Com isso, é natural que alguns investimentos fiquem mais atrativos e outros, como as ações, tenham uma tendência de queda – o que também pode representar uma oportunidade, pensando no longo prazo, segundo analistas. O BP Money conversou com especialistas, que explicaram quais investimentos podem ser interessantes para o bolso do investidor neste momento.
De acordo com Virginia Prestes, professora de finanças da FAAP, os investimentos pós-fixados ficam ainda mais atrativos com este cenário, por acompanharem a alta da Selic. Ela explica que os fundos lastreados em taxa de juros, com uma rentabilidade acima de 100% em relação ao DI (sigla para depósito interbancário) representam uma boa oportunidade dado o cenário atual.
“A partir de hoje, esses investimentos estão rendendo 12,75% ao ano. Quem ganhou muito e vai continuar ganhando com essa alta da Selic são os investimentos pós-fixados em renda fixa, aqueles que são fixados ao DI. Estamos falando de fundos DI, LCA, LCI, CRA, CRI, todos pós-fixados. Os pré-fixados, para o investidor que já tinha, a uma taxa menor, são ruins, porém se o investidor pretende ainda comprar um título pré-fixado, ele provavelmente vai conseguir uma taxa melhor para novos investimentos”, disse Prestes.
Para Julio Hegedus Netto, economista-chefe da Mirae Asset, os CDBs também representam uma boa oportunidade de investimento em renda fixa com a alta da taxa de juros. Em relação à renda variável, ele explica que alguns setores da bolsa de valores devem sofrer mais que outros, visto que são mais dependentes do crédito.
“CDBs também são uma boa opção para o investidor. Vai depender do banco. Quanto mais complicada a situação do banco, mais agressivo é o CDB, maior é a taxa. No caso do mercado de ações, empresas sensíveis a crédito tendem a ser mais impactadas. Empresas de varejo, de bens duráveis, devem ser mais impactadas. Dependendo do comportamento dos juros mais elevados, os bancos são beneficiados porque ganham com a taxa de juros mais elevada que é passada pro consumidor final”, explica Netto.
Complementando o raciocínio de Netto sobre os setores impactados pela alta da taxa de juros, Prestes destaca que, pensando no longo prazo, olhar para estes setores, que estão descontados no momento, pode ser uma boa ideia.
“Nesse cenário de taxa de juros, os ativos reais em sua maioria acabaram se depreciando. A gente tem as ações que caíram recentemente, especialmente as varejistas, construtoras, as empresas que dependem do financiamento de longo prazo acabam sofrendo. Se o investidor estiver mirando mais médio e longo prazo, pensando em 2024/2025 pra frente é uma boa ideia aproveitar e comprar empresas que caíram com a alta da taxa de juros porque estamos chegando ao final do ciclo. O BC sinalizou que essa seria a última ou muito próxima da última alta de taxa de juros. O consenso do mercado é que estamos próximos ao fim do ciclo de alta”, explicou a especialista.
Para a professora de finanças da FAAP, essa possível trégua nas próximas reuniões do Copom pode abrir espaço para que esses ativos que se depreciaram bastante com a alta da taxa de juros possam parar de cair e possam buscar, em um segundo momento, de estabilidade da taxa de juros e depois a queda, a apreciação.
Alta de juros nos EUA e o mercado brasileiro
O Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) aumentou sua taxa de juros em 0,5 ponto porcentual, na última quarta-feira (4), o que corresponde a uma alta para um intervalo entre 0,75% e 1%.
De acordo com Pedro Galdi, analista da Mirae Asset, a alta de juros nos EUA deve impactar a bolsa de valores brasileira, com a saída de estrangeiros.
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“A alta de juros já inibe o apetite de investidores locais para o mercado acionário. Do lado externo, a alta dos juros nos EUA pode afetar o fluxo de investidores estrangeiros no Brasil, podendo afetar de forma representativa nosso mercado acionário”, disse.
Para os investidores brasileiro, Galdi recomenda ainda mais cautela na hora de escolher os papéis, mas enxerga oportunidades em alguns setores.
“Em momentos como este (de alta da Selic), a busca por ativos terá que ser mais seletiva. Ações de commodities ainda devem ficar no radar, com destaque para minério de ferro, celulose, petróleo e carnes. Outras ações que devem ser demandadas são as boas pagadoras de dividendos, que em parte estão posicionadas no setor elétrico”, afirmou Galdi.