A Azul (AZUL4) fechou o pregão da última segunda-feira em alta de 6,11%, cotada a R$ 16,50. Enquanto isso, Gol (GOLL4) também fechou em alta, com as ações cotadas a R$ 9,72, com uma variação positiva de 4,74%. O otimismo em relação aos papéis do setor aéreo, em linha com os dados positivos do turismo, veio junto com as previsões para os dados de inflação e juros do Boletim Focus desta semana. Segundo o relatório, as projeções para a inflação oficial brasileira saíram de 5,71% para 5,62%, o que também animou o mercado.
O setor aéreo tem passado por maus momentos, desde 2020, com o início da pandemia de covid-19. As perspectivas, entretanto, estão melhores, mas ainda existe, para além dos problemas geopolíticos globais, a política doméstica, que pode, sim, mexer com essas companhias – segundo especialistas.
De acordo com Paulo Luives, assessor da Valor Investimentos, a inflação controlada pode trazer um alívio nos preços para a companhia e para o setor como um todo.
“Você pega, por exemplo, inflação de combustíveis, que é um dos principais custos para as empresas do setor aéreo. Uma queda nos custos dos combustíveis impacta positivamente as margens dessas empresas e, consequentemente, abre espaço para tarifas mais flexíveis. Você pode ajustar melhor o seu preço, para caber melhor no bolso do cliente”, disse Luives.
Além disso, o analista citou que, na ponta da demanda, caso a população tenha seu poder aquisitivo menos corroído pela inflação, pode abrir espaço para o consumo de serviços como o do setor aéreo. E é neste ponto que entra a questão política, segundo Luives.
“Com relação a política, é meio incerto, porque com o Bolsonaro já sabemos um pouco como vai ser o ‘framework fiscal’ (estrutura) que ele vai dar para os próximos anos de mandato. Questão de um teto de gastos flexível, um waiver (renúncia de um recebimento de uma dívida) para determinados gastos extraordinários. Em relação ao Lula, não sabemos qual vai ser o arcabouço fiscal que ele vai dar. Você não sabe nem quem vai ser o ministro da economia, é um pouco incerto”, disse Luives.
Rafael Pastorello, analista de investimentos CNPI-T e aluno da Eu me banco, também segue a linha de Luives e destaca que o cenário para as aéreas é incerto em relação ao ambiente político.
“O setor aéreo é bem complexo, tem margens estreitas, principalmente ligadas com o dólar e o petróleo. Logo, uma variação do dólar por conta de fuga de capital estrangeiro, por exemplo, pode afetar diretamente a margem dessas empresas, o que dificultaria o crescimento nos próximos anos. O governo terá uma influência forte principalmente no que tange às políticas adotadas: se será reformista ou não, se será mais assistencial”, disse Pastorello
De acordo com os especialistas, esses fatores (ligados a política) irão influenciar o desempenho das empresas aéreas nos próximos anos no mercado.
“Com relação a uma possível mudança de governo, acredito que terá influência dependendo de quem sair vencedor nas eleições. Principalmente no tipo de política que cada um adotar, se será mais voltada para o assistencialismo ou mais liberal. Tudo isso vai influenciar a nossa política macroeconômica e no que tange a política monetária e fiscal. O setor aéreo é muito sensível a essas variações, principalmente na taxa de juros”, afirmou Pastorello.
Em entrevista ao jornal “Valor Econômico”, na última segunda-feira (17), o CEO da Latam, Roberto Alvo, afirmou que a recuperação do setor aéreo acontecerá, de fato, em 2024.
O analista da Reach Capital, Khalil de Lima, destacou que a fala de Alvo estava ligada muito mais à dinâmica de margens dessas companhias (como Gol e Azul) do que à queda da inflação. “Acho que a queda da inflação não muda muita coisa. Iria ter mais renda disponível para viajar, mas acho que ele estava se referindo a dinâmica de margens das companhias aéreas, que estruturalmente está abaixo do normalizado, em função do dólar e do custo do QAV, e esses só devem cair mais para final de 2023”, finalizou Lima.