Fortalecido na Bolsa

Setor de frigoríficos deve encarar nova rota comercial em 2025

Ameaças surgem nos EUA e devem forçar as exportadoras do setor de frigoríficos a investir em novos planos para outros mercados

Foto: CanvaPro
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Indicadores econômicos como o dólar em tendência de alta têm provocado uma reavaliação dos investimentos, com os papéis de empresas que ganham nessa moeda podendo ser preferências. Porém, para os exportadores, como é o caso das companhias do setor de frigoríficos, as futuras mudanças na política dos EUA devem forçar novas estratégias de recolocação e fortalecimento em outros mercados. 

O retorno do presidente novamente eleito nos EUA, Donald Trump, promete medidas comerciais protecionistas com as empresas locais, o que é prejudicial às companhias estrangeiras. Para o setor de frigoríficos, uma possibilidade que surge é fortalecer sua presença em mercados como a China e países do Oriente Médio.

“Entre elas, está a diversificação de portfólio de produtos ampliando a variedade de cortes e produtos processados que atendam às preferências locais, como carnes desossadas ou específicas para o preparo de pratos tradicionais, o que pode ajudar a fortalecer a posição nesses mercados”, detalhou Elaine Domenico, especialista em investimentos e sócia da The Hill Capital.

Além disso, mercados como o Oriente Médio têm exigências diferentes, acrescentou Domenico, o que pode exigir investimentos em certificações específicas.

“Garantir essas certificações de forma mais robusta e em larga escala pode proporcionar vantagem competitiva nesses locais”, afirmou.

No acumulado do último mês, as ações de empresas do setor de frigoríficos têm registrado fortes valorizações. A Marfrig (MRFG3) subiu 28,32%, a JBS (JBSS3) avançou 7,98%, a BRF (BRFS3) valorizou 8,29%, enquanto a Minerva (BEEF3) ficou na lanterna do grupo, crescendo somente 1,96% no período.

A China é outra localidade a qual as companhias brasileiras estão encontrando espaço para reforçar seus negócios, com base no aumento da demanda. 

“Investir em campanhas que destacam a qualidade e sustentabilidade da carne brasileira pode aumentar a confiança do consumidor final. Na China, em especial, onde os consumidores valorizam a transparência e qualidade, essa comunicação pode ser essencial para o crescimento”, disse Domenico.

Novas parcerias do Brasil com a China devem beneficiar o setor de frigoríficos 

O governo Lula tem trabalhado em uma série de acordos bilaterais com a China em diversos setores econômicos, especialmente para a visita de Estado do presidente chinês Xi Jinping nesta semana, que chega ao País também para a cúpula do G20, nesta segunda- feira (18) e terça-feira (19).

Na avaliação do diretor de estratégia, planejamento e relações com investidores da Fictor Alimentos S/A, André Vasconcellos, esses acordos têm o potencial de  fortalecer ainda mais as exportações de frigoríficos brasileiros para o mercado chinês, que já se consolidou como o principal destino das carnes bovina, suína e de frango produzidas no Brasil.

“Enquanto o programa oferece oportunidades para acelerar o desenvolvimento econômico e fortalecer laços com a China, também exige uma avaliação cuidadosa de riscos estratégicos e econômicos”, afirmou.

Vasconcellos destacou também que o acesso ao capital da China pode diversificar as fontes de financiamento do Brasil, tornando o País menos dependente de instituições como o Banco Mundial e o FMI (Fundo Mundial de Investimento), além de ampliar a exportação de commodities, alimentos e promover mais cooperação na ciência e na tecnologia.

“A expectativa é que medidas voltadas à facilitação comercial, como a redução de barreiras sanitárias e a ampliação da lista de plantas frigoríficas habilitadas a exportar, sejam elementos centrais dos acordos. Essas ações podem aumentar a competitividade dos produtos brasileiros no mercado chinês, agilizando processos de certificação e reduzindo custos associados ao comércio”, frisou.

No contexto da economia chinesa, a demanda por proteína animal está se expandindo, com impulso do crescimento populacional e mudanças nos padrões de consumo.

“Com uma classe média em expansão, o mercado chinês tende a buscar produtos de maior qualidade e segurança alimentar, áreas em que os frigoríficos brasileiros têm investido nos últimos anos”, disse.

Para as empresas do setor de frigoríficos, será necessário se atentar às exigências técnicas e culturais da China. Além disso, a concorrência com outras grandes economias exportadoras, a exemplo dos EUA e Austrália, deve exigir um posicionamento mais robusto para consolidação da liderança do Brasil nesse mercado.

Commodities

Para o setor de frigoríficos, além do dólar e das condições econômicas nos principais mercados consumidores, as commodities também são uma questão relevante para o desempenho das empresas. 

Elaine Domenico reforçou que fatores climáticos como o fenômeno El Niño, podem afetar diretamente a produtividade das lavouras de grãos no Brasil, insumos utilizados pelas empresas para a alimentação do gado.

“Caso as condições climáticas sejam mais adversas, a oferta de grãos pode ser menor, pressionando o custo desses insumos. Isso eleva o custo da produção de carne e impacta a competitividade dos frigoríficos”, afirmou Domenico.

“Flutuações na produção e preços internacionais de grãos também afetam a competitividade brasileira, especialmente em um cenário de demanda crescente por commodities agrícolas em mercados asiáticos”, acrescentou a especialista da The Hill Capital.

André Vasconcellos destacou que as expectativas no setor agrícola para 2025 são otimistas sobre o avanço da demanda, porém, há incertezas quanto ao potencial de oferta. 

“Para que o Brasil aproveite ao máximo essa oportunidade, será essencial investir em logística eficiente, ampliar a adoção de tecnologias de precisão e monitorar de perto os impactos climáticos”, afirmou 

O diretor da Fictor Alimentos S/A explicou ainda que a previsão para os próximos meses é de um El Niño prolongado, com riscos maiores no Centro-Oeste, mas também  na região do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, principais regiões produtoras de grãos.

“Por outro lado, o agronegócio brasileiro tem investido em tecnologias de mitigação de riscos climáticos, como variedades de sementes mais resistentes à seca e práticas agrícolas que melhoram a retenção de água no solo. Essas inovações podem amenizar parte dos impactos adversos do clima e garantir certo nível de produtividade”, comentou Vasconcellos.

Ele apontou que a demanda internacional terá papel significativo para produções brasileiras, mas reiterou a avaliação de Domenico de que, o mercado global, tanto no setor de alimentos quanto no setor de frigoríficos, deve ser impactado pelas flutuações nos preços das commodities.