O ano começou agitado para o setor de saúde, com os impactos do recente caso de descumprimentos de liminares judiciais pela Hapvida NotreDame (HAPV3), somada ao aumento na portabilidade de carências dos planos e pressões financeiras que as empresas enfrentam. Ainda assim, especialistas se mostram confiantes para o desenvolvimento e investimentos no setor em 2024.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), responsável por regular os planos de saúde, divulgou dados que mostram um aumento nos pedidos de portabilidade de carências dos planos de saúde em 2023. Segundo a agência, o interesse pelo processo cresceu 13,5% no ano.
Contudo, Marcos Novais, superintendente executivo da Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde), afirma que esse número não representa um cenário ruim para os convênios, pois o número de beneficiários também cresceu. “A ferramenta foi criada em 2019 com esse intuito. Estamos no quarto ano de portabilidade, então ele ainda tem muito que evoluir e vai continuar crescendo”, disse ao BP Money.
Os dados da ANS apontam que, em dezembro de 2023, o número de beneficiários em planos de assistência médica chegou a 51.081.018. Enquanto os planos exclusivamente odontológicos atingiram 32.668.175 de assinaturas.
Contudo, Felipe Argemi, sócio-fundador da Santis e especialista em finanças corporativas, vê que o quadro do setor de saúde está “conturbado” e ainda enfrenta a “ressaca da pandemia“.
Para Argemi, as operadoras e seguradoras de saúde e a rede assistencial, que engloba clínicas, laboratórios e hospitais, enfrentam momentos contrários nesse período. Enquanto um lado se beneficia pelo retorno dos procedimentos eletivos, o outro é negativamente afetado.
“Pressionadas por resultados, de um lado a rede assistencial quis repassar aumentos significativos para recuperar o caixa afetado durante a pandemia, por outro lado as Operadoras e Seguradoras de Saúde não aceitavam toda a correção proposta, pois isso estava afetando significativamente os seus resultado, com isso o segmento entrou num momento crítico”, avalia o economista.
Como está o setor de saúde na Bolsa
Segundo Argemi, durante a pandemia, as empresas do setor listadas na Bolsa de Valores foram favorecidas pelas baixas taxas de juros, logo, o aumento das taxas nos últimos anos tem afetado todas as ações, incluindo do setor de saúde.
Recentemente, a revelação de que Hapvida NotreDame vinha negando acesso aos beneficiários, mesmo com liminares judiciais em mãos, abalaram as ações da empresa. Felipe Argemi menciona que apesar do receio do mercado sobre um possível efeito cascata, a situação sobre as ações da Hapvida já estão voltando ao patamar normal.
“O mercado tem entendido que a reação inicial pode ter sido exagerada e já existem algumas corretoras recomendando os papéis da Hapvida”, disse.
Um ponto convergente nas análises de Novais e Argemi é quanto à visão positiva para o futuro das empresas do setor de saúde no mercado. Novais diz que o setor continua investindo em novas clínicas, laboratórios, hospitais e exames, pois a saúde é uma demanda latente.
“Essa é uma característica do nosso segmento saúde, ela pode não ter preço para todo mundo, mas ela tem um custo e depende de um investimento muito alto”, conclui. De acordo com ele, o setor prevê crescimento e projeta que o ano de 2024 se encerre com mais de 52 milhões de beneficiários cobertos.
Já Argemi reforça que a Agenda Regulatória 2023-2025 proposta pela ANS, unida às perspectivas de redução na taxa de juros, podem ser o respiro que o setor de saúde necessita. Segundo ele, isso pode reduzir a pressão sobre as Operadoras e Seguradoras de Saúde e beneficiar o setor de saúde como um todo.
“Apesar do momento desafiador, acredito que o setor vai encontrar sua eficiência novamente no médio prazo, pois é um segmento fundamental não só para economia, como para o bem-estar da população”, conclui o analista.
Judicialização dos planos de saúde
Marcos Novais chama atenção a outro ponto na discussão sobre o caso da Hapvida. Para ele, a judicialização da saúde no Brasil é um tema importante que já está em atraso. “Temos, às vezes, pessoas com a mesma doença, com o mesmo diagnóstico, fazendo tratamento diferente. É um sinônimo de que precisamos repensar o modelo”, avalia.
Segundo ele, é preciso trazer um grupo de apoio técnico para ajudar em situações de acesso à cobertura que precisam ser determinadas em juízo.
“Chegamos na ordem discutir o judicialização de saúde, não podemos esquecer que o setor lida com vidas, com a saúde. Ele [o setor] não pode ter essa utilização, às vezes, de um ativismo judicial para ter acesso àquilo que não é o mais adequado para o paciente. Tem muita coisa para discutir”, concluiu Novais.