Sem qualquer surpresa, o setor financeiro foi destaque na lista dos bons desempenhos do segundo trimestre de 2024. Dos dez maiores lucros do período, sete são referentes a empresas do segmento, segundo levantamento da consultoria Elos Ayta, divulgado pelo Valor.
O Itaú Unibanco (ITUB4) ficou em terceiro lugar, atrás apenas da Vale (VALE3) e da Oi (OIBR3). Além disso, o banco é responsável também pela maior parte da sexta colocada da lista, a holding Itaúsa (ITSA4), que tem no Itaú sua maior posição.
Os demais são: Banco do Brasil (BBAS3), em quarto lugar, Bradesco (BBDC4), em quinto, Santander (SANB11), em sétima colocação, BTG (BPAC11), em oitavo lugar e, na décima posição, a empresa de seguros BB Seguridade (BBSE3).
Em 2023, o lucro líquido dos bancos subiu para R$ 144,2 bilhões, alcançando novo recorde histórico.
Mas, afinal, o que explica a aparição frequente de empresas do setor financeiro entre os maiores lucros? Ao BP Money, o economista Fabio Murad, sócio da Ipê Avaliações, contou os fatores que explicam os bons desempenhos.
“A ampla base de clientes e o fato de oferecerem uma variedade de produtos financeiros, o que lhes permite gerar receitas de diversas fontes, explicam. Além disso, se beneficiam de economias de escala e têm a capacidade de se adaptar rapidamente às mudanças econômicas. A resiliência do setor também se deve à sua capacidade de reter clientes e à pulverização de seus serviços”, afirmou Murad.
Ainda de acordo com o economista, o setor foi um dos responsáveis pelo bom desempenho do Ibovespa no período.
“Outros fatores devem ser considerados para uma análise mais completa, no entanto, é importante notar que o setor financeiro, especialmente os grandes bancos, tem sido historicamente um dos pilares do Ibovespa”, destacou Fábio.
Segundo ele, instituições financeiras como Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Caixa Econômica frequentemente aparecem entre as maiores gestoras de fundos do Brasil, o que sugere sua relevância para o mercado.
Taxa de juros e expectativas para o setor financeiro
Acilio Marinello, sócio-fundador da Essentia Consulting, chama atenção para um fator inerente ao segmento: a taxa de juros. Segundo ele, este é, provavelmente, o principal fator macroeconômico a alavancar os resultados dos bancos.
“A taxa básica de juros está elevada. Então, os bancos que têm conseguido administrar bem as suas carteiras de crédito, tendo uma boa gestão de risco, reduzindo as perdas e sendo mais assertivos na concessão de crédito têm conseguido margens muito grandes”, disse Acilio.
Portanto, na avaliação de Marinello, juros altos por mais tempo e um possível aumento na taxa Selic, como já foi sinalizado pelo BC, pode ser um impacto positivo para os bancos.
O especialista chama atenção, porém, para o outro lado da moeda no que diz respeito ao aumento da taxa de juros. Segundo ele, quanto o crédito fica mais caro, também aumenta o risco de inadimplência.
“O efeito negativo para os próximos trimestres é: será que a população vai continuar tendo capacidade de honrar os seus compromissos: será que a inadimplência vai aumentar? Os bancos precisam estar muito atentos”, afirmou o sócio-fundador da Essentia Consulting.
Além disso, Fabio Murad destacou outras variáveis que podem impactar os resultados, como a política monetária dos EUA, o fluxo de capital para mercados emergentes e a situação fiscal no Brasil.