Criada em 2018, a startup Blend Edu, especializada em diversidade e inclusão, planeja crescer 100% e impactar mais de 50 mil pessoas em 2023. O objetivo da companhia é que a temática saia do campo do discurso e gere transformações reais nos ambientes organizacionais. Perto de completar cinco anos, a startup já presta serviços para grandes players do mercado, como OLX, Cielo (CIEL3), Ebanx, Dasa (DASA3) e Arezzo (ARZZ3).
“Tem uma frase que é da vice-presidente de diversidade do Netflix, a Vern? Myers, que é: diversidade é convidar para festa, inclusão é chamar para dançar. Acho que, no final das contas, o que a gente busca com o nosso trabalho, não é só que mais pessoas sejam convidadas, mas que elas se sintam tão seguras e confortáveis de ser quem elas são, a ponto de que elas se sintam muito livres para dançar, expressando toda a identidade delas e se sintam parte”, disse.
No final do ano passado, a Blend Edu participou do programa de investimentos Shark Tank Brasil e foi a primeira startup, em sete temporadas, que fechou com todos os investidores. Para 2023, a CEO Thalita Gelenske Cunha contou ao BP Money que a empresa pretende aumentar a receita através do lançamento de dois novos produtos em cada semestre. O primeiro é relacionado à pesquisas-censos de diversidade.
“A gente tem visto um crescimento muito grande no volume de empresas que implementam pesquisas-censos. Esse é um produto que a gente já oferece, mas hoje ele não está tão automatizado. Com os aprendizados que nós tivemos ao longo dos anos, a gente viu esse potencial de utilizar algoritmos para automatizar algumas etapas do processo”, explicou.
Já o segundo, que ainda está em desenvolvimento, é uma plataforma focada em conectar talentos de grupos minorizados, como pessoas negras, trans, mulheres, Pessoas com Deficiência (PCD), com oportunidades de desenvolvimento de carreira. A projeção é que o lançamento ocorra em outubro deste ano.
Diagnóstico, treinamentos e produtos digitais
“O primeiro pilar onde nós atuamos é o diagnóstico. Isso envolve pesquisas com os colaboradores para mapear perfis, dados, para entender como está o índice de representatividade daquela empresa. A partir desse diagnóstico, entram os serviços de consultoria, onde a gente ajuda a empresa a desenhar estratégias de diversidade. Nesse pilar, a gente está sendo muito demandado, porque as empresas estão entendendo a necessidade em investir nisso”, explicou.
Já o segundo pilar, Thalita contou que é a parte de treinamentos, palestras e workshops, voltados para a parte de aprendizados. Nessa parte, a Blend Edu desenvolve cursos e materiais personalizados para as necessidades daquela empresa.
“A gente fala de diversidade a partir de um guarda-chuva mais amplo, mas dentro a gente vem trazendo questões específicas sobre gênero, raça, inclusão de Pessoas com Deficiência (PCD), de pessoas LGBTQIA+. Tem muitas empresas que trabalham focando só em um ou outro, mas o diferencial da Blend é que a gente trabalha dessa maneira interseccional”, comentou.
Com 12 colaboradores espalhados no Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Porto Alegre (RS), Recife (PE) e São Luiz (MA), a startup também conta com uma rede de pessoas facilitadoras. Dependendo da demanda do cliente, os treinamentos são personalizados. Como uma capacitação para explicar o que a lei sobre assédio, por exemplo, nesse caso a Blend Edu busca parcerias com especialistas jurídicos.
Por fim, está o terceiro pilar de produtos digitais. A consolidação desse serviço no portfólio derivou-se da necessidade de impactar mais regiões do Brasil. Nesse segmento, há o Diversidade SA, onde as empresas pagam uma assinatura anual para se tornar parte de uma comunidade. Alí, elas têm acesso a conteúdos, curadorias, materiais e fóruns de discussão para trocar conhecimento entre empresas.
“Como parte dessa estratégia digital, a gente também consegue fazer palestras com pessoas muito conhecidas, como já fizemos com Lázaro Ramos, Emicida, Drauzio Varella, Pequena Lo. Esse é um exemplo de como usar a tecnologia para construir uma comunidade e conseguir atingir um número muito grande de pessoas”, disse a CEO.
História da Blend Edu
A história da empresa começa muito antes de sua criação. Em 2011, a recifense Thalita Gelenske Cunha trabalhava em uma grande empresa e se sentia desconfortável ao ver que a pauta não era discutida no ambiente de trabalho. Muito pelo contrário, havia preconceito de algumas pessoas, o que lhe gerava desconforto.
“Nesse período, mesmo que eu já me identificasse enquanto uma mulher lésbica, eu não me sentia confortável para falar sobre isso no ambiente de trabalho, porque não era um tema discutido, as pessoas não valorizaram a diversidade. E eu ouvia muitos comentários machistas, racistas, homofóbicos e capacitistas”, explicou.
O cenário mudou quando chamaram ela para participar de um projeto de diversidade e inclusão na empresa. Alí, ela viu uma oportunidade de aprendizado e se apaixonou pela temática. Anos depois, em 2015, ela começou a pensar sobre como poderia impactar mais empresas, além da que ela estava.
Em 2018, ela se inscreveu em um programa do governo americano de inovação, criado pelo ex-presidente Barack Obama. A partir dali, ela desenvolveu a ideia e começou a perceber que outras pessoas se interessavam pelo seu projeto. “Desse movimento, eu criei coração e oficialmente fiz essa transição. Pedi demissão da empresa onde trabalhava e me dediquei full time a Blend Edu”, relembrou.
A Blend Edu é caracterizada como uma startup HRtech e ESGtech. A primeira, por atuar na área de tecnologia em voltadas para a área de Recursos Humanos. Já o enquadramento como ESGtech é por estar conectada com a agenda ESG (Environmental, Social and Governance), ao pensar em diversidade.
“A diversidade está muito conectada com a perspectiva do S, que é o social, mas também do G, de governança. Da gente pensar se os modelos de tomadas de decisão, se a própria composição do conselho de administração, é diverso”, explicou a CEO.