Na Taurus (TASA4), não mirar o Brasil foi tiro certo

Para especialistas, impactos negativos da política local devem ser minimizados por receita no cenário estrangeiro

Em seu primeiro dia efetivo de governo em 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou um decreto que revoga normas que facilitavam o acesso a armas e munição, cumprindo o que disse no dia em que venceu as eleições em 2022. O presidente afirmou, em seu primeiro discurso como eleito, que era hora de “baixar as armas que não deveriam ter sido levantadas”. A fala e, agora, o decreto deveriam ter um efeito negativo sobre as ações da Taurus (TASA4), mas não é o que está acontecendo. 

Isso pode ser explicado, segundo especialistas, pelo tiro certo que a Taurus deu em não depender somente do Brasil para sua performance, o que foi fundamental para a empresa, como explica Sidney Lima, analista da Top Gain.

“Essa receita proveniente de exportação e afins tende a trazer uma maior previsibilidade, minimizando os impactos negativos originados no mercado local, já que as vendas para CACs [colecionador, atirador desportivo e caçador] têm um impacto marginal se comparado ao montante total de vendas da empresa”, disse Lima. 

A maior fabricante de armas de fogo do Brasil passou, em 1981, a distribuir seus produtos também nos EUA, com a Taurus International Manufacturing Inc, em Miami, na Flórida. A internacionalização da companhia ganhou força em 2012, com a compra da Heritage. Segundo a Taurus, essa aquisição fortaleceu a empresa no mercado dos EUA. 

De acordo com Guilherme Gentile, head de análise da Dividendos.me, o Brasil, hoje, tem pouca representatividade na receita total da Taurus.

“Esse percentual normalmente é 20%, mas nos últimos nove meses de 2022 chegou a 29% desse pedaço do Brasil. Os CACs representam cerca de 30% das vendas no Brasil e cerca de 6% do total da receita da Taurus, ou seja, o impacto em si seria baixo na empresa. No pior dos casos, teríamos uma queda de 6% na receita da empresa”, afirmou Gentile. 

A Taurus conta, atualmente, com três plantas industriais. Duas estão localizadas na região Sul do Brasil, no Paraná e no Rio Grande do Sul. A terceira está na Georgia, nos Estados Unidos.

Brasil pode ter batido recorde de vendas de armas em 2022?

Nos EUA, em 2020, a intenção de compra por armas de fogo bateu recorde em 2020, com a entrada de Joe Biden no poder. De janeiro a setembro de 2020, houve um volume recorde de 15,5 milhões nas intenções de compra de armas no território norte-americano. 

Para Malek Zein, analista de ações da casa de análises do TC, isso deve se repetir no Brasil. 

“O governo aqui também se propõe a atacar as liberdades individuais dos cidadãos de comprar armas. O que esperamos é uma corrida muito grande por parte dos civis para comprar mais armas, o que levaria também a maior venda da história no Brasil no ano de 2022. Vale lembrar que os anos de 2020 e 2021 já foram recordes”, disse Zein.

Zein destacou que o último trimestre de 2022 e o primeiro trimestre deste ano devem ser muito fortes em vendas. “Para os trimestres à frente, as vendas devem reduzir a depender de o quão severas serão as restrições”, afirmou o especialista.

Para Sidney Lima, da Top Gain, o mercado tem sido muito especulativo em relação a Taurus, mas as ações não devem sofrer tanto com as novas regras do governo em relação ao armamento.  

“Convenhamos que durante o governo Bolsonaro a empresa navegou em campo tranquilo, já que o ex-presidente sempre se posicionou favorável ao armamento. É natural que o mercado se assuste, agora, com o decreto de Lula, contudo já era um movimento esperado pela maior parte dos investidores, já que o atual presidente critica veementemente as regras quanto ao processo de concessão das licenças”, disse Lima. 

As ações da Taurus (TASA4) acumulam alta de pouco mais de 30% em 2023, até o pregão da última terça-feira (31).

Acesse a versão completa
Sair da versão mobile