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A taxação de dividendos prevista para começar em 2026 já está redesenhando decisões de empresas e de investidores na B3. Antes mesmo da vigência da nova regra, executivos e analistas veem uma “corrida” por proventos, ajustes em políticas de distribuição e risco de perda de fôlego no mercado de capitais brasileiro.

Danilo Coelho, economista e especialista em investimentos e MBA e Finanças pela FBNF (Faculdade Brasileira de Negócios e Finanças), resume o movimento inicial:

“Agora a maior parte das empresas estão cogitando fazer uma antecipação de pagamento de proventos, então isso pode gerar um fluxo maior de pagamentos e mais interesse dos investidores agora, num curto prazo, de se posicionar para receber esses dividendos extraordinários”.

Essa dinâmica de antecipação cria um impacto da taxação de dividendos no mercado que vai além do calendário: afeta preço, fluxo e, principalmente, a forma como o investidor enxerga a Bolsa como geradora de renda.

Taxação de dividendos e impacto na B3

No curto prazo, a taxação de dividendos na B3 tende a conviver com um volume alto de proventos.

Matheus Mattos, da mesa de operações da Guardian Capital, descreve assim: “No curto prazo acredito que o mercado brasileiro (B3) experimentaria um fluxo extraordinário de caixa devido à ‘corrida’ das empresas para antecipar a distribuição de proventos antes da vigência da nova lei em 2026”.

De acordo com ele, esse movimento funciona como um “amortecedor de preço” para o mercado de ações, sustentando o Ibovespa e “mascarando a redução do yield líquido futuro”.

Ou seja, o investidor recebe mais agora, mas precisa recalibrar a régua de retorno depois que a tributação de dividendos 2026 entrar em vigor.

Felipe Sant’Anna, analista de investimentos da Axia Investing, vai na mesma linha ao avaliar o período de transição: “No curto prazo não creio em uma mudança sensível de direção nos ativos da B3, porque a maioria das empresas já está criando um calendário de dividendos para 26, 27 e 2028, ainda isento do novo imposto”.

Ele lembra ainda que “o fluxo deve continuar forte em caso de corte de juros nos EUA, por conta da diferença de prêmio aqui no Brasil”.

Setores mais afetados na Bolsa

Quando o assunto são os setores mais afetados por dividendos, os especialistas convergem. São os papéis conhecidos por geração constante de caixa e estratégia de dividendos para pessoa física: energia elétrica, mineração, petróleo, bancos, saneamento e telecomunicações.

Coelho destaca: “Os setores mais afetados são os que você já tem um nível de estabilidade maior e uma recorrência de pagamento de proventos. Então, entraria aí o setor de minério de ferro, principalmente o setor de energia, e bancos também, que têm uma recorrência de pagamento de proventos muito alta”.

Mattos classifica esses segmentos como as “vacas leiteiras” da Bolsa: “Setores que tradicionalmente possuem alta geração de caixa e baixo reinvestimento, resultando em elevadas taxas de distribuição de proventos. Destacam-se Energia Elétrica, Mineração e o setor Financeiro. A taxação incide diretamente sobre a principal fonte de retorno desses ativos”.

Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, amplia o mapa: “Os mais afetados seriam os setores de energia, saneamento, bancos e telecomunicações, justamente os que se destacam pelo pagamento consistente de dividendos”. Para ele, ações de crescimento podem ganhar espaço ao reter lucro e reinvestir.

Renda variável, pessoa física e isenção

A pergunta que chega na ponta da tela do home broker é direta: a renda variável perde espaço frente à renda fixa após a taxação de dividendos?

Para Coelho, a resposta é clara: “Sim, pode reduzir bastante a atratividade da renda variável, até porque o próprio ativo, a própria ação já tem o imposto de 15%. A grande atratividade da renda variável era na questão de receber os proventos isento de imposto de renda”.

Ele lembra que, nesse novo cenário, ativos como LCI, LCA, CRIs, CRAs, debêntures incentivadas e fundos de infraestrutura mantêm isenção e podem disputar o mesmo investidor que hoje olha para carteira focada em dividendos.

Mattos chama atenção para o recorte de renda: “A alíquota de 10% afeta primariamente o investidor de alta renda (Pessoa Física) que recebe mais de R$ 50 mil mensais em proventos”.

Para esse grupo, o impacto da taxação de dividendos no mercado tende a ser mais forte, com migração de capital para ações de crescimento e estratégias baseadas em ganho de capital de longo prazo, inclusive no exterior.

Sant’Anna, por outro lado, pondera que a maioria dos investidores pessoa física permanece dentro da isenção de dividendos até 2025 e mesmo depois do início da nova regra: “Para o investidor PF, pouca coisa muda, pois a grande maioria recebe dezenas ou centenas de reais em dividendos mensais, ainda dentro da isenção prevista na regra”.

Como empresas devem reagir

Do lado das companhias, a expectativa é de revisão de política de proventos e uso mais intenso de mecanismos alternativos. Coelho aponta dois caminhos principais: “Muitas empresas podem começar a rever política de distribuição de dividendos, talvez reter alguns dividendos e trabalhar mais com recompras de ações”.

Ele também vê espaço para aumento do uso de juros sobre capital próprio (JCP): “Algumas empresas que não trabalham com pagamento de juros sobre capital […] podem começar a fazer sentido e começarem a distribuir no lugar de distribuir dividendos que antes eram isentos”.

Mattos concorda: “A principal resposta corporativa é a intensificação do uso de Juros sobre Capital Próprio, pois o JCP é uma despesa dedutível para a empresa, ao contrário do dividendo tributado. Isso chega ao investidor como uma alteração na composição dos proventos”.

Lima ressalta o efeito prático para quem investe: “É provável que muitas empresas revisem suas políticas de distribuição de lucros. Para o investidor, isso significa que o rendimento esperado pode mudar, e o histórico de dividend yield deixa de ser uma garantia”.

Sant’Anna resume a lógica de adaptação: “As empresas tendem a criar novos mecanismos de geração de valor aos acionistas, como recompra de ações, valorização por entrega de resultados maiores, retenção de caixa, etc.

No mercado financeiro não tem ‘bobo’, as empresas devem desenvolver, legalmente, novos caminhos que evitam taxas maiores”.

Riscos para o mercado de capitais no longo prazo

No debate de longo prazo, a visão dos quatro especialistas converge para um ponto central: a forma como a tributação de dividendos 2026 será implementada e compensada define se o mercado de capitais brasileiro ganha profundidade ou perde tração.

Coelho alerta para um risco concreto de fechamento de capital: grandes acionistas podem preferir estruturas fora da Bolsa:

“A maior parte das empresas, quando elas estão em Bolsa, têm que responder a diversos investidores. O que pode ocorrer é muitos investidores grandes optarem por tirar a empresa de bolsa, recomprar todo o capital dela, fechar o capital”.

Ele também aponta o uso de holdings para ajustar a forma de gasto: “Ao invés de receber o provento, que agora vai ser tributado, e usar ele para gastar, gasta dentro da estrutura da holding e aí coloca tudo como uma despesa integral da empresa que ele tem”.

Mattos reforça que a chave está na compensação tributária do lado das empresas: “O risco de prejuízo ao desenvolvimento do mercado de capitais é real se a medida não for acompanhada da prometida e integral redução da alíquota. Sem essa compensação, o Brasil terá uma tributação dupla elevada, perdendo um diferencial competitivo”.

Entretanto, se as empresas ajustarem políticas de proventos, aumentarem eficiência operacional e o investidor se adaptar a essa nova relação entre dividendos, preço e risco, a taxação de dividendos tende a ser absorvida ao longo do tempo.

Em suma, a diferença agora é que a construção de carteira passa, inevitavelmente, por mais comparação entre Bolsa, crédito estruturado e renda fixa isenta.