Wall Street em queda

Temor fiscal derruba Ibovespa e leva o dólar a novo recorde histórico

O Ibovespa fechou a sessão desta quarta-feira (18) com baixa de 3,15%, aos 120.771,88 pontos; o dólar bateu R$ 6,26, maior valor nominal histórico

Ibovespa / Foto: CanvaPro
Ibovespa / Foto: CanvaPro

O Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, fechou a sessão desta quarta-feira (18) com baixa de 3,15%, aos 120.771,88 pontos, esta foi a pior queda em mais de 2 anos, desde a desvalorização de 3,35% em 10 de outubro de 2022. O dólar comercial subiu 2,82%, a R$ 6,26, maior valor nominal histórico.

O enredo que embala o mercado financeiro nas últimas sessões se repetiu mais uma vez, com os investidores tendo em vista a possibilidade do pacote fiscal não ser aprovado ainda este ano e retirando suas apostas. A decisão do Fed em reduzir os juros nos EUA também influenciou o Ibovespa e o dólar.

O Gráfico DXY, índice do dólar nos EUA, fechou com  alta de 0,90%, a US$ 107,92.

As propostas que integram o pacote fiscal do governo foram enviadas ao Congresso há algumas semanas, no formato de um PL (Projeto de Lei), PLP (Projeto de Lei Complementar) e uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição). 

O PLP foi aprovado na noite de terça-feira (17), o que animou o mercado e fez o Ibovespa, subir, no entanto, nesta sessão o temor tomou conta e os investidores acreditam que não haverá tempo hábil para que todas as propostas passem pelo Congresso Nacional até o recesso parlamentar que inicia na sexta-feira (20).

Idean Alves, planejador financeiro e especialista em mercado de capitais, indicou também que a economia de R$ 70 bilhões em 2 anos, prevista pela equipe econômica do governo federal através do ajuste fiscal não satisfará o mercado.

“Esse “morde e assopra” tem incomodado o mercado. Temos o pacote de 70 bilhões de reais em economia de gastos e a isenção de IR na faixa de até 5 mil e vejo como antagônico se cortar de um lado, e abrir mão de receita do outro”, avaliou.

Nesse âmbito, um outro receio que toca os agentes financeiros é de que ao passar pelo Congresso as propostas de contenção de gastos sejam “desidratadas”, ou seja, que os parlamentares façam alterações que mexam com os cálculos de economia previstos pelos Ministérios da Fazenda e Orçamento.

Sobre isso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que esteve reunido com o presidente do Congresso, Rodrigo Pachego, durante a tarde, afirmou que o governo está fazendo sua parte e que confia que as medidas não serão “desidratadas” no Legislativo.

“Até aqui [as mudanças nos projetos] não são de grande monta. Nós estamos confiantes que não vai haver desidratação pelas conversas mantidas nesses dias”, salientou Haddad.

Além disso, a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2025, já aprovada no Congresso, mesmo obrigando o governo a se manter focado na meta de déficit zero, ainda manteve a proteção às “emendas pix”, o que não agrada os especialistas.

“Todos querem economizar,  “pero no mucho”, e isso passa a mensagem para os investidores de que o comprometimento fiscal não é sério, é para inglês ver. E para não correr tanto risco assim, os estrangeiros preferem ganhar menos, mas de forma um pouco mais “segura” em outros locais como EUA, Europa, África do Sul, Índia, entre outros”, disse Alves.

Em paralelo a esse cenário, o Fed (Federal Reserve) decidiu cortar as taxas de juros dos EUA em 0,25 ponto percentual, ficando na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano. 

No entanto, a autoridade monetária projetou que as próximas reuniões de 2025 devem vir com um ritmo de redução menor, por conta da pressão que a inflação segue exercendo na economia, que ainda está aquecida, e também pelo temor dos efeitos que as novas políticas econômicas de Donald Trump podem causar ao país.

Todo esse ambiente levou o dólar a renovar seu recorde histórico, em um nível que “parece o novo normal”, segundo Alves, com algumas empresas já prevendo a moeda em R$ 6,40 no ano que vem, ao passo que “a ‘profecia’ que parecia inimaginável está se realizando”.

“O Brasil precisa da mudança estrutural, nesse caso corte de gastos para passar credibilidade fiscal, e não medidas paliativas”, finalizou.

A Marfrig (MRFG3) liderou os ganhos do Ibovespa, avançando 1,81%. Logo atrás, MRV (MRVE3) e Santos Brasil (STBP3) registraram altas de 1,54% e 0,54%, respectivamente.

Já na ponta negativa, CVC (CVCB3) liderou as perdas, caindo 17,11%. Em seguida, vieram Azul (AZUL4) e CSN (CSNA3), com perdas de 11,58% e 10,13%.

Altas e Baixas do Ibovespa: Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4) caem mais de 2%

No setor petrolífero, as ações da Petrobras (PETR3;PETR4) recuaram 2,23% e 2,58%, respectivamente. Prio (PRIO3) desvalorizou 3,39%.

Entre as mineradoras e siderúrgicas, a Vale (VALE3) caiu 2,32%. Gerdau (GGBR4) registrou baixa de 3,73%. Usiminas (USIM5) desvalorizou 3,98%.

No setor bancário, Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3) operaram com baixas de 2,26% e 2,33%, respectivamente. Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11) seguiram com desvalorizações 4,34% e 4,27%, em sequência.

Entre as varejistas, Magazine Luiza (MGLU3) caiu 11,24%. As ações das Lojas Americanas (AMER3) recuaram 10,00%. Casas Bahia (BHIA3) desvalorizou 6,07%.

Índices do exterior fecharam em divergência

Os principais índices europeus tiveram desempenhos positivos nesta quarta-feira (18). O índice DAX, de Frankfurt, valorizou 0,04%, enquanto o CAC 40, de Paris, avançou 0,26%. Já o índice pan-europeu Stoxx 600 subiu 0,16%. 

Em Wall Street, os índices S&P 500 e Nasdaq recuaram 2,95% e 3,56%, respectivamente. Já o Dow Jones caiu 2,58%.