Após a divulgação da Americanas (AMER3) sobre as inconsistências em lançamentos contábeis no valor de R$ 20 bilhões, as ações da varejista despencaram. Para Sidney Lima, analista da casa de análises Top Gain, o fato da companhia ter “ocultado a informação” faz com que seja difícil uma reconstrução da confiança do investidor e que este pode ser o momento de vender.
“Se eu tivesse ações da Americanas, eu pularia fora do negócio, acreditando que o mercado fica muito manchado com essa notícia”, enfatizou. Ele ainda acrescenta que poderá haver um movimento de saída de fundos de previdência que têm grande parte da alocação dos seus recursos na empresa.
No fechamento do pregão desta quinta-feira (11), pós-leilão, o papel estava cotado a R$ 2,72, uma queda de -77,33%. O sócio-gestor do Ártica Long Term FIA, Ivan Barboza, comenta que a decisão de vender as ações depende do apetite do investidor.
“Não há muito o que fazer para preservar o capital que está investido lá. Será muito difícil recuperar algo além de uma fração do valor original. A decisão de vender agora ou esperar para ver se a empresa encontra algum caminho de recuperar parte de seu valor, depende do apetite de risco de cada investidor”, explicou.
Saída de Rial da Americanas foi ruim
Para analistas, é consenso que a saída de Sérgio Rial da presidência trouxe desconfiança ao mercado.
“A renúncia de Sérgio Rial piora ainda mais a situação, porque a empresa já enfrentava desconfianças no mercado dada a desaceleração do varejo eletrônico, em meio ao cenário de juros altos no Brasil. E essa saída complica um pouco mais, porque vai ficar uma governança dispersa dentro da empresa”, disse o fundador e CEO (presidente) da plataforma de investimentos Guru, Felipe Catão.
Lima ainda afirma que, em sua visão, a varejista perdeu credibilidade no mercado. “Eu não vejo mais perspectivas para a companhia. Umas das coisas que os investidores mais prezam está diretamente relacionado à credibilidade e a transparência das informações que são prestadas”, disse.
Rombo de R$ 20 bi
O cenário, segundo os analistas, é ainda nebuloso, mas devido ao alto valor da inconsistência no balanço, é um sinal preocupante. Segundo Lima, é preciso olhar para o valor de mercado da companhia, que está avaliada em cerca de R$ 10,8 bilhões. “Vamos supor que provem essas inconsistências de R$ 20 bilhões, teria que ter a venda de duas Americanas para pagar a dívida dela, então, isso é algo verdadeiramente muito grave.”
Barboza também comenta sobre o valor do rombo representar 1,9 vezes o valor da Americanas, o que seria “grande o suficiente para quebrar a empresa”. De acordo com o especialista, o mercado como um todo está receoso “se apenas as Lojas Americanas estavam adotando essa prática contábil condenável ou se podem surgir rombos de natureza semelhante em outras empresas”, disse.
Para Catão, já é possível ver os analistas das principais casas colocando nas recomendações a revisão do preço-alvo dos papéis. “Tiveram um ou outro ali que rebaixaram o preço, mas dada a falta de informações mais concretas, o pessoal ainda está colocando as análises sobre revisão”, comentou.
Ex-CEO da Americanas
Sérgio Rial é um economista e banqueiro brasileiro, que ocupou o cargo de presidente executivo do Santander Brasil por seis anos e, depois, assumiu a posição de presidente do Conselho de Administração do banco. Um nome conhecido do mercado, que trouxe boas expectativas para a varejista, mas permaneceu menos de dez dias no cargo de CEO.
Rial afirmou, nesta quinta-feira (12), em conferência com investidores, que a companhia “tem mais dívida do que o imaginado pelo mercado”. Segundo ele, a decisão de levar à tona as inconsistências no balanço contábil da empresa foi por “prezar pela transparência das informações”. Contudo, ele destacou que “não está em posição para dizer se houve fraude”.