O Conselho Monetário Nacional (CMN) determinou, na quinta-feira (21), um limite máximo de 100% para as taxas de juros no rotativo do cartão de crédito, incidindo sobre dívidas não quitadas pelos usuários.
Na visão dos analistas ouvidos pelo BP Money, essa é muito positiva, no entanto, não tem um efeito efetivo na economia e na resolução do problema. “Tem seu lado positivo, mas somente ela, não resolve”, destaca o educador financeiro da Martello EF e especialista em investimentos, Thiago Martello.
“Parece muito positivo para o bolso da população, afinal o valor se torna menor. Só que tem um efeito muito pesado na economia”, afirmou o economista, planejador financeiro e fundador da Eu me banco, Fabio Louzada.
Martello recorda que, anteriormente, o valor da dívida no rotativo anual poderia chegar a até 400%, e normalmente chegava. “O lado positivo é que o endividado não correrá mais o risco de fazer com que a dívida dele se multiplique por 4, e sim no máximo por 2”, afirmou.
“A grosso modo, melhorou bastante, é uma medida muito factível e plausível, não tem nenhuma contestação quanto a isso”, destacou o especialista em investimentos.
No entanto, ressaltou que apenas isso não resolverá o problema. “Se as pessoas se endividavam mesmo chegando com a dívida a 400%, imagina agora chegando a 100%, a população continuará se endividando. Se a pessoa estava disposta a entrar em dívida podendo multiplicar a 4x, agora pode encorajar mais ainda”,
“Portanto, definitivamente, apenas reduzir o tamanho deste juros não resolve, é apenas uma medida paliativa, ‘é um remédio para o sintoma e não para a causa'”, acrescentou Martello.
Impactos da medida na visão dos analistas
Louzada destacou que, com a nova medida, os bancos terão que tomar decisões muito mais racionais, e afetará quem tem menor capacidade de pagamento. “Portanto, quem tem menor capacidade de pagamento provavelmente não vai conseguir ter mais acesso ao cartão de crédito, isso porque, é um risco muito grande para o banco a pessoa não pagar, os juros de 100% não vão compensar para o banco”, explicou.
“É um risco muito grande para o banco se essa pessoa não pagar, os juros de 100% não vão compensar para o banco. Então esse é o primeiro fator. As pessoas de capacidade de pagamento baixa não vão ter mais acesso ao cartão de crédito”, acrescentou.
Um outro fator citado por Louzada, é o fato da medida forçar o banco a ter que entender mais como dar o crédito. “Sabemos que são poucos os profissionais no mercado que sabem analisar um crédito, além de muitos gaps em ferramentas de crédito. Eles terão que aprimorar ainda mais, treinar pessoas para não só olhar para o quantitativo que o banco analisa, como Serasa, quanto a pessoa ganha, quanto gasta por mês. Isso é quantitativo”, afirmou.
Por outro lado, na visão de Martello, o que resolveria esse problema de maneira definitiva, é a educação financeira na base, “o caminho é base é ensinar esses jovens e consequente pensar em programas para quem já saiu da escola como lidar com isso de forma estruturada. Fazer com que os bancos façam, de fato, a oferta do crédito consciente, hoje em dia, não tem isso”.
O governo acerta em uma parte, porém, quem vai sofrer vão ser as pessoas com menor capacidade de pagamento. O caminho é de fato educar para as pessoas se atentarem que se elas atrasarem o cartão, vai ser muito ruim para elas. O ideal é evitar criar travas”, finalizou Louzada.