O risco de geadas nas plantações de café arábica movimentou os mercados ao longo desta semana. A temporada de frentes frias costuma ficar mais forte em julho e agosto, mas foi antecipada para o mês de maio. Na última segunda-feira (16), os preços da safra para entrega em julho subiram 5,8%. Especialistas ouvidos pelo BP Money alertaram para os riscos de geadas, mas também minimizaram os efeitos climáticos para esta época do ano.
“O café já vem de uma quebra de safra por conta das geadas de julho e agosto do ano passado, que prejudicaram os ganhos deste ano. Agora estamos às vésperas do início da colheita e uma nova geada poderia atrapalhar muito a produção, mas esse risco está se dissipando”, afirma Alessandro Delara, analista de mercado da Pine Agronegócios
Contudo, Delara alerta que caso as mudanças climáticas ocorram em áreas de altitude elevada, onde está a grande parte da produção de café, e o produto ser queimado, poderemos ter um déficit acima de 2 milhões de sacas no mundo.
Os preços do café não devem mudar muito, caso as geadas ocorram em regiões de baixa altitude. “Os preços certamente irão para cima em caso de mudanças climáticas em produções que se encontram em altas altitudes, mas o mercado não olha só o lado da oferta, mas também o da demanda e questões inflacionárias nos EUA e na União Europeia podem prejudicar”, acrescenta o analista de mercado da Pine Agronegócios.
“Se a demanda permanecer estável da maneira que está agora e a geada impactar a produção, o preço do café pode ficar acima dos 250 centavos de dólar por libra/peso.”, afirma Delara. O analista acredita que no mês de junho será possível avaliar de forma precisa o preço do café, por conta do início da temporada de colheita.
“O café compete com o petróleo como um dos mercados mais voláteis do mundo, então não temos como prever se o preço vai aumentar. As commodities agrícolas sempre são afetadas por mudanças climáticas, existem muitos fatores a serem considerados”, declara Carlos Widonsck, diretor da CW Consultoria.
A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) reduziu a sua estimativa para a produção brasileira de café na safra 2022/23 em relatório divulgado nesta quarta-feira (19). De acordo com o órgão, o País deve produzir 52,43 milhões de sacas de 60 quilos. Em janeiro, em uma primeira pesquisa sobre a temporada, a avaliação foi de 55,7 milhões de sacas. Em relação ao ciclo passado, o número indicado pela Conab representa um aumento de 5,7 milhões de sacas em relação ao ciclo passado.
Por enquanto, as geadas não conseguiram afetar as produções de forma grave, tanto no Paraná, quanto em regiões do Sudeste. Na última quarta-feira (18) os contratos futuros do café arábica já apresentavam queda de 4%.
“Normalmente o mês de maio não tem a característica de geadas fortes, então essa antecipação da temporada de frente fria deixou o mercado inseguro com as possibilidades desta colheita”, analisa o diretor da CW Consultoria. Widonsck esclarece que as geadas não prejudicam as safras atuais, mas sim as safras seguintes do produto.
O risco maior de mudanças climáticas nas produções de café ocorre entre julho e agosto, como foi no ano passado. As geadas fizeram com que os preços subissem 55% em julho, reduzindo as colheitas e o potencial produtivo para 2022. “Em caso de geada em julho e agosto, poderemos ver os preços do café chegarem a 300 centavos de dólar por libra/peso”, acrescenta o analista de mercado da Pine Agronegócios. O Brasil é o principal produtor e exportador de café arábica.
Alta do café impacta a inflação brasileira
O panorama da economia global requer cautela. Europa e os EUA enfrentam uma crise inflacionária e o FED, o banco central norte-americano, elevou mais uma vez a taxa de juros do país. O Brasil também continua tendo dificuldades para lidar com a inflação e a Taxa Selic foi elevada para 12,75% no início de maio.
Por isso, a alta de preços pode ser sentida no bolso de quem consome. “Qualquer alta que venha no cenário extremamente inflacionário que vivemos aqui no Brasil pode afetar ainda mais o bolso do consumidor”, acredita Delara. O analista afirma que com o aumento no preço do café, o consumo do café arábica pode diminuir. Porém, a demanda por café sempre será extremamente alta, sendo a segunda bebida mais consumida no mundo.
“A alta das commodities agrícolas em geral e não só o café afetam a inflação, em seu custo para o consumidor mas também nas despesas do produtor, que aumentaram muito”, analisa Widonsck.