“Tempo é dinheiro”

Trader erra digitação e faz o Citigroup perder US$ 48 mi em 15 minutos

A intenção do investidor era criar uma cesta de ações avaliada em US$ 58 milhões, mas acidentalmente inseriu esses 58 milhões no campo de quantidade

Foto: unsplash
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A frase “tempo é dinheiro” nunca fez tão sentido quando colocado no contexto do mercado de capitais. Os traders quando assumem seus postos nas bolsas de valores correm para vencer o relógio e justamente esse ritmo frenético é um dos motivos que podem ocasionar perdas consideráveis, segundo investidores.

Em cerca de 15 minutos o Citigroup perdeu quase US$ 48 milhões a partir do erro de um trader que comprou ação errada. 

Era maio de 2022, em um feriado no Reino Unido, quando um funcionário da mesa de operações Delta One, da instituição, começou a montar sua mesa de operações que protegeria a exposição do banco ao índice global MSCI World. 

No entanto, uma ferramenta comumente usada que automatiza a transação não estava disponível, o que levou o investidor a montar manualmente sua cesta de ações.

A intenção do profissional era criar uma cesta de ações avaliada em US$ 58 milhões, mas acidentalmente inseriu esses 58 milhões no campo de quantidade.

Como resultado, ele criou uma cesta de consideráveis US$ 444 bilhões, contendo 349 ações de 13 países diferentes. 

Imediatamente os sistemas de Wall Street dispararam centenas de avisos, bloqueando parte do trade. O produto do descuido foi uma venda de US$ 1,4 bilhão em ações nas bolsas europeias. Não demorou muito para que o trader percebesse o erro e cancelasse a operação.

Mas como tudo no mercado financeiro é instantâneo, o dano provocou um selloff (liquidação) de cinco minutos nas ações europeias, o que gerou um estrago nas bolsas que se estendiam da França à Noruega.

O Trader recebeu 711 mensagens de aviso. Ele fechou rapidamente as janelas dos avisos que conseguiu e a ordem foi colocada às 8h56 da manhã. Por volta das 9h10, o trader havia cancelado a ordem, deixando o Citigroup com um prejuízo de US$ 48 milhões.

Uma outra equipe, responsável pela área de riscos e controles de e-trading, também encaminhou o incidente para a mesa de execução eletrônica, mas apenas às 9h31.

“O erro foi causado pela inserção manual de dados incertos pelo trader”, disse a Autoridade Reguladora Prudencial do Banco da Inglaterra (BOE, na sigla em inglês) na quarta-feira em suas conclusões.

Erro do trader revelado

Dois anos depois, na última quarta-feira (22), como resultado de uma longa investigação, os órgão reguladores do Reino Unido revelaram o comportamento naquele dia e multaram o banco em US$ 78 milhões pelo erro (61,6 milhões de libras).

“Essas falhas levaram à execução de mais de um bilhão de libras em ordens errôneas e arriscaram criar um mercado desordenado”, afirmou Steve Smart, diretor-executivo conjunto de fiscalização e supervisão de mercado da Autoridade de Conduta Financeira, em um comunicado.

A situação proporcionou uma queda considerável no preço de um ativo rapidamente em um intervalo de tempo muito breve e, em seguida, retornou aos níveis anteriores em um período igualmente curto. Esse evento é comumente conhecido como flash crash.

Com a descoberta é possível notar como uma falha, atrelada com falhas na gestão de risco podem impulsionar em uma deterioração bilionária das ações europeias.

As descobertas oferecem um vislumbre de como uma falha – juntamente com uma série de lapsos na gestão de risco – se transformou em um flash crash que, em determinado momento, eliminou 300 bilhões de euros (US$ 325 bilhões) das ações europeias.