Restrições com trigo da Índia podem prejudicar Brasil e esbarrar na M. Dias Branco (MDIA3)

Trigo deve sofrer com escassez global apesar da alta demanda e prejudicar País

O anúncio da Índia de que iria proibir as exportações de trigo movimentou o mercado no início da semana. A principal preocupação é a diminuição na produção, que já está debilitada desde o começo da guerra entre Rússia e Ucrânia. Especialistas entrevistados pelo BP Money analisaram que o Brasil será prejudicado por conta da alta de preços de trigo no mercado internacional, o que acarreta em aumento no custo de pães, massas e biscoitos no País de empresas listadas na B3.

A alta do trigo já foi sentida em uma das principais empresas brasileiras do setor de alimentos. Após o anúncio da Índia, a M. Dias Branco (MDIA3) teve uma queda de 8% das ações na última segunda-feira (16).

“A alta do preço do trigo já tem sido um fator de impacto nos custos do primeiro trimestre deste ano, o que pode ser confirmado pelo resultado do período, com reflexo no comportamento de sua ação na B3. A pressão de custos segue para os próximos trimestres e a meta será adequar sua estrutura de custos e despesas operacionais”, analisa Pedro Galdi, economista da Mirae Asset.

A economia brasileira depende muito da importação do trigo. “A nossa produção nacional tem melhorado, mas ainda importamos cerca de 60% do trigo consumido no Brasil”, afirma Marcio Sette Fortes, professor de economia do Ibmec-RJ. Segundo Fortes, o Brasil não tem perfil exportador de trigo e não poderia “aproveitar” a oportunidade de explorar o mercado internacional.

A produção brasileira do produto varia entre cinco a seis milhões de toneladas. Os maiores produtores nacionais são Rio Grande do Sul e Paraná, que, juntos, produzem 85% do trigo nacional.

O preço do trigo aumentou 40% desde o início da guerra no Leste Europeu. Após a decisão do país asiático, o insumo chegou às maiores cifras em mais de dois meses na última segunda-feira (16). 

Nova Deli alega que a onda de calor no país afetou a produção de trigo e que precisou segurar o insumo por questões de “segurança alimentar”. A Índia foi o oitavo maior exportador da commodity no ano passado e havia previsto uma produção de 111,32 toneladas. Contudo, de acordo com a “Reuters”, o governo indiano acredita que deve reduzir a estimativa de produção para 100 milhões.

O país também tinha prometido que iria sanar as necessidades de países pobres, que viram a lista de exportadores diminuir sem Rússia e Ucrânia. Nova Deli estimava que iria exportar 10 milhões de toneladas de trigo neste ano, após o recorde de 7 milhões no ano passado.

Contudo, a Índia anunciou que seguirá permitindo embarques de trigo para o exterior, mas apenas os que aguardam liberação alfandegária. O governo declarou que apenas irá permitir exportações lastreadas em LCs (cartas de crédito), ou garantias de pagamento, emitidas antes de 13 de junho. Em comunicado, Nova Deli afirmou que irá exportar trigo para o Egito. 

Os ministros da Agricultura do G7 criticaram a decisão indiana. “Se todos começarem a restringir as suas exportações ou a fechar seus mercados, a crise se agravará e isso também prejudicará a Índia e seus agricultores”, afirmou Cem Özdemir, ministro da pasta na Alemanha após reunião com seus homólogos.

Trigo: Guerra na Ucrânia agrava crise de abastecimento 

“Tanto a Rússia como a Ucrânia são grandes exportadores de produtos alimentícios. Os dois países, conhecidos como o “celeiro da Europa”, representam 29% das exportações globais de trigo e 19% das de milho”, afirma o economista da Mirae Asset.

As autoridades ucranianas inclusive acusam Moscou de roubar parte das plantações de trigo do país. “O saque de grãos na região de Kherson, bem como o bloqueio de embarques em portos ucranianos e a mineração de rotas marítimas, ameaçam a segurança alimentar do mundo”.

Segundo o professor do Ibmec-RJ, a dificuldade dos dois países de exportar o insumo passa pelo escoamento da produção e a forma de pagamento. “Considerando o preço do seguro do transporte marítimo em uma região de guerra, os países do Leste Europeu têm bastante dificuldade para exportar.”

Com a diminuição de possíveis compradores, a economia global pode sofrer com a escassez do trigo, uma vez que a demanda de trigo é sempre alta. “O trigo é matéria prima para massas, pães, bolos e biscoitos, então a falta desse insumo deixa o produto mais caro para todos os países que importam”, acrescenta Fortes.

Acesse a versão completa
Sair da versão mobile