Trimestre da Natura (NTCO3) pode ser impactado por multa da Avon?

Especialistas explicam como multa de US$ 46 milhões pode afetar empresa

Após a Avon Products, controlada da Natura (NTCO3), ser condenada a pagar US$ 36 milhões em danos compensatórios e US$ 10,3 milhões em danos punitivos a uma cliente nos EUA, as ações da companhia chegaram a cair quase 3%, na última segunda-feira (19). No mesmo dia, entretanto, os papéis subiram e fecharam em alta de 3,33%, cotados a R$ 10,24. Apesar de ter assustado o mercado, momentaneamente, os investidores não se abalaram com a notícia. Para especialistas, entretanto, a multa, apesar de pequena para o tamanho da empresa, pode impactar os números nos próximos trimestres. 

Segundo o especialista em renda variável e sócio da Acqua Vero Investimentos, Heitor De Nicola, a multa recebida pela Avon tem um impacto relativamente significativo no caixa da Natura e é algo a se acompanhar, já que o ocorrido pode desencadear outros tipos de processos para a empresa.

“Se a gente olhar a divulgação dos trimestres, a Natura teve um prejuízo de R$ 560 milhões, nesse terceiro trimestre de 2022. A gente está falando de um impacto de R$ 200 milhões, é significativo se olhar na parte trimestral. Se olhar no compilado do ano, pode impactar nos próximos resultados e trazer uma certa volatilidade a mais ao papel”, disse Heitor.

“Por mais que seja não recorrente, é um valor considerável, ainda mais porque a empresa vem apresentando prejuízos”, acrescentou o especialista do escritório parceiro do BTG Pactual.

O autores do processo contra a Avon nos EUA, Rita-Ann Chapman e Gary Chapman, alegaram que o talco utilizado em produtos da empresa estariam contaminados com amianto, o que teria contribuído para o desenvolvimento de mesotelioma na cliente Rita-Ann Chapman. Em resposta, a Natura informou que os produtos da Avon passam por uma “rigorosa avaliação de segurança para uso do consumidor” e que ainda tem “fortes fundamentos” para anular o veredicto final. 

A Natura vem de três trimestres consecutivos de prejuízos. No primeiro trimestre deste ano, a companhia registrou prejuízo de R$ 643,1 milhões. No trimestre seguinte, a empresa teve um resultado líquido negativo de R$ 766 milhões e no terceiro trimestre de 2022, a controladora da Avon reportou um prejuízo de R$ 559,8 milhões. 

Os números negativos nos últimos trimestres podem deixar o valor não tão considerável da multa (para alguns especialistas do mercado) um pouco mais relevante, negativamente, para o caixa.

Para Heitor, da Acqua Vero, a empresa deve cuidar para que novos clientes não a processem por motivos parecidos com o do processo da americana Rita-Ann Chapman.

“É importante pontuar que é um processo bem sensível, uma vez que veio de uma cliente que afirmava que os produtos talco contribuíram para o desenvolvimento de câncer dela. E foi daí que veio essa multa. É bem sensível, tem um impacto nos resultados e outros clientes podem ir atrás de algo nesse sentido. Até que seja comprovado pela empresa que não houve influência, pode haver novos processos nesse sentido”, disse Heitor.

O outro lado da moeda para a Natura

De acordo com o comunicado divulgado pela Natura, a empresa ainda tem “fortes fundamentos” para anular o veredicto final sobre o processo contra a Avon Products. A Natura também destacou que o tribunal errou ao negar os pedidos de anulação do julgamento. 

Para o assessor da DOM Investimentos, Rafael Bombini, o valor da multa, apesar de não ser tão pequeno e poder impactar (mesmo que pouco) o caixa da companhia, é baixo para o tamanho da empresa, mesmo com os prejuízos recentes. 

“Obvio que estamos passando por um mercado difícil, juros, inflação, tudo isso no mundo, mas a empresa, hoje, trazendo para reais, vale algo em torno de R$ 15 bilhões. A multa do processo, em torno de US$ 46 milhões, basicamente dá algo em torno de R$ 250 milhões. Frente a uma empresa que vale 15 bilhões, eu diria que é pouco relevante. É bastante dinheiro, mas a empresa vale R$ 15 bilhões. Seria algo em torno de 3% do valor da empresa, então eu não vejo tanto motivo para preocupação”, disse Bombini. 

Fabiano Vaz, sócio e analista de ações da Nord Research, também segue a linha de raciocínio de Bombini e destaca que a empresa tem contingências para esse tipo de processo, então não deve ter grande impacto nos resultados da companhia. 

“O que acaba impactando um pouco é a marca, mas pelo que eles comentaram são produtos antigos, que até saíram de linha, então provavelmente não deve ter um efeito muito grande em relação a marca também”, disse Vaz. 

Apesar de não enxergar a multa como algo de grande relevância para a Natura, o analista chamou a atenção para os novos processos que podem aparecer, em decorrência deste último.

“A gente tem que acompanhar, porque se acabar se tornando algo recorrente e trazer outros tipos de processos, e ficar um valor mais expressivo, aí sim a gente avalia os impactos, mas hoje não tem impacto relevante nos resultados”, pontuou Vaz sobre a Natura.