Inflação, setores e mais

Trump eleito, e agora? Especialistas avaliam investimentos e economia

Especialistas comentaram impactos da vitória republicana nos EUA na economia brasileira e destacaram quais setores devem ganhar e perder

Donald Trump
Foto: RS/Fotos Públicas

A vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA caiu como uma bomba no Ibovespa. O índice iniciou o pregão desta quarta-feira (6) em forte queda, enquanto o dólar deve acelerar ainda mais e atingir novo recorde, avaliaram especialistas consultados pelo BP Money.

André Diniz, economista-chefe para internacional da Kinea, chamou atenção para as diferenças nos cenários políticos em 2016, quando Trump venceu as eleições pela primeira vez, e em 2024. Segundo ele, neste ano, a política tarifária deve estar no foco, o que impacta de forma negativa o crescimento de outros países – inclusive o Brasil.

“Em 2016 não havia uma situação fiscal tão ruim quando existe hoje e também não tinha um grau de aperto da economia tão alto quanto. Existe a tendência de que alguns cortes de impostos para as empresas sejam estendidos e, se você tem corte de impostos e proteções tarifárias para empresas norte-americanas, a tendência é que os fluxos de capitais não venham muito para emergentes”, explicou Diniz.

Com a carga tributária mais baixa, os juros devem subir, destacou William Castro Alves, sócio e estrategista-chefe da corretora digital Avenue. De acordo com o especialista, embora a redução dos juros seja bom para as empresas, “acentua ou gera percepção do risco fiscal”.

“Com esse risco fiscal, é cobrado um juro longo mais elevado, o que deve levar a um impacto inflacionário a longo prazo. Os juros amaricanos devem subir e fortalecer o dólar, o que é ruim para as moedas emergentes”, avaliou Alves.

Diante da possibilidade de taxas de juros estáveis ou ligeiramente ascendentes, Paulo Martins, CEO e fundador da Anova Research afirma que deve haver um incentivo para investimentos em setores que se beneficiam de margens de lucro mais amplas, como energia e financeiro.

Investimentos: quais setores tendem a ganhar e perder?

William pontua ainda que, devido ao modus operandi dos republicanos de intervir menos na economia, com menos regulações, o impacto da vitória de Trump no setor bancário tende a ser positivo.

Além disso, guiado pelo slogan Make America Great Again, o setor industrial deve crescer, devido ao fomento à indústria nacional em detrimento à China, amplamente pregado pelo republicano.

Vitória eleitoral de Donald Trump deve beneficiar ainda o setor de saúde, disse William. “A Kamala falava muito do controle de preços, imposição de teto para alguns remédios, então, isso cai com a vitória de Trump e pode ser petencialmente positivo. Além disso, o setor é amplamente regulado e menos regulação pode cair bem”.

Paulo Martins destacou, por outro lado, que incertezas regulatórias nos EUA podem se refletir em hesitações no investimento em saúde, situação potencializada pelas medidas de austeridade fiscal a caminho.

“Empresas de saúde brasileiras enfrentaram volatilidade influenciada por políticas de saúde menos favoráveis nos EUA e uma retração de investimentos estrangeiros, afetando negativamente a confiança dos investidores nesse setor”, disse Martins.

O CEO e fundador da Anova chama atenção ainda para o setor de energia e siderurgia, que tende a ganhar com a política de Trump de favorecimento das energias tradicionais como petróleo e gás.

Já o segmento de Energias Renováveis e Tecnologias Sustentáveis, por sua vez, deve ser menos atrativo. “Embora o setor de energias renováveis no Brasil esteja em um ciclo de acumulação ascendente, a administração Trump deve reduzir incentivos internacionais para energias verdes, impactando negativamente as exportações brasileiras nesse segmento”, avaliou Paulo.

Em relação às empresas de exportação, Martins destacou que segmentos como agricultura e mineração devem colher bons frutos da vitória republicana nos EUA. “Apesar da pressão de curto prazo nas commodities devido à desaceleração na China, a tendência de alta até 2026 permanecia. A vitória de Trump, com políticas protecionistas, fortaleceu a demanda por commodities brasileiras nos EUA”, disse.