A crise na Unigel começa a tomar contornos dramáticos. Em mensagens que o BP Money teve acesso, a empresa cobra uma posição da Petrobras (PETR3;PETR4) em relação às unidades da empresa em Camaçari (BA) e Laranjeiras (SE).
Segundo o documento, que tem data da última quinta-feira (27), a Unigel reforça que precisa de uma posição da Petrobras até a segunda-feira (31), sob o risco de demissões nas duas unidades.
Nas mensagens, a empresa alega que foi obrigada a parar as atividades da unidade de Sergipe no dia 1º de abril e a da Bahia em 6 de junho. No dia 20 de junho, tiveram início os desligamentos na unidade sergipana, porém, neste mesmo dia, a Petrobras solicitou a suspensão das demissões, por que tinha uma proposta para que a Unigel não tivesse mais prejuízos em sua operação.
Dois dias depois, a estatal apresentou uma proposta de “Tolling”, que consiste em converter o gás natural em ureia e amônia e em contrapartida a Unigel não faria demissões nestas unidades. Depois de cinco semanas a promessa não se concretizou e a Unigel manteve os funcionários.
As empresas se reuniram na semana passada e diferente do que alegou a Petrobras, que avaliou a operação como onerosa, a Unigel defendeu que o preço da ureia teve forte elevação no mercado brasileiro e internacional de US$ 270/t para US$ 400/t, o que, segundo a empresa, significa um volume mensal estimado de 80.000 t e aumentaria o faturamento em mais de US$ 10 milhões mensais.
A Unigel reforça ser “urgente” uma definição até a sexta (28), já que a proposta foi entregue um mês antes, no dia 28 de junho. “Caso não haja esta decisão, seremos forçados a realizar as demissões já na segunda-feira (31), prazo limite para não incidir em multa demissional”, diz um trecho do comunicado.
A Unigel ainda afirma que fez todo esforço para manter as operações, ação esta que custou a “deterioração de sua situação financeira”. A empresa ainda diz que reativou em julho, “com grande sacrifício”, a produção na Bahia a pedido do Ministério de Meio Ambiente “para que o Brasil não ficasse desabastecido de ARLA-2 (produto fundamental e de uso obrigatórios em todos os motores a diesel), evitando o colapso no transporte de carga no Brasil.
“A demissão dos colaboradores, além do grande impacto social, acarretará numa grande dificuldade para o Brasil retomar novos projetos nesta área pela perda de conhecimento decorrente”, pontuou.
Procurada pela reportagem, a Unigel disse que não iria comentar sobre o assunto. A Petrobras não respondeu até o fechamento da matéria.
Risco de recuperação judicial
Devido a crise que a Unigel enfrenta, já existem informações de bastidores apontando para um pedido de recuperação judicial. Segundo noticiou o jornal “Valor Econômico” em junho, as negociações com os credores têm sido duras e um acordo de recuperação extrajudicial ou um pedido de medida cautelar de proteção contra execução de dívidas, similar à estratégia usada por Oi (OIBR3) e Light (LIGT3), não estão descartadas. Uma das fontes ouvidas pelo jornal disse que uma recuperação judicial é a saída mais provável no momento.
“O momento de pedir a recuperação judicial pode variar de acordo com cada situação. Geralmente o pedido ocorre quando a empresa flerta com a insolvência, somado com a pressão dos credores, antecipação de vencimentos de dívidas e excessiva judicialização do passivo. A Unigel enfrenta crise financeira que justifica o pedido, o que eu acho provável que ocorra, mas existem outras alternativas menos agressivas também, como a mediação, por exemplo, que podem ser usadas antes disso”, disse a Advogada do Zilveti Advogados, Marcela Cavallo.
A companhia contratou, no início de junho, a Moelis & Company para assessorá-la em um processo de reestruturação financeira e o Felsberg Advogados como assessor jurídico. Além disso, contratou o Citi para buscar um sócio para o projeto de hidrogênio verde na Bahia e postergou os investimentos em uma nova planta de ácido sulfúrico. Já os detentores dos papéis de dívida externa (bondholders) contrataram a Houlihan Lokey, que se instalou neste ano no Brasil e já assessora outros casos grandes, como Samarco e Ocyan.
Redução no valor do gás pode ajudar
Uma possível queda no preço do gás pode dar início ao fim da agonia da Unigel. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o Ministério de Minas e Energia e a Petrobras travam uma disputa em torno do produto. De acordo com o jornal, o plano do governo é derrubar o preço do gás natural, insumo da indústria, e o GLP, o gás de cozinha.
O ministro Alexandre Silveira tenta convencer a Petrobras de que é melhor chegar a um meio termo. Em conversas, o ministro disse que o preço ideal do gás hoje estaria em torno de US$ 8/MMBtu, enquanto a Petrobras precifica o gás em US$ 14/MMBtu.
O governo considera que, a US$ 8 por milhão de BTU, a indústria química, que hoje opera com 30% de sua capacidade, poderia voltar a se aquecer. Pelos cálculos, seriam R$ 70 bilhões em produção.
“Dentro de um movimento buscando gerenciar uma crise financeira, um dos pilares, sem dúvidas, é a redução dos gastos da operação. No caso da Unigel, essa negociação do preço do gás já ocorria há tempos e a alta sempre foi apontada como um dos principais inviabilizadores das operações. É seguro presumir que a redução dos valores coloca a empresa em uma situação mais confortável, mas certamente não resolve os problemas, sendo necessária a junção de diversos fatores para a superação da crise”, avalia a advogada.