Energia e saneamento

Utilities: com crises à frente, setor ainda será ‘porto seguro’ no 4TRI24?

O setor de utilities compreende as ações de companhias de energia e saneamento básico; analistas veem desafios para as receitas no 4º trimestre

Foto: CanvaPro
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Uma gama de obstáculos tem obstruído o caminho de alguns setores da Bolsa no decorrer deste ano. No entanto, no terceiro trimestre, os papéis de companhias de serviços públicos – utilities – galgaram bons níveis de valorização e se firmaram como um porto seguro em meio às turbulências. 

O setor de utilities compreende as ações de companhias de energia e saneamento básico brasileiras. 

Especialistas procurados pelo BP Money indicaram que esses papéis podem seguir ganhando, por serem menos sensíveis às flutuações econômicas, mas os cenários devem variar conforme as diferentes linhas que formam o quadro do mercado no 4TRI24: crise climática, risco fiscal, indicadores econômicos e atratividade da Bolsa.

A temática ambiental é vital nesse segmento, que ultimamente trabalha sob a pressão que a seca severa em algumas regiões do País tem causado às geradoras de energia. Segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), as usinas hidrelétricas brasileiras, localizadas no subsistema Sudeste/Centro-Oeste, devem encerrar o mês de outubro com 39,9% da capacidade.

Os efeitos chegarão de modo diverso a cada empresa, pois a menor capacidade dessas matrizes da geração de energia do Brasil, forçam a ativação das termelétricas, cujos custos de operação são bem mais altos. 

“Isso impacta negativamente a rentabilidade de algumas empresas que dependem dessa matriz. Assim, o aumento no custo de geração pode afetar empresas como a Eletrobras e a Engie, que têm forte presença em hidrelétricas, por exemplo”, Bruno Rocio, assessor da Raro Investimentos, escritório credenciado à XP Investimentos.

“Além disso, algumas empresas podem ter que repassar esses custos mais altos, as tarifas de energia podem ser elevadas, pressionando o bolso dos consumidores e potencialmente reduzindo o consumo. Isso pode impactar as receitas das empresas de distribuição de energia, como a Equatorial e a Neoenergia, que podem ver queda na demanda por eletricidade​, por exemplo”, prosseguiu.

Diante desse cenário, as maiores beneficiadas serão as companhias de utilities que investirem mais em tecnologia para aumentar sua resiliência frente às crises. Além daquelas que apresentarem desenvolvimento em projetos de energia renovável.

Desempenho as ações de utilities no 3TRI24

EmpresasAção negociada na BolsaDesempenho no 3TRI24
CemigCMIG4+16,58%
SabespSBSP3+15,72%
CopelCPLE3+10,72%
EletrobrasELET3+7,78%
TaesaTAEE4+1,66%
EquatorialEQLT3+1,61%
EngieEGIE3-2,10%
Tran PaulistaTRPL4-8,47%
Fonte: TrandingView / Dados do acumulado de 3 meses até a sessão do dia 30/09

Para Hulisses Dias, especialista em finanças e investimentos, a performance apresentada pelo setor de utilities no 3TRI24 se deve ao fato de sua prestação de serviços ser essencial, o que garante a demanda constante.

Além disso, segundo Dias, as ações de utilities costumam oferecer dividendos atrativos, o que gera um custo de carrego positivo, ao passo que empresas de outros setores precisam manter uma posição de caixa maior para enfrentar as incertezas que podem afetar negativamente suas operações.

Outro ponto importante, na avaliação de Bruno Rocio, é que a ativação da bandeira tarifária vermelha devido à crise hídrica, aumentou as tarifas de energia elétrica. Como efeito, no geral, a receita das empresas de distribuição de energia também subiram, melhorando, assim, as suas margens operacionais.

“Ainda, a recuperação econômica e a retomada da atividade industrial no Brasil aumentaram a demanda por energia, o que beneficiou tanto empresas de geração quanto de distribuição”, frisou o assessor de investimentos.

Guylherme Mattos, matemático e especialista em investimentos, analisou também que a Selic (taxa básica de juros) em ciclo de queda e, logo depois, em manutenção, no nível de 10,50% ao ano, foi um ponto positivo para o acesso ao crédito, até ser interrompido pela elevação da taxa.

“Mas o avanço das ações da Sabesp foi bem favorecido pelas especulações de sua privatização, a demanda por serviços essenciais, então serviços ligados à infraestrutura cresceram bastante no ano de 2024”, afirmou.

Influências no final do ano

Recentemente, o Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, viu sua performance crescer ao passo que a agência de classificação de risco Moody’s elevou a nota de crédito do Brasil, aproximando o País do grau de investimento novamente. 

Apesar de ser um motivo de ânimo, o mercado ainda não confia inteiramente no bom desempenho a médio prazo. Isto porque, explicou Hulisses Dias, a situação fiscal segue sendo um ponto de atenção, com o governo aumentando seus gastos à medida que a arrecadação cresce, o que eleva a relação dívida/PIB.

“Essa dinâmica pressiona os juros futuros para cima, criando uma expectativa de Selic alta por um período prolongado. No entanto, se o governo fizer um esforço maior para controlar os gastos e melhorar as contas públicas, os juros tendem a cair”, disse. 

Mesmo sendo um porto seguro em meio ao caos, o caso do setor de utilities não se diferencia dos demais segmentos quando se trata da atratividade da B3.

Por isso, o setor de utilities seria particularmente favorecido pela queda de juros, visto que as empresas dependem de acesso a financiamento de longo prazo com condições mais favoráveis, permitindo investimentos em infraestrutura e o fortalecimento das operações no mercado, segundo Dias.