Com a divulgação do balanço positivo do 4T22 do Itaú (ITUB4), analistas do mercado financeiro dizem que esse pode ser um bom momento para as ações do banco. Apesar do impacto sofrido pela dívida pendente da Americanas (AMER3), o banco registrou lucro recorrente gerencial, excluindo itens extraordinários, de R$ 7,668 bilhões entre outubro e dezembro de 2022, alta de 7,1% em relação ao mesmo período de 2021.
“Vale a pena investir. O impacto das Americanas foi pequeno. As outras linhas do banco foram bem e a instituição tem uma projeção de R$ 32 bilhões [de lucro] para 2023. Com essa projeção, o preço-lucro dela (PL) caiu em apenas 8,2 vezes, a média histórica é 11 vezes. Então as ações estão em um preço muito atraente e que vale a pena comprar no preço atual”, explicou Flavio Conde, analista da Levante Investimentos.
Segundo o sócio da Harami Research e analista chefe, Fábio Sobreira, a expectativa, agora, é de que o banco tenha resultados melhores nos próximos trimestres, porque não vai ter o impacto do rombo da varejista.
Por isso, a recomendação da casa se mostra positiva para com o banco, já que, segundo Sobreira, “o Itaú é o banco mais sólido que temos hoje no País”, e o mercado está “enxergando com bons olhos o balanço do Itaú”.
“O Itaú é um banco que a gente gosta, que a gente sabe que tem uma competência muito grande para poder investir em negócios novos, investir em outras frentes. A gente acredita que, por isso, o mercado está enxergando que o Itaú, de todos os outros bancos, é o que menos vai se prejudicar”, explicou.
O analista também explica que com o balanço positivo, os bancos no geral estão subindo. “Então tem um ânimo generalizado. O Itaú e o Banco do Brasil (BBAS3) têm se mostrado os melhores bancos para se investir agora. Primeiro pela menor exposição à Americanas, segundo por balanços mais robustos e com maiores lucros, que já vinha acontecendo antes mesmo da Americanas. Aqui continuamos com uma boa visão para o Itaú. Nosso preço-alvo para o banco é algo em torno de R$ 33”, completou Sobreira.
Destaques do balanço do Itaú Unibanco
Segundo o sócio da LOT Consult, Gilberto Ganz Seleme, o mercado ficou bem satisfeito com o resultado do Itaú por alguns motivos, dentre eles o segmento de crédito foi um dos destaques, além do resultado do guidance.
“Olhando o ano passado como um todo, a margem do Itaú no segmento de crédito subiu bem, o que reforça a ideia de que o Itaú conseguiu, nas carteiras mais rentáveis, como de pessoa física, e das pequenas e médias empresas, focar e aumentar nesse segmento. Isso, aliado ao controle da inadimplência. A parte também que o mercado gostou foi do guidance, onde ele acha que vai continuar crescendo a carteira e o Itaú é tido no mercado como um banco bem conservador na hora de divulgar esses guidances”, disse.
O analista-chefe da casa de análises TC, Carlos André Vieira, chama atenção para um ponto negativo do balanço, que foi o crescimento das despesas administrativas. Segundo ele, elas atingiram R$ 14,5 bilhões, um aumento de 8,2% anual, derivados de acordos coletivos de trabalho com o banco para aumento dos salários, em setembro, o que fez uma maior pressão sobre as despesas. Contudo, isso não afetou a visão positiva do mercado.
“O mercado reagiu muito bem aos resultados do Itaú. É uma das nossas stock picks no setor de crédito, é um banco que deve performar bem, apresenta uma carteira de crédito mais resiliente do que os demais, menores níveis de atraso e inadimplência e também um bom repasse de juros. Então o Itaú e o Banco do Brasil devem ser os que apresentam algumas das melhores performances esperadas para o ano de 2023”, disse Vieira.
Itaú (ITUB4) e Americanas (AMER3). O que muda?
Segundo Sobreira, apesar do balanço vir abaixo das expectativas, o mercado está enxergando com bons olhos os resultados do banco. O esperado, segundo analistas, era entre R$ 8,3 bilhões e R$ 8,5 bilhões, mas a diferença com o resultado foi devido ao caso da varejista.
“Apesar disso [Americanas], o banco conseguiu ter um bom resultado, manteve sua margem alta. Não adianta pensar ‘se não fosse a Americanas’, isso não existe. Aconteceu, ele emprestou o dinheiro para um cliente ruim e está tendo um prejuízo por isso, assim como todos os outros bancos. Então isso tem que estar na conta, isso é válido”, disse Sobreira.
Flavia Conde explica que essa diferença entre o esperado e o resultado divulgado conversa exatamente com a dívida da Americanas com o banco. “Essa diferença foi por conta de uma provisão de R$ 1,3 bilhão que o banco fez, apesar de não citar, por causa da Americanas. Isso impactou o lucro em R$ 760 milhões, ou seja, exatamente a mesma diferença”, explicou Conde.
Segundo ele, no entanto, essa foi a surpresa positiva do mercado, já que durante a divulgação da lista de credores e dos valores devidos pela Americanas, o Itaú acumulava R$ 2,8 bilhões de exposição. Por conta disso, muitas pessoas acreditavam que o banco teria que provisionar o valor total. Contudo, ele já havia provisionado R$ 1,5 bilhão.
“Muita gente estava esperando um impacto bem maior. Mas isso era muito mais entre investidores e gestores que não publicam resultados esperados, isso não estava no número dos analistas. E o efeito veio menor, porque o Itaú tem [uma dívida da Americanas] de R$ 2,8 bilhão e tinha gente temendo que ele tivesse que provisionar o valor total. Mas na verdade ele já tinha provisionado R$ 1,5 bilhão e só precisou provisionar R$ 1,3 bilhão. Então essa foi a surpresa positiva, por isso que as ações estão subindo”, disse.
Balanço do Itaú (ITUB4) tem lucro
No acumulado de 2022, o Itaú obteve lucro recorrente gerencial de R$ 30,786 bilhões, alta de 14,5% na comparação com 2021. Já o retorno recorrente gerencial sobre patrimônio líquido (ROE) do Itaú caiu de 21% no terceiro trimestre para 20,3% no quarto trimestre.
A margem financeira gerencial total da instituição financeira foi de R$ 24,97 bilhões entre outubro e dezembro, alta de 17,8% em relação ao mesmo período de 2021. Houve um crescimento de 21,7% na margem financeira com clientes, para R$ 24,227 bilhões.
A carteira de crédito do Itaú apresentou avanço de 2,7% na comparação com o terceiro trimestre, para R$ 1,141 trilhão.
“No mesmo sentido, tivemos o impacto positivo da Selic e do maior volume de depósitos em nossa margem de passivos e da taxa de juros pré-fixada em nosso capital de giro próprio, parcialmente compensado por menores spreads na carteira de crédito”, escreveu o Itaú.
O índice de inadimplência de empréstimos acima de 90 dias no Brasil cresceu de 3,2% para 3,43%.
“O aumento ocorreu devido à maior inadimplência no segmento de pessoas físicas no Brasil, principalmente nas carteiras de cartão de crédito e financiamento de veículos”, afirmou o texto que acompanha o balanço.