O papel da Vale (VALE3), maior mineradora do Brasil, está com vistas a sofrer uma redução no peso exercido sobre a nova carteira do Ibovespa, conforme a 2ª prévia divulgada pela B3. Essa estratégia pode mexer com os níveis de estabilidade do índice e influenciar uma onda de ajustes nas carteiras dos investidores, apontaram analistas.
A Vale, hoje, ocupa a maior posição no principal índice acionário brasileiro, e apesar da prévia da nova carteira não indicar mudanças nesse quesito, projeta-se uma redução de 11,3% para 10,8% no peso da ação na composição do Ibovespa.
Na linha contrária, enquanto a Bolsa brasileira cogita diminuir o peso desse papel, uma das maiores gestoras do mundo, a Oaktree, do megainvestidor Howard Marks, decidiu aumentar essa influência sobre sua carteira.
Quais são as apostas para as ações da Vale (VALE3)?
- Como as mudanças sobre as ações da mineradora impactam o mercado brasileiro? Conforme explicação de especialistas, se a nova configuração da carteira do Ibovespa se confirmar, um dos efeitos que poderá ser percebido no índice é a maior estabilidade, considerando, especialmente, se as negociações da Vale estiverem oscilando, devido a sua forte associação ao preço das commodities, sobretudo do minério de ferro.
“A Vale é uma das maiores mineradoras do Brasil e sua grande influência no Ibovespa pode resultar em uma concentração excessiva de riscos associados ao setor de mineração. Diminuir o peso da Vale ajuda a reduzir essa dependência, permitindo que o índice reflita de maneira mais equilibrada a economia brasileira como um todo”, avaliou o professor da Trevisan Escola de Negócios , André Vasconcellos, em resposta ao BP Money.
“Nesse momento, o impacto que pode acarretar é ser um alívio de peso, porque a Vale, em razão da desaceleração econômica e na área de construção da China, entre outros mercados, vem performando abaixo do esperado. Se ela perder peso sobre o índice ele deve conseguir caminhar com mais leveza”, Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital.
- O que indicou a prévia da nova carteira do Ibovespa? A segunda prévia da nova carteira do Ibovespa foi divulgada em 15 de agosto. Uma nova prévia está prevista para o dia 29 de agosto, enquanto a carteira oficial deve passar a vale a partir de 2 de setembro. Além da mudança na porcentagem da Vale, a previsão indica outras mudanças na composição do índice como a saída da Cielo (CIEL3) – que realizou uma OPA (oferta pública de aquisição – junto com ela, a Dexco (DXCO3) e o o Grupo Soma (SOMA3) – que se fundiu à Arezzo e criou a Azzas 2154 – também serão retiradas. Enquanto isso, a Auren (AURE3), a Caixa Seguridade (CXSE3) e a Santos Brasil (STBP) devem ser as novas entradas.
- Qual foi a alteração feita pela Oaktree Capital? A gestora do megainvestidor Howard Marks revisou suas posições em algumas das principais ações da Bolsa brasileira. A empresa vendeu cerca de 30% dos papéis preferenciais do Itaú (ITUB4) e cerca de 11% da Petrobras (PETR4). Na contramão desse movimento, as ações da Vale (VALE3), Braskem (BRKM5) e Azul (AZUL4) ganharam mais peso no portfólio. A empresa comprou em torno de 1,24 milhão de ações da mineradora, somando 12,75 milhões, portanto, ao todo, o papel passou a ocupar 2,72% de participação na carteira da Oaktree.
“O aumento da participação por uma gestora de crédito de grande porte costuma indicar uma confiança significativa no potencial de crescimento da empresa. Esse tipo de investimento é frequentemente um sinal de que a companhia está bem posicionada para um crescimento sustentável e que suas perspectivas são consideradas promissoras por especialistas financeiros de alta credibilidade”, explicou Vasconcellos.
“Além disso, tal movimentação pode ser vista como uma validação da estratégia e da gestão da empresa. Esse endosso externo pode ser um reflexo da confiança na capacidade da equipe de liderança em gerar valor e atingir os objetivos estratégicos estabelecidos”, prosseguiu.
- Qual o cenário vivido pela Vale no momento? As oscilações, mais puxadas para quedas, nos preços do minério de ferro, tem afetado também o desempenho da ação. No acumulado do ano até o fechamento de quinta-feira (22), as perdas da empresa no mercado de capitais somava mais de 18%. Grande parte dessas perdas foram causadas pelo cenário desacelerado no mercado imobiliário chinês, que frearam as estimativas de crescimento que o mercado financeiro mantem sobre a empresa.
“Basicamente, a Vale é absolutamente dependente da cotação do minério e ela pouco pode fazer em relação a isso. Depende de aspectos econômicos globais. Então ela fica à mercê dessa dinâmica”, explicou Bruno Corano.
- O dólar é outra vertente que mexe com as perspectivas sobre a ação. Pela condição de exportadora, a companhia brasileira tende a se beneficiar com o dólar valorizado. No mercado de câmbio, as expectativas dos economistas, conforme o último Boletim Focus divulgado pelo BC (Banco Central) é de que a moeda deve seguir valorizando acima de R$ 5,00 até o final deste ano.
“O que enxergamos hoje é que o dólar não vai passar de R$ 6, mas também não tem nenhum sinal que mostra que ele vai ficar abaixo de R$ 5. Ele deve se manter volátil, mas dentro disso. Isso porque não temos perspectiva de nenhum desencontro de conjunturas das economias globais que façam o dólar se valorizar, ou se desvalorizar, especialmente frente ao Brasil”, afirmou Corano.
“A Vale e o setor de mineração, de forma geral, mantêm grande potencial de atração de investidores devido à alta demanda por recursos naturais, impulsionada por setores como tecnologia e energias renováveis, e pelos avanços tecnológicos que aumentam a eficiência e reduzem custos”, indicou Vasconcellos.