A maior mineradora e exportadora de aço do Brasil, a Vale (VALE3), vive um momento que inspira, ao mesmo tempo, empolgação e cautela. Apesar de ter perdido a posição de terceiro maior valuation do Brasil para a WEG (WEGE3), a movimentação econômica positiva na China traz confiança para os lucros, mas uma ameaça ainda está à espreita: Donald Trump e suas tarifas de importação.
A disputa pelo terceiro maior valor de mercado do Brasil entre a Vale e a WEG vinha ocorrendo desde dezembro de 2024. A fabricante de equipamentos eletroeletrônicos ultrapassou a mineradora no dia 14 de janeiro, ao atingir R$ 223,4 bilhões em valuation, ante os R$ 219,9 bilhões da rival.
Para o economista e CEO da Falcão Capital e Investimentos, George Falcão, a perda da Vale pode ser atribuída a diversos fatores, entre eles a volatilidade nos preços do minério de ferro, questões regulatórias ou ambientais e movimentos especulativos do mercado financeiro.
“Quanto à possibilidade de retomar a posição em valor de mercado, isso dependerá não apenas do desempenho operacional da Vale, mas também de como a WEG continuará a crescer. No geral, é cedo para fazer projeções”, avaliou.
Leonardo Andreoli, da Hike Capital, reiterou a avaliação e acrescentou outros pontos de impacto para o cenário, como a pressão gerada pelo negócio de venda das ações VALE3 pela Cosan (CSAN3), bem como expectativas mais conservadoras para o crescimento global.
O movimento de venda da participação de aproximadamente 4% da Cosan sobre a Vale representava uma pressão, pois uma venda nesse nível poderia gerar um excesso de oferta no mercado, explicou Andreoli.
“Agora que a venda foi concluída, o mercado não precisa mais precificar essa pressão vendedora, o que tende a reduzir a volatilidade dos papéis da Vale e permitir uma recuperação mais consistente, caso os fundamentos da empresa permaneçam sólidos”, afirmou.
Cruzada entre China e Trump pode respingar mal sobre a Vale (VALE3)
Como principal compradora dos produtos da Vale, os indicadores econômicos e de demanda de consumo do minério de ferro na China impactam fortemente os lucros e desempenho da empresa brasileira. Apesar do país asiático ter apresentado bons números recentemente, o crescimento econômico pode ver uma barreira com as tarifas prometidas pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
“Essas tarifas podem restringir o comércio, reduzir a competitividade dos produtos chineses no mercado internacional e afetar diretamente o ritmo de crescimento da economia. Uma desaceleração econômica na China é o que os EUA esperam”, disse Falcão.
Alinhado a essa análise, Matheus Lima, analista de investimentos e sócio da Top Gain, relembrou o primeiro mandato de Trump, quando tarifas de importação também foram impostas como medidas de protecionismo.
“As taxações agressivas causaram pessimismo no mercado como um todo, pressionando o preço das ações deste setor para baixo. Se algo similar acontecer (taxações) é muito provável que o mercado reaja da mesma forma, com pessimismo no setor”, afirmou.
No momento, o PIB (Produto Interno Bruto) da China cresceu 5% em 2024, conforme dados da Secretaria Nacional de Estatísticas do país. Na comparação anual, a economia chinesa expandiu 5,4% no quarto trimestre do ano passado.
Entretanto, mesmo reforçando que os números foram positivos, Leonardo Andreoli ainda não vê a demanda pelo minério de ferro tão forte quanto no passado, devido a desafios estruturais, como a desaceleração do setor imobiliário e estoques elevados do insumo.
“A curto prazo, analistas projetam um cenário de estabilidade para os preços do minério, o que pode sustentar os lucros da Vale, mas sem grandes impulsos de valorização no curto prazo”, projetou.
Com o início de um novo período fiscal para as empresas, os analistas esperam que a Vale tenha um bom desempenho e apresente uma recuperação gradual, com um impulso que dependerá do comportamento do minério de ferro.
Matheus Lima afirmou ainda que, mesmo acreditando que avanço da China levará com junto a mineradora brasileira, o desempenho não significará uma condenação para a WEG, que também é um grande “case de sucesso do setor industrial do Brasil”.