Apesar da Bolsa brasileira estar vivendo dias favoráveis, engatando recordes contínuos e se recuperando das perdas anteriores, nem todas as ações compartilham essa positividade para o futuro, como é o caso da Vale (VALE3). A mineradora tem sofrido com a perspectiva de perda de lucratividade, devido às constantes baixas nos preços do minério de ferro.
No ano, a ação que ocupa o 2º maior peso no principal índice acionário brasileiro, acumula queda superior a 20%. Grande parte dessas perdas, causadas pelo cenário desacelerado no mercado imobiliário chinês, frearam as estimativas de crescimento do mercado financeiro sobre a empresa.
O BTG Pactual (BPAC11) já expressou seu descontentamento com as estimativas para o Ebitda (lucro antes de juros, depreciação, amortização e impostos) da Vale para 2024 e 2025, prevendo os impactos que os preços atuais do minério de ferro terão sobre a companhia.
A commodity já está precificada abaixo dos US$ 100 dólares e economistas, em maioria, analisam que uma recuperação a médio e longo prazo não é estimada para a economia chinesa, o que afeta, consequentemente, a demanda do minério.
“O mercado vem, desde 2023, apostando numa retomada da China, que acabou não acontecendo e frustrando a todos. O setor imobiliário segue fraco, tentaram manter a demanda por minério de ferro por via do segmento de infraestrutura, mas não foi visto a demanda outrora vista no mercado imobiliário, e isso vem sendo refletido nas cotações do minério de ferro”, reiterou André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, em resposta ao BP Money.
No entanto, João Abdouni, analista da Levante Inside Corp, não vê um cenário desvalorizado para a commodity, que está, em sua análise, em um “patamar normal”. Com isso, sua expectativa é que a Vale siga com a geração de caixa em torno de R$ 80 bilhões.
Nesse quadro complexo que paira sobre o setor, as expectativas estão sobre os movimentos do governo da China com estímulos e investimentos em infraestrutura para aumentar a demanda pelo aço.
“Algumas mineradoras estão controlando a oferta para manter os preços estáveis, adiando expansões ou mantendo uma produção mais conservadora. Essa estratégia pode ajudar a equilibrar o mercado no médio prazo’, disse Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital.
O mercado imobiliário foi o setor que, historicamente, mais impulsionou a economia chinesa, explicou o economista Bruno Corano. O governo ofertou estímulos e incentivos para que a indústria fosse a força motriz de seu crescimento econômico.
Mas, apesar dos insumos ligados à construção civil, como o aço e o cimento, terem atingidos recordes de consumo nas últimas 2 décadas, essa indústria não era sustentável, afirmou Corano.
“O governo está tentando gerar linhas de crédito adicionais, tanto para compradores quanto para empresários, está salvando construtoras que estão em dificuldade, mas, ainda assim, o índice de empreendimentos encalhados é muito maior do que o governo tem sido capaz de gerar solução”, comentou.
“Lógico que o minério vai recuperar seu valor em algum momento, mas não sabemos quando. E hoje as chances são maiores de que, antes de melhorar, pode piorar [os preços] porque a economia chinesa não deu sinais claros ainda que vai conseguir escapar dessa teórica recessão de liquidez e de fomento econômico”, acrescentou.
Vale (VALE3) tenta fuga de dependência do minério de ferro com outros metais
O valor do minério, que é o cargo chefe negociado pela Vale, é um dos principais determinantes das suas receitas. Se os custos de operação seguirem constantes, o impacto da commodity pode ser ainda maior.
Por essa razão, a empresa tem tentado ser menos dependente da matéria-prima e aumentar sua participação na extração de outros metais como o cobre e o níquel, necessários no setor de eletricidade, explicou Fernandes.
O impacto sobre lucros deve ser sentido mais na linha final do que nas margens da Vale, comentou o sócio da A7 Capital, visto que a mineradora ainda consegue vender seu minério de ferro, “que é de melhor qualidade, com um prêmio em relação a cotação geral”.
Dólar deve seguir beneficiando a mineradora
Como toda exportadora, a Vale encontra um benefício na valorização do dólar sobre o real. A estimativa dos economistas, conforme o Boletim Focus do BC (Banco Central) é que a moeda encerre o ano acima dos R$ 5,00, o que mantém o nível muito atraente para as exportadoras, afirmou Fernandes.
No entanto, as margens da empresa também podem sentir certa pressão com o dólar alto.
“Além disso, os custos variáveis, como energia e transporte, podem não acompanhar a queda nos preços da commodity, reduzindo as margens de lucro”, sinalizou o sócio da The Hill Capital.
Nesse quesito, o mercado segue observando os movimentos do Fed (Federal Reserve) com relação à política monetária, pois a manutenção ou aumento da taxa de juros dos EUA valoriza a moeda, enquanto um corte a enfraquece e atrai mais apetite aos ativos de risco brasileiros, valorizando o real.