Vai salvar a Bolsa?

Vale (VALE3) pode sair de vilã para protagonista do Ibovespa em 2024?

A ação da Vale está entre as de maior peso no Ibovespa e, por isso, tem grande influência no seu desempenho

Vale
Vale pode salvar Ibovespa em 2024? / Montagem: BP Money

Se você assistiu ao filme “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, com certeza lembra da frase dita pelo personagem Harvey Dent: “Ou você morre herói, ou vive o bastante para se tornar vilão”. A máxima faz total sentido para a Vale (VALE3), mas no cenário inverso. Se a mineradora foi uma pedra no sapato do Ibovespa até agosto deste ano, os seus papéis podem ser fundamentais para um desempenho positivo do índice nos últimos meses de 2024.

A ação da Vale está entre as de maior peso no principal índice acionário da Bolsa brasileira e, por isso, tem grande influência no seu desempenho. Atingindo uma queda de até 19% de janeiro a agosto deste ano, a mineradora acabou limitando os ganhos do mercado local para apenas 1,4%. Sem ela, o Ibovespa teria subido 4,5% no mesmo período.

Vale teve desempenho ruim de janeiro a agosto de 2024 / Gráfico retirado do TradingView

No entanto, os ventos parecem ter mudado de direção e a empresa passou a ter melhor desempenho nos últimos pregões. Os papéis começaram a subir após o anúncio de novos estímulos para a economia chinesa.

Em pouco mais de uma semana, o rali das ações anulou boa parte dos prejuízos do ano, reduzindo o impacto negativo da empresa no Ibovespa. Na última sexta (11), por exemplo, a Vale subiu amplos 1,44% e segurou o ímpeto baixista do índice, que acabou recuando apenas 0,28%.

Se mantiver o ritmo, a Vale deixará para trás o papel de vilã e passará a ser protagonista na reta final do Ibovespa em 2024, como acredita o analista da Empiricus Research, Ruy Hungria. No entanto, ele salienta que ainda será preciso aguardar maiores sinais dos estímulos chineses.

“Dada a sua relevância no índice, um bom desempenho da Vale pode ajudar muito o Ibovespa, e entendemos que os aspectos internos apontam para uma melhora, especialmente após a transição em seu comando. A China terá um peso fundamental nessa recuperação, mas ainda é cedo para dizer se os estímulos serão suficientes”, disse Hungria em entrevista ao BP Money.

Assessor de investimentos da SVN, David Carneiro vê a mineradora num cenário quase que de “tempestade perfeita”, que deve contribuir para que a empresa puxe a bolsa brasileira.

“O investidor vai comparar seus pares e, pelo tamanho de mineradora que é a Vale, quando olhamos para os seus concorrentes, a empresa ainda negocia muito abaixo globalmente falando. Tem um cenário quase que de tempestade perfeita para que Vale consiga, nessa reta final de ano, puxar a bolsa brasileira”, analisou Carneiro.

Troca de comando e estímulos chineses mudam cenário da Vale

Alguns fatores explicam o desempenho ruim da mineradora nos primeiros oito meses do ano. A crise do setor imobiliário chinês impactou nas empresas de mineração e siderurgia em todo o mundo resultando em perdas com a desvalorização do minério de ferro.

A situação da Vale era ainda mais crítica, pois, além de lidar com a desvalorização do minério de ferro, precisava se resolver internamente, principalmente com a escolha do seu novo presidente, a fim de evitar ruídos em torno de interferência política na empresa.

Justamente ao final de agosto, a empresa anunciou Gustavo Pimenta para a presidência. O executivo foi eleito pelo Conselho de Administração, de forma unânime, “ao fim de rigoroso processo de seleção suportado por empresa de padrão internacional”, informou a empresa.

O executivo assumiu o comando em 1º de outubro e já trouxe bons ventos para os papéis da mineradora. “A escolha de Gustavo Pimenta, atual vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores, como novo CEO da Vale foi um passo decisivo para a companhia, encerrando um complicado processo de sucessão que gerou incertezas no começo do ano”, definiu Raony Rossetti, CEO da Melver.

“A seleção de Pimenta seguiu um rigoroso processo conduzido por uma consultoria de padrão internacional, o que reforçou a seriedade e a transparência da decisão. Sua experiência financeira e conhecimento interno da empresa o posicionam bem para liderar a Vale em um momento crítico, especialmente após as recentes pressões do governo e críticas sobre a distribuição de dividendos enquanto a companhia enfrenta desafios operacionais e sociais, como as compensações às vítimas de desastres de mineração”, completou Rossetti ao BP Money.

Ruy Hungria também elogiou a escolha de Pimenta. “Essa escolha se torna ainda mais positiva se lembrarmos que no início do processo foi veiculado que a escolha seria feita pelo governo, o que abriria chances de interferências políticas na companhia, o que também trouxe bons sinais de governança”.

Para Hungria, o novo comando deverá priorizar a resolução de questões que vêm pesando nos papéis da mineradora, como a produtividade, controle de custos, além de algumas negociações com o governo sobre a tragédia de Mariana e renovação das ferrovias.

Mencionado pelo especialista, o acordo de reparação pelo desastre de Mariana, ocorrido em 2015, também está próximo de uma resolução. Na segunda-feira (14), o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG), se mostrou otimista para fechar o acordo de R$ 167 bilhões entre Vale e BHP.

Se internamente a empresa começa a se resolver, os impactos vindos da China também podem estar com os dias contados, apesar de os especialistas ouvidos pelo BP Money pregarem cautela em relação ao tema.

Em setembro, o governo chinês apresentou um importante pacote de estímulos para a economia do seu país, com o intuito de destravar o crédito e o consumo para chegar à meta de 5% de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2024.

O anúncio foi positivo, ao menos em um primeiro momento, e fez com que as bolsas chinesas disparassem rumo ao melhor desempenho desde 2008.

No entanto, os novos estímulos fiscais anunciados no último sábado (12) frustraram investidores pela falta de detalhes. O ministro das Finanças, Lan Foan, em coletiva, afirmou que Pequim ajudará os governos locais a resolverem seus problemas de endividamento.

Além disso, também oferecerá subsídios às pessoas de baixa renda, apoiará o mercado imobiliário e reabastecerá o capital dos bancos estatais, entre outras medidas. Todas essas iniciativas vêm em linha com o que os investidores têm defendido para a China.

Mas a falta de informações sobre um valor em dólares do pacote provavelmente prolongará a espera nervosa dos investidores por um roteiro de política pública mais claro até a próxima reunião do Legislativo da China, que aprova emissões de dívida.

“Os estímulos ajudam, obviamente. Mas ainda é muito cedo para dizer se serão suficientes. É preciso aguardar para entender quais serão os efeitos desses pacotes no mercado local chinês (por exemplo, se isso ajudará as vendas e os lançamentos de imóveis) e se teremos novas rodadas de incentivos pela frente”, ponderou Ruy Hungria.

Contratos futuros do minério de ferro subiram após anúncio de estímulos / Imagem retirada do TradingView

Atualmente, a Vale é a maior produtora de minério de ferro e a China o maior comprador da matéria-prima. Por isso, o desempenho da empresa tem ligação estreita com seu principal parceiro comercial.

“Os estímulos econômicos da China, principal mercado para o minério de ferro, podem impulsionar a demanda e elevar os preços das commodities neste final de ano, favorecendo sim a Vale”, apontou Raony Rossetti.

Bons ventos e boa oportunidade para investidores

Na segunda-feira (14), a ação fechou a R$ 61,93, com queda de 14,04% no ano e 24,8% abaixo da máxima histórica de R$ 82,36, alcançada em janeiro de 2023.

Os fatores positivos alcançados pela mineradora de setembro para cá animam os especialistas, que avaliam o momento como uma boa oportunidade para os investidores.

“É um momento de comprar, especialmente para aqueles que adotam uma perspectiva de médio e longo prazo”, destacou CEO da Melver, Raony Rossetti.

Já de acordo com Hungria, a Vale está na série de “Vacas Leiteiras”, com foco nos dividendos. “Nossa recomendação é baseada no valuation barato e no elevado retorno via dividendos. Tratamos novos incentivos que venham a ajudar as ações como uma opcionalidade”, avaliou o especialista da Empiricus Research.

“É uma empresa que entrega super bem e, mesmo com o minério mais baixo, conseguiu segurar essa ‘boca de jacaré’, como chamamos no mercado”, finalizou Carneiro, assessor da SVN.