Vale (VALE3): resultados devem seguir em queda até 2023

Empresa viu lucro cair 19,6% no 1T22 e 17,7% no 2T22; mercado espera mais resultados em tendência de desaceleração até o ano que vem

Nos dois primeiros trimestres de 2022, a Vale (VALE3) reportou lucros mais fracos do que os registrados nos respectivos períodos de 2021. A empresa informou, na época, que a queda dos preços de minério de ferro e cobre influenciaram negativamente os resultados da companhia. Para o terceiro trimestre (e também para o final do ano), o mercado espera um pouco mais do mesmo. De acordo com especialistas, os preços do minério de ferro, com a China enfrentando problemas econômicos, devem seguir afetando os resultados da companhia. 

Para Fabiano Vaz, analista da Nord Research, a questão do minério de ferro com a desaceleração da economia chinesa – que tem afetado os resultados da Vale nos últimos meses – deve ser preponderante até o final deste ano para a empresa.

“Acho que agora é olhar para 2023 e ver o que a China vai demonstrar em relação a esses pontos, que acabam influenciando bastante no preço do minério para a Vale, mas a gente ainda deve ver resultados em queda em relação ao ano passado, porque o ano passado foi um ano de preço de minério bem elevado e isso impulsionou bastante os resultados da mineradora”, disse Vaz.

Dados do Ministério da Economia apontam que as vendas de minério de ferro do Brasil para a China apresentaram queda de 39% no acumulado do ano até setembro, frente ao mesmo período do ano passado.

Segundo Vaz, a alta elevada do minério de ferro em 2020 e 2021 impulsionou fortemente os resultados da Vale, o que acaba dificultando a comparação anual de resultados da companhia.

“A gente acabou presenciando uma alta super elevada de 2020 até meados de agosto de 2021, com o minério de ferro ultrapassando os US$ 200. A empresa surfou super bem e isso impulsionou bastante os resultados do ano passado. A comparação fica até um pouco mais difícil, com a gente vendo minério operando mais ou menos ali na faixa dos US$ 90/US$ 100 dólares”, disse Vaz. 

“Isso acaba pressionando bastante os resultados da Vale, então a gente vai ver aí uma queda nos resultados dela para esse trimestre, em comparação com o ano passado”, complementou o analista da Nord.

No segundo trimestre deste ano, a Vale viu seu lucro líquido cair 17,7% em comparação com o mesmo período de 2021, para US$ 6,2 bilhões. A Vale divulga seus resultados trimestrais nesta quinta-feira (27), após o fechamento do mercado. 

Vaz pontuou que a Vale deve registrar uma queda de cerca de 20% na receita, com o Ebitda caindo aproximadamente 35% e o lucro também perto dos 30% de retração frente ao mesmo período de 2021.  

“Acho que o ponto decisivo para a Vale é a China ainda, né? A crise imobiliária e a política de covid zero que eles vêm implementando esse ano prejudicou bastante”, disse Vaz. 

Recentemente, a Vale divulgou sua prévia operacional para o terceiro trimestre. O volume de produção da companhia veio acima do esperado e, segundo Vaz, este deve ser o principal destaque da empresa. 

A produção de minério de ferro ficou em 89,7 milhões de toneladas (Mt), alta de 21% em relação ao 2T22, segundo comunicou a empresa. 

“Acho que o destaque positivo deste trimestre vão ser os volumes e a produção. A gente viu um crescimento bem interessante em minério de ferro. Acho que os metais básicos também tem um crescimento interessante, já se aproximando do que foi colocado nas projeções para esse ano”, disse Vaz. 

Do lado negativo, o analista salientou que o “custo caixa” deve ser o ponto negativo da empresa.

“A inflação ali nos custos está pesando bastante. A Vale acaba operando com um custo caixa mais alto do que operava no ano passado, então a gente ainda tem essa pressão ali nos custos que acaba pressionando as margens”, disse Vaz. 

Segundo Paulo Luives, assessor da Valor Investimentos, o destaque da Vale no trimestre deve ser a produção de minério de ferro, que totalizou quase 90 milhões de toneladas (segundo o próprio guidance da companhia), o que representa um crescimento de 21% trimestre contra trimestre e um leve crescimento de 1% ano contra ano. A produção de Pelotas atingiu 8,3 milhões de toneladas, uma queda de 5% trimestre contra trimestre, e uma queda de 1% ano contra ano. 

“Assim, a produção melhorou no trimestre, refletindo a estação seca no sistema norte, e as maiores compras de minério de terceiros no sistema sul. Em termos de destaques, eu acredito que a recuperação na parte de metais básicos foi um ponto importante. Se olhar a produção de vendas de níquel, houve um aumento de 51% no trimestre contra trimestre e 13% ano contra ano”, disse Luives.

O especialista destacou que a produção de cobre da Vale também melhorou. Segundo Luives, é uma divisão que vem lutando nos últimos semestres para entregar a produção.

“É uma das áreas da Vale que não estava entregando um resultado tão satisfatório no último trimestre. Agora devemos ver um resultado bem positivo em relação aos anteriores nessa parte de metais básicos”, concluiu o analista da Valor Investimentos.

XP recomenda ações da Vale, mesmo com perspectivas de piora nos resultados

Em um relatório de temporada de resultados elaborado pela XP, assinado por Fernando Ferreira, estrategista chefe e ead do Research da XP, Jennie Li, estrategista de ações e Rebecca Nossig, analista de estratégia de ações, a empresa recomenda “compra” para os papéis da Vale, na bolsa de valores de São Paulo (B3). As ações da empresa acumulam queda de 4,72% no ano.

“Estimamos um EBITDA de US$ 4,2 bilhões para o segmento de minério de ferro (-19% QoQ). Com relação aos metais básicos, estimamos um EBITDA ligeiramente superior no trimestre (US$ 636 milhões), principalmente devido aos maiores volumes de vendas de níquel e cobre, compensados ??por menores preços de venda de níquel e cobre. Mantemos nossa classificação de compra no nome”, informou a XP sobre a Vale.