Vale (VALE3): R$ 7,8 bi de Brumadinho terá impacto nas ações?

Companhia fará desembolso bilionário em 2023 para reparações em decorrência da tragédia de Brumadinho

A tragédia de Brumadinho (MG) completa quatro anos ao final do mês de janeiro. De 2019 até o ano passado, a Vale (VALE3) desembolsou quase R$ 38 bilhões para realizar reparos referentes ao caso. Nesta quarta-feira (18), a companhia anunciou que irá desembolsar R$ 7,8 bilhões neste ano para arcar com acordo de autoridades e indenizações trabalhistas e cíveis. Com isso, os investidores que detém ações da Vale podem se perguntar sobre o rumo que elas devem tomar. A empresa e os papéis devem ser impactados por esse montante destinado a Brumadinho? 

Para especialistas consultados pelo BP Money, a influência do montante bilionário na empresa e nos papéis da mineradora deve ser mínima ou nula, já que o mercado já esperava esse pagamento pela Vale, como explica Luan Alves, analista chefe da VG Research.

“No ano de 2022 tiveram mais de 10 bilhões de indenização. A empresa está gerando bastante caixa e fechou o último trimestre com cerca de 10 bilhões de dólares abaixo da sua estrutura ótima de capital, fornecendo uma boa margem de segurança para os investidores”, disse Alves.

O analista CNPI-T, Gustavo Franco, destaca que a tragédia de Brumadinho já teve seu devido impacto na empresa, que ocorreu exatamente na época do desastre, e meses depois. Isso porque em meados de 2019 as ações da mineradora despencaram mais de 20% com perda de mais de R$ 70 bilhões em valor de mercado. 

“Por outro lado, desde então, as ações da empresa mais que dobraram de valor. Somente nos últimos seis meses, a Vale acumulou uma valorização de mais de 30%, em razão da sua melhora operacional, especialmente em metais básicos e, principalmente, acompanhando a alta do minério de ferro, devido ao relaxamento de medidas de restrição contra o covid e estímulos do governo ao setor imobiliário na China”, explicou Franco. 

O especialista ainda destacou que a magnitude da tragédia, além dos valores, deixou boa parte dos investidores atentos aos próximos passos da companhia ligados aos critérios de boa governança.  

“A Vale afirma estar praticando melhores práticas ambientais sociais e de governança, o ESG, fatores essenciais para reduzir os riscos do investimento em uma empresa”, disse Franco. 

O assessor de investimentos da Valor, Paulo Luives, na mesma linha de raciocínio de Franco e Alves, afirmou que o impacto de R$ 7,8 bilhões destinados a Brumadinho não deve ser tão relevante, porque muito disso já está provisionado no balanço e a estrutura de caixa da Vale, hoje, é bem forte. 

“A Vale gera muito caixa, tem um caixa robusto da ordem de R$ 28 bi em disponibilidades e eu acho que, mesmo se tiver alguma coisa que não está provisionado ainda, a maior parte disso já deve estar provisionado no balanço, então não há nenhuma surpresa, de certa forma. Eu acredito que o impacto acaba sendo mínimo para a companhia”, pontuou Luives.

A tragédia de Brumadinho 

A ponto de completar quatro anos, a tragédia de Brumadinho ocorreu após a barragem 1 da mina do Córrego do Feijão desabar, causando uma grande onda de rejeitos sobre a comunidade local. 

O acontecimento causou 270 mortes, além da destruição de casas e prejuízos ao meio ambiente. 

Apesar de ter sido duramente criticada pela falta de responsabilidade, na época, a Vale prestou toda assistência possível à comunidade local e criou uma área em seu site para falar sobre os avanços em Brumadinho. Além disso, a companhia informou que adotou rigorosos padrões internacionais de gestão de barragens, criados a partir de 2019, e assumiu o compromisso de eliminar todas as barragens a montante até 2035. 

“Desde o rompimento da barragem de Brumadinho, que causou perdas humanas irreparáveis, firmamos um novo pacto com a sociedade. Estamos aprimorando nossa escuta e comprometidos com a reparação integral dos danos causados às pessoas, comunidades e meio ambiente”, informa a Vale em seu site. 

“A reparação integral dos danos causados às pessoas e territórios atingidos pelo rompimento da barragem, em Brumadinho, é um compromisso da Vale, conforme acordo judicial firmado”, completa a mineradora. Nesta quarta-feira (18), as ações da Vale (VALE3) fecharam em alta de 1,31%, cotadas a R$ 93,34, no Ibovespa.