O que há de proximidade entre a Vale (VALE3) e os seres da mitologia grega? Um dilema que pode afetar os planos futuros da empresa. Nos contos gregos, Tântalo foi um personagem condenado a viver tendo toda comida ao seu alcance, mas sem nunca conseguir usufruí-la. Para a mineradora, esse impasse acontece enquanto ela tenta elevar sua produção de minério de ferro, mas esbarra com uma crise de demanda da sua maior compradora.
A versão da Vale com o dilema do mitológico grego, começou com as mudanças de governança recentes, a partir da entrada de uma nova gestão, com Gustavo Pimenta ocupando o cargo de CEO.
O executivo já realizou alterações nas diretorias e revelou que a empresa tem planos de expandir a produção de minério de ferro entre 340 a 360 milhões de toneladas até 2026, melhorar a qualidade do mix de produtos e dobrar a produção de metais básicos.
No entanto, essa estratégia pode surtir o efeito inverso sobre seus lucros, conforme indicaram especialistas consultados pelo BP Money.
“O aumento da produção certamente aumenta as chances do preço do minério cair, porque quanto maior a oferta, menor o preço, e a demanda da China vem caindo”, pontuou Bruno Corano, economista da Corano Capital.
Enquanto isso, Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, classificou a manobra como uma “jogada arriscada”, justamente pelo contexto do mercado chinês.
“Com a China lidando com uma crise econômica que afeta setores chave como o imobiliário e a infraestrutura, a demanda por minério de ferro pode continuar enfraquecida. Esse aumento de produção, em vez de gerar lucros imediatos, pode pressionar ainda mais os preços no mercado internacional, que já estão voláteis”, afirmou.
No entanto, conforme indicado pelo analista, o movimento da Vale também inclui uma tentativa de desprendimento e independência da China, com a aproximação com outros mercados internacionais.
“Existem alguns possíveis outros mercados, que são também mercados asiáticos, como a Índia, o Vietnã e outros países menores, mas ainda assim a minha dúvida é se eles vão conseguir suprir a retração chinesa”, destacou Corano.
O crescimento da Índia tem se mostrado acelerado, segundo Lima, e o país deve se tornar um dos maiores consumidores de minério de ferro nos próximos anos, sendo um mercado promissor para a Vale.
Vale (VALE3): relações comerciais mais fortes são parte do plano
Outra demanda mencionada recentemente pelo novo CEO da Vale, é a necessidade da empresa mudar sua área comercial e aprofundar o relacionamento com os clientes, a partir de uma nova dinâmica.
Nesse quesito, Lima avaliou que os passos da Vale podem seguir na direção de uma relação mais personalizada e direta com os grandes consumidores, “buscando contratos de longo prazo e maior previsibilidade nos preços”.
“Ao fortalecer os laços com clientes e oferecer um serviço mais sob medida, a Vale pode se proteger das flutuações de preço e garantir estabilidade em um ambiente de incerteza. Isso seria essencial para enfrentar a volatilidade atual do mercado global de commodities”, finalizou o analista.
Os efeitos que podem recair sobre as ações, no entanto, ainda são incertos, na análise de Bruno Corano. Isto porque, segundo ele, a correlação entre o preço das ações da empresa e seu faturamento não é precisamente relacionado.
“Mas certamente as ações da empresa sofreram desvalorização. No entanto, se eles conseguirem aumentar a produção, e aumentar as vendas, gerando consequentemente mais retorno, pode ocorrer uma valorização”, disse.
Não é crível, para o especialista, que a Vale esteja trabalhando a expansão de sua produção sem navegar em novos mercados e canais de distribuição.
O plano da mineradora aparentemente já foi posto em prática, visto que na quarta-feira (16) foi anunciado que sua produção de minério cresceu 5,5% no terceiro trimestre deste ano. O maior volume desde 2018.