Há pouco mais de 25 anos o agronegócio é um importante vetor da economia brasileira. No ano passado, o setor alcançou participação de 27,4% no PIB brasileiro, sendo o maior número desde 2004, segundo informações do Cepea/Esalq. Para quem quer surfar essa onda, desde o ano passado é possível investir no agronegócio através da Bolsa de Valores (B3), comprando cotas de Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro). E, dos 21 Fiagros listados em Bolsa, o que tem a melhor performance no ano é o Valora CRA Fiagro (VGIA11), segundo informações do site “Clube FII”.
Analistas ouvidos pelo BP Money explicaram o motivo da alta de cerca de 10% do VGIA11 no acumulado de 2022 dado seus dividendos positivos e da velocidade de alocação dos recursos. De acordo com head de fundos imobiliários (FII) da Valor Investimentos, Adriano Rondeli, o Fiagro da Valora (VGIA11) já saiu na frente dos outros por conseguir pagar bons dividendos logo de cara.
“A Valora é uma gestora já bem conhecida dos investidores, tem outros fundos bem conhecidos. Logo que saíram os agros, o VGIA11 já saiu pagando dividendos. Muitos investidores não têm essa paciência de esperar o gestor posicionar o fundo para depois poder pagar os dividendos. Por ser uma gestora grande, a Valora já tinha fundos de CRI rodando dentro de sua estrutura e conseguiu garantir um dividendo alto logo de início. Pelo risco corrido, o dividendo estava grande”, disse Rondeli.
O especialista em mercado imobiliário também citou a importância da velocidade da gestora em aplicar rápido o dinheiro do IPO nos CRAs.
“Ele conseguiu pegar esse dinheiro do IPO e aplicar rápido ali nos CRAs, já estava pré-selecionado, então liquidou e já colocou o dinheiro dentro do fundo, que já começou a render bem, enquanto outros fundos acabaram demorando mais um pouquinho para fazer esse processo”, explicou Rondeli.
Segundo o analista, essa jogada da Valora foi essencial para o Fiagro poder pagar bons dividendos logo no início da operação. “Isso aumenta um pouco da confiança, aumenta um pouco da percepção de rendimento e por isso que o fundo acabou subindo desde o início”, destacou.
A analista de research de FIIs/Fiagros da Órama, Anna Clara Tenan, concorda com a afirmação de Rondeli sobre os dividendos e diz ainda que a maior liquidez do Fiagro da Valora acaba influenciando também nas escolhas dos novos investidores.
“O que o investidor de FII/Fiagro quer? Esse investidor quer renda. O VGIA11 é um fundo que está entregando, de forma consistente, nos últimos meses, dividendos altos, de R$ 0,15 mais ou menos, que dá um dividend yield de 1,40%. Quando a gente compara com os outros do mercado, ele está pagando um pouco acima da média e isso chama a atenção do investidor”, afirmou.
A especialista também destaca que o número de mais de 3 mil cotistas do fundo também faz barulho na hora da escolha do novo investidor por um Fiagro.
“É acima da média do mercado. Tem muito fundo nascendo com um número mais restrito de investidores. A gente está em um momento mais complicado, então esses fundos com mais cotistas têm mais liquidez e isso afeta menos o preço e com essa entrega de dividendos isso vai se refletindo ali na cota”, explicou Tenan.
O VGIA11 tem ido na contramão dos demais Fiagros, que estão com rentabilidade negativa ou uma baixa rentabilidade no ano. Segundo Tenan, esse movimento tem acontecido porque o mercado ainda é muito novo para os investidores, além de que os fundos foram lançados em um momento desfavorável da economia.
“O mercado de Fiagro é muito recente, nasceu no ano passado em um momento que já estava bem complicado para a renda variável. No mercado de FIIs, por exemplo, a gente tinha, e ainda tem, fundos negociando com muito desconto. Estamos vendo uma redução desse volume de ofertas e foi um momento difícil para o começo dessa nova classe de ativos. Então já teve essa questão do cenário macro e, além disso, por se tratar de um mercado novo, esse fundos vem com uma liquidez um pouco mais baixa, porque as ofertas não estão vindo tão grandes”, disse Tenan.
“Tem muito efeito manada nisso também. O pessoal olha o preço da tela e começa a se movimentar. Acho que, por ser recente, é um mercado que precisa se provar com resultado pra ele ir crescendo”, complementou a analista.
Vale a pena investir em Fiagros como o VGIA11 agora?
O agronegócio é um dos principais setores da economia brasileira e tem crescido fortemente ano a ano. Mas será que este é o momento para investir nesta área da economia?
Segundo Eduardo Junqueira, Sócio da Quattro Investimentos, por serem indexados ao IPCA e CDI, os recebíveis agrícolas se tornam atrativos neste momento.
“Com o aumento da inflação e da taxa de juros, consequentemente aumenta a renda do cliente. O grande motivo para o investidor ter este ativo é a garantia real da terra ou dos recebíveis agrícolas. Isso dá uma segurança para a operação. Ele está se tornando um ativo atrativo. Hoje, o agronegócio é muito forte no Brasil. As pessoas tendem a gostar de aplicar muito neste ativo”, disse Junqueira.
Já para Adriano Rondeli este é um setor que tem muito pra crescer e vai precisar de capital do mercado. “Em linhas gerais, ele pega crédito em CDI. São carteiras que pagam CDI+ alguma coisa. Por isso, deve remunerar bem os cotistas nesse próximo ano”, afirmou.
Veja também: No VGIP11, alto custo de emissão em oferta restrita intriga especialistas em FIIs
Para Ana Tenan, da Órama, os Fiagros já estão distribuindo bem os proventos e é uma questão de tempo para o mercado entender que esta pode ser mais uma forma de diversificação da carteira.
“No cenário de aumento de juros que a gente tá vivendo, esses fundos, como VGIA11, estão conseguindo refletir muito bem esse aumento de juros ali na distribuição. Comparativamente, o investidor começa a ter uma vantagem até para diversificar a carteira dele. É uma questão do mercado ir amadurecendo e o investidor entender as vantagens”, disse Rondeli.