A Via (VIIA3) divulga seus resultados referentes ao segundo trimestre deste ano nesta quinta-feira (11), após o fechamento do mercado. A grande possibilidade de um avanço em alguns indicadores do balanço da varejista, como Ebitda e lucro operacional, pode fazer com que os investidores tenham uma impressão “ilusória” de que a companhia e o setor estão em um forte ritmo de recuperação, segundo analistas consultados pelo BP Money.
De acordo com André Zonaro, analista da Nord Research, a Via deve apresentar uma evolução na casa dos 35% em seu Ebitda, frente ao ano de 2021, e pode ter uma alta no lucro operacional de até 113%, também na comparação ano a ano. Mesmo assim, esses dados não são suficientes para demonstrar uma recuperação significativa.
“Analisados isoladamente podem parecer números excelentes, de grande evolução. Você crescer 30% ano contra ano ou 113% ano contra ano dá uma sensação de evolução muito expressiva, mas acho que é importante ressaltar que a comparação é de uma base fraca”, disse Zonaro.
O analista explicou que os resultados da empresa podem parecer bons neste trimestre, porque no mesmo período de 2021 foram muito fracos.
“Foi um trimestre [2T21] que teve impacto de covid, então isso impactou os números da companhia de uma maneira muito forte, ela apresentou um resultado ruim naquele período e agora que você compara com os resultados deste ano dá uma falsa sensação de melhoria, mas na verdade você está tendo uma ‘easy-comp’”, afirmou Zonaro.
Via reportou lucro líquido de R$ 18 mi no primeiro trimestre
No primeiro trimestre deste ano, a Via reportou lucro líquido contábil de R$ 18 milhões. O número representa uma queda de 90% em relação ao mesmo intervalo de 2021.
Em relatório, a XP informou, na época, que a Via tinha reportado resultados sólidos, com a rentabilidade sendo o principal destaque. Para Zonaro, da Nord Research, o recorte só do trimestre deve ser positivo, mas olhando para a figura do ano inteiro a evolução da varejista não deve ser tão grande frente ao ano anterior.
“Os resultados da Via podem, sim, vir positivos no segundo trimestre, mas muito sob essa perspectiva de que teve uma comparação muito fácil e quando a gente olhar para 2022 o resultado não deve ser tão expressivo. O cenário de varejo é um cenário de margens extremamente apertadas. As companhias precisam muito controlar seus gastos. Está complicado aumentar as receitas dessas empresas, já que o consumidor tem tirado um pouco o pé em termos de consumo de novas compras e aí o business tem dificuldade de ganhar uma tração”, destacou Zonaro..
“Devemos ver um 2022 bastante turbulento. O cenário para 2022 é de cautela”, completou.
O assessor de investimentos Paulo Luives, da Valor Investimentos, afirmou que o setor ainda deve enfrentar uma série de resistências para voltar a operar 100% no azul.
“Não é novidade que essa questão macro vem afetando muito o varejo e, especialmente, o varejo discricionário onde essas empresas de ecommerce atuam. Em especial sobre a Via, o mercado espera um resultado mais fraco, onde deve-se continuar vendo impactos na operação em função dessa deterioração macro. Ou seja, inflação elevada corroendo a renda do consumidor”, disse Luives.
O analista destacou o cenário macro e falta de apetite dos consumidores para comprar itens discricionários, com os juros em alta e a renda sendo corroída pela inflação.
“Esse consumidor prefere priorizar o consumo básico a trocar uma geladeira ou um fogão. Obviamente, espera-se uma margem bruta estável para a Via e um avanço da margem Ebitda, devido a um processo que a Via está fazendo de redução de despesas gerais e administrativas. Topline um pouco mais fraco em função desse cenário macro mais adverso, mas ao mesmo tempo uma certa melhoria operacional, especialmente se tratando de uma eficiência melhor de despesas”, concluiu Luives.