Vitória de Lula teria resposta rápida de construtoras na Bolsa; entenda

Analistas explicam cenário de volatilidade atual para companhias do setor imobiliário e apontam possibilidades para construtoras de baixa renda

As expectativas do mercado em relação ao fim do ciclo de alta de juros pelo Banco Central (BC) aumentam a atenção dos investidores em relação ao setor de construção civil. O que não tem sido muito comentado, entretanto, é que a situação política do País pode, também, mudar o rumo de algumas construtoras na bolsa de valores de São Paulo (B3). Uma possível vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – por exemplo – daria, segundo especialistas, um fôlego a mais para construtoras de baixa renda.

Para Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, apesar do cenário atual não favorecer as empresas do imobiliário de baixa renda, com uma possível vitória de Lula, companhias como Tenda (TEND3) e Direcional (DIRR3) poderiam ter uma resposta positiva e rápida na bolsa.

“Estamos bastante cautelosos com baixa renda, mas em uma eventual eleição do Lula, a gente acha sim que deve ter um estímulo muito grande para o setor, dado que é um ponto muito importante para os eleitores do Lula”, disse Komura. 

“O déficit de habitação ainda é muito grande, ainda precisa ser feita muita coisa para que o déficit fique razoável, então, pensando nisso, a gente teria sim uma reformulação do programa de moradia, poderia voltar para o Minha Casa Minha Vida, mas a gente veria, de qualquer forma, uma quantidade de recursos muito alta indo para esse programa, para financiar habitação popular, e isso seria muito benéfico para as empresas de baixa renda”, complementou Komura.

De acordo com o analista, Tenda que está em uma situação complicada, atualmente, poderia melhorar bastante em seus resultados, assim como MRV e Direcional.

“Esses [empresas citadas acima] são alguns cases que gostamos bastante em caso de vitória do Lula nas eleições”, afirmou o analista da Ouro Preto Investimentos. 

Komura destacou que as empresas do setor de construção civil, no geral, já devem se beneficiar do fim do ciclo da alta de juros. 

“A gente tem esse cenário macro jogando a favor das construtoras, de todas as rendas. Com o cenário atual, a gente acredita que as melhores empresas para se posicionar devem ser as de média e alta renda, porque devem se beneficiar com a melhora de perspectiva”, disse Komura.

Na mesma linha de raciocínio, Enrico Cozzolino, head de análise e sócio da Levante Investimentos, destaca que as construtoras estão descontadas no longo prazo. 

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“A hora que a gente compara o valor patrimonial, o que uma construtora tem de landbank [compra de terrenos para incorporação imobiliária], projetos e histórico de entrega, com os preços recentes dela, a gente vê uma diferença muito grande, um potencial de alta muito forte, mas aí, no meio do caminho, com o cenário de incerteza, juros subindo, recessão mundo afora, acho que o mercado começa a precificar um PIB crescendo, um fim de ciclo nos juros e a possibilidade de deflação, mesmo que seja pontual, isso dá um reflexo de volatilidade nas construtoras, principalmente pelo desconto histórico”, explicou Cozzolino.

“Por isso, a gente vê altas muito fortes e quedas muito fortes, importante ressaltar isso, comportamento típico de quando ativos começam a chegar em um limite ali de valor, quando o preço de tela acaba não refletindo um valor de fato de um fundamento”, disse o head de análise da Levante.

Qual empresa do setor de construção civil pode se beneficiar mais com uma possível vitória do Lula nas eleições? 

Para o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, o que mais preocupa o mercado em relação às companhias de baixa renda do setor imobiliário são as margens dessas empresas, que costumam ser apertadas devido aos custos de produção. 

“Essas empresas trabalham com margens bastante apertadas, então podem estar em uma situação complicada”, disse Komura.

Sobre as empresas focadas no segmento de imóveis de baixa renda, para Komura, a Tenda deve ser a principal companhia a se beneficiar de uma possível vitória de Lula nas eleições. 

“Tenda atua nas faixas mais baixas do programa e é a principal empresa. Por isso, a gente acha que ela pode responder muito bem a esse evento. A gente tem que pensar que, na bolsa, a gente tem as maiores empresas do setor. Quando a gente vê que a Tenda tem ido mal, é sinal de que as empresas menores estão piores ainda, muitas fecharam as portas e isso fez com que a concorrência caísse bastante”, afirmou Komura. 

“Por isso que, em caso de vitória do Lula, deve ter uma resposta muito rápida de Tenda e depois das outras empresas que atuam em baixa renda”, finalizou o analista da Ouro Preto Investimentos.