Fernando Ferreira, estrategista-chefe e head de research, e Jennie Li, estrategista de ações, ambos da XP (XPBR31), afirmam que o mercado brasileiro está descontado, em níveis que não eram vistos desde 2008. Os especialistas indicam as principais ações para alocar na carteira nessa reta final de ano e se preparar para 2023. JBS (JBSS3), Ambev (ABEV3), Weg (WEGE3), Vale (VALE3), Petrobras (PETR4), Klabin (KLBN11), Multiplan (MULT3) e Assaí (ASAI3) aparecem entre as indicações.
Considerando as oportunidades, mas também os riscos fiscais e políticos no radar, Ferreira e Li aconselham, no relatório “Contagem Regressiva para 2023: As oportunidades geradas na incerteza e como aproveitá-las”, da XP, optar por ações de qualidade, risco baixo e valor, que tenham um crescimento menos correlacionado ao ambiente macro e múltiplos atrativos.
“As empresas apresentam hoje pouco risco, baixos níveis de dívidas em relação ao passado e potencial de bom pagamentos de dividendos”, destacam os especialistas.
– Agronegócio: Apesar de nossas estimativas de margens menores para a safra 2022/23, continuamos otimistas com os produtores, pois a maior parte da safra foi hedgeada (protegida) com preços interessantes e as margens devem ficar acima dos níveis históricos, em nossa visão. As principais escolhas para o setor são: Jalles Machado (JALL3), BrasilAgro (AGRO3).
– Alimentos: é esperado um forte momentum nos resultados, devido ao alívio nos preços das commodities, que se traduzirá em margens mais altas. Para os frigoríficos, o principal fator no resultado será a virada do ciclo do gado nos EUA, afetando negativamente as margens do negócio de carne bovina. Reiteramos a nossa preferência por players mais diversificados. As principais escolhas para o setor são: JBS (JBSS3) e Camil (CAML3).
– Bebidas: Estamos muito positivos nos próximos meses para os nomes de bebidas devido a: 1) o alívio nos preços das commodities, que se traduzirá em recuperação de margens, em nossa visão; 2) os preços da cerveja estão abaixo da inflação nos últimos 2 anos e, portanto, vemos espaço para os players pressionarem por preços mais altos. Outro ponto apontado pelos especialistas é a Copa do Mundo, realizada em novembro, que, , junto com o auxílio emergencial, deve ser fator-chave para o crescimento do volume. A principal escolha para o setor é: AmBev (ABEV3).
– Bancos: O primeiro semestre de 2022 foi bastante positivo para os bancos, culminando com uma série de revisões para cima dos guidances. Para 2023, mantemos visão positiva, apesar de vermos aumento das preocupações com os níveis de inadimplência. A principal escolha para o setor é: Banco do Brasil (BBAS3).
– Bens de capital: As empresas de bens de capital continuam impactadas por gargalos relacionados à cadeia de suprimentos e escassez de componentes, embora os sinais de normalização comecem a aparecer. As principais escolhas são: WEG (WEGE3), Tupy (TUPY3), Embraer (EMBR3).
– Construtoras: Do lado das construtoras de baixa renda vemos uma combinação positiva das atualizações do programa Casa Verde Amarela (CVA) e a demanda ainda sólida do segmento, beneficiando as empresas posicionadas no topo do programa CVA em 2022. Para as empresas de média e alta renda temos uma visão neutra, baseada no cenário desafiador com taxas de juros imobiliários mais altas e volatilidade de demanda devido às eleições. Principais escolhas: Cury (CURY3), Direcional (DIRR3).
– Energia elétrica: Continuamos otimistas com as empresas do setor elétrico. Encontramos oportunidades ainda descontadas no setor de geração e distribuição de energia. Principais escolhas: Omega Energia
(MEGA3), Auren (AURE3) e Equatorial (EQTL3).
– Educação: Temos uma visão cautelosa em relação ao setor de educação, considerando os difíceis cenários micro e macro. Principal escolha: Cruzeiro do Sul (CSED3).
– Mineração e Siderurgia: O setor de mineração vive um momento de incerteza. Principais escolhas: Vale (VALE3), CBA (CBAV3).
– Óleo & Gás: Seguimos otimistas com a commodity e com o valuation descontado das empresas do setor. Principais escolhas: Petrobras (PETR4), 3R (RRRP3).
– Saúde: Nossa expectativa para o médio prazo é positiva, com as companhias fortalecendo seus portfólios de produtos e extraindo crescimento dos atuais. Principal escolha: Blau (BLAU3).
– Papel e Celulose: O setor tem surfado uma tendência mais positiva de preços de celulose nos últimos trimestres, principalmente devido às crescentes restrições de oferta e gargalos logísticos. Principal escolha: Klabin (KLBN11).
– Shoppings e propriedades comerciais: Esperamos continuar vendo uma forte recuperação do setor de shoppings em 2022, baseada na combinação entre o desempenho resiliente de vendas dos shoppings dominantes do segmento de alta renda e a progressiva redução de descontos, mantendo níveis saudáveis de inadimplência líquida e custo de
ocupação, levando a um crescimento robusto das receitas de aluguéis. Principais escolhas: Multiplan (MULT3), Iguatemi (IGTI11).
– Saneamento: Esperamos que o cenário eleitoral ainda seja um driver de volatilidade no curto prazo, especialmente para os players públicos. Principal escolha: Orizon (ORVR3).
– Tecnologia: Continuamos gostando da exposição às companhias de tech brasileira na Bolsa, apesar da volatilidade de alguns papeis no curto prazo. Principais escolhas: Bemobi (BMOB3), TOTVS (TOTS3).
– Telecomunicações: Nossa visão positiva é suportada por uma forte dinâmica de crescimento, além de execução operacional e sólida rentabilidade. Principais escolhas: Unifique (FIQE3), TIM (TIMS3).
– Transportes: Focamos as nossas recomendações do setor em nomes que acreditamos ter uma microdinâmica positiva, que deve ajudar a evitar potencial volatilidade em um cenário macro ainda desafiador. Principais escolhas: Vamos (VAMO3), Rumo (RAIL3).
– Varejo: Para os próximos meses, seguimos preferindo exposição a nomes mais resilientes e de alta qualidade, com
consistência de execução e liquidez em bolsa. Principas escolhas: Assaí (ASAI3); Grupo Mateus (GMAT3); Grupo Soma (SOMA3), Arezzo (ARZZ3).
Head de alocação e fundos da corretora Rodrigo Sgavioli, traz sua visão sobre os demais tipos de investimentos no atual cenário. Ele explica que portfólios podem e devem ser rebalanceados diante de um cenário macroeconômico adverso. Além disso, ele detalha a perspectiva da equipe de alocação da XP para as diferentes classes de ativos e enxerga oportunidade em três delas: renda fixa, ações brasileiras e ativos alternativos.
O especialista destaca que é preciso se manter atento a mudanças que acontecem na sua vida pessoal, tais como aumento ou redução de padrão (custo) de vida, perda de emprego (que acarreta em perda de receita), nascimento de um filho e o consequente aumento dos custos recorrentes, entre uma série de outras mudanças que podem acarretar na mudança de perfil de risco e horizonte de investimento.
Outro vetor para mudanças é o cenário macroeconômico. Neste mesmo relatório, a corretora traz um cenário bastante complicado, com custo fiscal elevado por conta de uma provável continuidade do Auxílio Brasil de R$ 600, reajustes salariais de funcionários públicos e manutenção das desonerações dos tributos sobre combustíveis.
Além disso, também crê que o IPCA, índice que mede a inflação, deve permanecer elevado em 2023, no patamar de 5,3%, segundo projeções, o que também adicionará desafios à convergência para a meta de 3,25%. Por outro lado, a Selic, taxa básica de juros, deve se manter em 13,75% até meados de 2023, com possível redução para 10% até o fim do ano.
Em meio a um cenário de bastante incerteza e uma eventual recessão global ainda mais forte, Sgavioli destaca a importância de ter um caixa acima da média, pelo menos nos meses que ainda restam em 2022, pois a economia brasileira pode ser afetada.
O especialista indica a reserva de emergência, geralmente alocada na renda fixa pós-fixada, como Tesouro Selic, CDBs que rendem 100% do CDI de liquidez diária, entre outros.
De acordo com ele, esta reserva de emergência deixará o investidor preparado e com liquidez para fazer frente a um cenário mais duro. Além disso, também aponta a reserva de oportunidade, recurso para possíveis compras de ativos, com foco no longo prazo.
“Essas reservas estão com retornos bastante atrativos, perto dos 10% nos últimos 12 meses, e com previsão de ficar próximo de 13 a 14% nos próximos 12 meses”, aponta.
Ainda na renda fixa, Sgavioli também vê com bons olhos os títulos indexados à inflação ou IPCA+, que oferecem a variação da inflação mais uma taxa fixa de juros, dado que o Brasil tem um histórico inflacionário considerável.
Entretanto, com a expectativa de inflação mais baixa, ele salienta que pode ser a hora de se expor um pouco mais aos títulos prefixados.
“Não que não gostemos mais de alocações em renda fixa inflação, muito pelo contrário — em um país como o Brasil, com um histórico inflacionário considerável, esse tipo de alocação tem sempre um lugar cativo na diversificação de indexadores da renda fixa”, ressaltou.
Já nos multimercados, o especialista afirma que segue com uma visão construtiva para a classe, que teve nesses meses de 2022 um dos melhores períodos dos últimos 7 anos, principalmente quando olhamos para os fundos Macro e Multiestratégia.
Porém, ele salienta que essa classe costuma ter um papel mais estrutural de diversificação e redução de riscos, pela sua diversidade de estratégias e mercados em que atua, com flexibilidade de gerar retornos com menos dependência de uma direção específica dos mercados, tanto no Brasil quanto fora.
Já na renda variável brasileira, é possível notar alguns riscos, como (política fiscal internamente e uma recessão global mais dura. Porém, ao longo do ano, ele afirma que sua equipe vem se sentindo mais confortável em sugerir uma maior exposição em ativos de risco brasileiros, dado o nível atrativo de preços, perspectivas positivas nos resultados das empresas (micro) e até mesmo por um cenário macro que veio surpreendendo para melhor ao longo do ano.
“Ainda mais para o investidor de longo prazo, com horizonte superior a 4 ou 5 anos, pode ser a oportunidade de entrar ou aumentar a exposição com o objetivo de elevar o nível de retorno esperado da carteira”, aponta Sgavioli.
Já na renda variável global, Sgavioli pede cautela e acredita que a exposição internacional nas carteiras deve ser reduzida, com pequenas posições na bolsa americana.
Isso porque diante da inflação elevada, os bancos centrais dos Estados Unidos e países desenvolvidos terão a necessidade de elevar juros, reduzindo a atividade econômica e afetando os resultados das empresas e seus níveis de inadimplência.
Nos investimentos alternativos, o especialista chama a atenção para a importância de ter uma parcela do patrimônio em posições mais estruturais para o longo prazo, por ser ativos menos líquidos mas com forte potencial de retorno, muitas vezes acima da renda variável.
De acordo com ele, existem alternativas em fundos de private equity, venture capital, special situations, infraestrutura, crédito estruturado, entre outros.
Para ele, o mais importante é estar diversificado, buscando sempre não o maior retorno e, sim, aquele que satisfaz as necessidades do investidor com um risco adequado.
XP crê em cenário macro desafiador
Para Caio Megale, Economista-chefe da XP, a atividade econômica brasileira segue em trajetória ascendente. Ele projeta um crescimento de 2,8% do PIB neste ano.
Do lado fiscal, os resultados de curto prazo continuam positivos, sustentados pelo expressivo crescimento das receitas atreladas aos lucros corporativos e à folha de pagamento.
Por fim, projeta alta de 6,1% para o IPCA de 2022, devido sobretudo às desonerações tributárias e ao recuo dos preços internacionais dos combustíveis. Em contrapartida, as medidas de estímulo fiscal e a reoneração de combustíveis (grau de incerteza elevado) pioram as perspectivas para a continuidade do processo de desinflação em 2023.
Em relação à política monetária, julgamos que o Banco Central tenha atingido a taxa terminal da Selic. Após a alta de 0,50 p.p. em agosto, acreditamos que o Copom finalmente entrará no modo “esperar para ver” que tem sinalizado há algum tempo.
Para ele, os sinais de aquecimento da economia permanecem mesmo com a recessão técnica nos EUA. De forma ampla, a economia americana não apresenta características claras de recessão.
O mercado de trabalho segue apertado, a demanda apresenta solidez e os lucros das empresas continuam crescendo. “Portanto, não prevemos um ciclo recessivo nos EUA. Esperamos que o PIB cresça 1,6% em 2022 e 1,5% em 2023”, afirmou.
Megale também crê que a inflação o já tenha atingido o pico, porém os avanços no mercado de trabalho devem ser responsáveis por mais aperto de juros.
“Olhando adiante, vemos espaço para cortes de juros a partir do quarto trimestre de 2023, na esteira da materialização da desinflação e desaceleração da atividade econômica”.
Na sua visão, a China continua decepcionando, enquanto que a zona do euro aponta riscos elevados. Por fim, as perspectivas para a América Latina pioram, segundo o economista-chefe da XP.