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Banco do Japão se torna "vendedor líquido", ato inédito em 13 anos

A diferença entre a compra de ETFs e venda de ações possibilitou o cenário

Por mais de uma década, o Banco do Japão (BoJ) ofereceu apoio aos preços das ações japonesas através da compra de fundos de índice (ETFs) negociados na bolsa. Essa medida fez do Banco um vendedor líquido de ações em 2023, o que não acontecia desde 2010, ano de lançamento da medida.

Em 2023, o índice referencial de média das ações japonesas, Nikkei, cresceu 28%. O bom desempenho foi puxado pelo investimento estrangeiro e recompra de ações por empresas japonesas. Logo, mesmo quando o Banco do Japão diminuiu as compras, o dinheiro privado manteve a elevação dos preços, de acordo com o Valor Econômico.

Essa prática não é usual entre os bancos centrais. No caso do Japão, eliminar a medida reduziria a distorção dos preços das ações e restauraria as funções do mercado do país.

A participação do Banco do Japão como vendedor

As vendas de ações adquiridas pelo BoJ foram parte de decisões pensadas para estabilizar o sistema financeiro japonês, e provavelmente essas vendas ultrapassaram as compras de ETFs, que diminuíram significativamente por causa da estabilização dos preços das ações.

As aquisições tinham dois objetivos: aliviar a pressão sobre os valores dos ativos e evitar deterioração do sentimento do mercado. Por isso, entre 2017 e 2020, o Banco do Japão adotou uma política monetária de juros ultra baixos, e o montante da compra cresceu entre 4 trilhões de ienes (cerca de US$ 27,8 bilhões às taxas atuais) e 7 trilhões de ienes por ano.

Esse valor caiu para menos de 1 trilhão de ienes a partir de 2021 e atingiu o patamar de 210 bilhões de ienes em 2023, após uma revisão nessa política de compras.

Plano de compras colabora com bancos

De 2002 a 2004, e posteriormente, de 2009 a 2010, o BoJ comprou ações aos bancos visando protegê-los dos efeitos negativos que a queda dos preços das ações causariam. A partir do ano fiscal de 2016 até o ano fiscal de 2025, o plano é abandonar essa política.

A pretensão inicial do Banco do Japão era vender suas participações por um valor de cerca de 3 trilhões de ienes. Ao final do ano fiscal de 2022, o montante real anunciado foi de cerca de 960 bilhões de ienes. Restam, então aproximadamente 320 bilhões de ienes por ano para serem vendidos nos últimos 3 anos, o que em parte se alinha ao plano original.

Em 2023, o número de vendas estimados chegou a 300 bilhões de ienes, enquanto o número de compras de ETFs foi de 210 bilhões de ienes. 

A diferença entre as duas medidas é que a compra de ETFs é uma função da política monetária do Boj, ao passo em que a compra de ações de bancos é uma função da sua política de estabilidade do sistema financeiro.

E apesar do Banco do Japão afirmar que não se pode comparar as duas funções entre si, se um departamento vende mais que o outro compra, então o Banco se torna um vendedor líquido.