Os bancos centrais continuaram a expandir suas reservas de ouro no mes de setembro, conforme apontado por Krishan Gopaul, analista sênior para Europa, Oriente Médio e África, do World Gold Council. O World Gold Council é a organização de desenvolvimento de mercado para a indústria do ouro.
“Em setembro, as reservas de ouro dos bancos centrais globais, por meio do FMI (Fundo Monetário Internacional) e de fontes públicas, aumentaram em 77 toneladas líquidas”, declarou Gopaul em uma atualização na quinta-feira. Ele acrescentou que “as vendas brutas (1 tonelada) foram superadas pelas compras brutas (78 toneladas), destacando a força das compras.”
Gopaul observou que “os principais compradores eram todos de mercados emergentes”, especificando que “o Banco Popular da China liderou as adições de ouro ao longo do mês, com 26 toneladas, seguido pelo Banco Nacional da Polônia e pelo Banco Central do Uzbequistão.”
China lidera aquisição de ouro em 2023
Ao analisar os totais acumulados desde o início do ano, Gopaul notou que “o Banco Popular da China continua sendo o maior comprador de ouro em 2023”, e que os bancos centrais de países emergentes desempenharam um papel crucial tanto nas compras quanto nas vendas de ouro.
O relatório também destaca que “a Autoridade Monetária de Singapura permanece como o único banco de mercados desenvolvidos a adicionar ouro às suas reservas”, observando que o pequeno acréscimo do Banco Central Europeu estava relacionado à entrada da Croácia na zona do euro em janeiro e, portanto, não refletia as intenções de compra do próprio banco central.
Em outro relatório sobre as tendências da demanda de ouro, o WGC destacou que as compras líquidas de ouro pelos bancos centrais desde o início do ano estão 14% à frente em relação a 2022 até o fim do terceiro trimestre.
“Os bancos centrais compraram 800 toneladas de ouro desde o início do ano, o número mais alto já registrado para este período de nove meses”, indica o relatório, acrescentando que “a variedade de países cujos bancos centrais aumentaram suas reservas nos últimos trimestres é ampla.”
No terceiro trimestre, os bancos centrais compraram 337 toneladas de ouro, tornando-se o terceiro trimestre mais forte da série de dados, embora não tenha igualado as excepcionais 459 toneladas do terceiro trimestre de 2022, conforme observaram os analistas.
Vários economistas relacionam o aumento nas compras de ouro pelos bancos centrais emergentes ao desejo de se afastar do dólar americano, em um movimento que alguns chamam de “desdolarização”.
Houve rumores circulando nos últimos meses sobre a possível criação de uma “moeda dos Brics” que poderia ser usada em transações internacionais em substituição ao dólar e seria lastreada em ouro.
Brics visam alternativa ao dólar
Durante o último encontro dos Brics ocorrido no verão passado, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva declarou que “a criação de uma moeda para transações comerciais e investimentos entre os membros dos Brics melhora nossas condições de pagamento e reduz nossas vulnerabilidades.”
Com a Rússia assumindo a presidência do grupo no próximo ano, o tema da desdolarização nas trocas internacionais pode ganhar destaque rapidamente, especialmente considerando que o país enfrenta fortes sanções internacionais relacionadas à guerra na Ucrânia, facilitadas pelo uso do dólar como moeda de comércio internacional.
Finalmente, uma razão que motiva os bancos centrais a acumularem ouro, em vez de dólares, está relacionada ao tamanho da dívida dos EUA, que se torna insustentável à medida que as taxas de juros aumentam, gerando preocupações sobre a viabilidade do dólar a médio prazo.