O estrategista do Bank of America (BofA) Michael Hartnett, projeta que os mercados acionários dos EUA podem enfrentar um primeiro trimestre difícil em 2024.
A previsão do especialista é justificada diante de um rali dos títulos como resultado da desaceleração da economia. Ele manteve a visão pessimista de que os rendimentos mais baixos foram um dos principais catalisadores dos ganhos das ações no trimestre atual. No entanto, uma nova queda para 3% significaria um “pouso forçado” para a economia.
A narrativa de “rendimentos mais baixos = ações mais elevadas” mudaria para “rendimentos mais baixos = ações mais baixas”, escreveu Hartnett em nota de 7 de dezembro.
O rali das bolsas nos EUA praticamente estacionou neste mês, após um dos melhores desempenhos de novembro em um século, com investidores tentando adivinhar quando o Federal Reserve vai começar a cortar as taxas de juros. O rendimento dos títulos de 10 anos dos EUA recuou para cerca de 4,2%, depois de atingir 5% no final de outubro, o maior nível desde 2007.
Os indicadores de confiança também já não apoiam ganhos extras em ativos de risco, disse Hartnett. O índice “bull-and-bear” personalizado do BofA subiu de 2,7 para 3,8 na semana encerrada em 6 de dezembro, no maior salto semanal desde fevereiro de 2012. Uma leitura abaixo de 2 é geralmente considerada um sinal de compra contrário.
O cenário pessimista de Hartnett contrasta com a da estrategista quantitativa do próprio BofA, Savita Subramanian, segundo o qual o S&P 500 deve subir para uma máxima histórica no próximo ano, devido à desaceleração da inflação e à eficiência corporativa.
Analistas do Deutsche Bank e do RBC Capital Markets também projetam uma máxima histórica para o índice em 2024. Michael Wilson, do Morgan Stanley – um dos mais pessimistas de Wall Street – tem uma perspectiva mais neutra.
Payroll supera expectativas, mas mercado mantém cautela
Os EUA divulgaram os dados do payroll, indicando a criação de 199 mil vagas de trabalho fora do setor agrícola em novembro. O número superou as expectativas dos analistas, que esperavam a geração de 180 mil empregos.
Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, destacou que os dados vieram levemente fora do esperado, mostrando mais criação de vagas, aumento no salário médio por hora e uma redução na taxa de desemprego. Ele ressaltou que esses indicadores podem impactar a decisão do Federal Reserve (FED) em relação à queda de juros.
“Após a divulgação dos dados a bolsa aqui no Brasil começou a cair, virou para o negativo. Não muito, porque os dados também não vieram absurdos, mas na bolsa de apostas em relação à redução dos juros na CME nos EUA, Chicago, já diminuiu a aposta de que vai cair em março os juros e agora já prevê para maio”, pontuou Cohen.
Por outro lado, Marcelo Oliveira, sócio-fundador da Quantzed, observou que, apesar de o número ter ficado acima do esperado, não foi uma surpresa tão expressiva. Ele explicou que o mercado está esperando dados mais fracos para acelerar a baixa de juros pelo FED, e números fortes podem segurar a taxa de juros mais alta.
Tanto Cohen quanto Oliveira, concordaram que o FED pode adotar uma postura mais cautelosa, adiando o início do ciclo de queda de juros, o que impactou negativamente nos mercados, refletindo em Treasuries, DIS e no Ibovespa.
O mercado agora permanece atento a futuros indicadores econômicos que podem influenciar as decisões do FED, mantendo uma postura cautelosa em relação ao cenário de juros nos Estados Unidos.