Foto: Reprodução Pixabay
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A China registrou, pela primeira vez na história, um superávit comercial anual superior a US$ 1 trilhão. O resultado, acumulado entre janeiro e novembro, reflete a expansão das exportações e a queda das importações no período. Segundo a Administração Geral de Aduanas, as exportações subiram 5,4% e somaram US$ 3,4 trilhões, enquanto as importações recuaram 0,6%, para US$ 2,3 trilhões. O saldo positivo chegou a US$ 1,08 trilhão.

País consolida domínio industrial

O desempenho reforça a posição da China como maior plataforma industrial do mundo. Nas últimas décadas, o país migrou de uma economia agrária para uma potência que ocupa espaço central nas cadeias globais de suprimentos. Inicialmente conhecida por produtos de baixo custo, a indústria chinesa agora domina segmentos de maior valor agregado, como painéis solares, veículos elétricos e semicondutores.

Essa força industrial, porém, tem elevado tensões com parceiros comerciais. O superávit recorde do ano passado foi de US$ 993 bilhões. Ultrapassar US$ 1 trilhão aprofunda o debate sobre desequilíbrios globais e acende alertas em diversas economias.

Pressão cresce nos EUA, Europa e mercados emergentes

Mesmo com tarifas elevadas impostas pelos EUA, as exportações chinesas se mantiveram firmes. O presidente Donald Trump voltou a aumentar impostos sobre produtos chineses ao reassumir o cargo, com algumas tarifas passando de 100%. Ainda assim, Pequim redirecionou seus embarques para outras regiões.

Até agora, em 2024, as exportações para África, Sudeste Asiático e América Latina avançaram 26%, 14% e 7,1%, respectivamente. Em contraste, as vendas para os EUA caíram 29% em novembro. O avanço para outros destinos compensou as perdas, com aumento de 5,9% nas exportações totais no mês.

Economistas afirmam que o redirecionamento tende a ganhar importância. Além disso, a Capital Economics destacou que o movimento ajuda a neutralizar efeitos das tarifas norte-americanas.

Europa reage e cogita medidas

A força chinesa também provoca incômodo crescente na Europa. O presidente francês Emmanuel Macron afirmou, após encontro com Xi Jinping, que o continente pode adotar medidas mais duras caso Pequim não contenha sua vantagem competitiva. A França teme a perda de espaço em setores como automóveis, tecnologia e bens de luxo.

O câmbio também preocupa: o yuan desvalorizou cerca de 10% frente ao euro no ano. Segundo Jens Eskelund, presidente da Câmara de Comércio da União Europeia na China, países de várias regiões, incluindo Oriente Médio e América Latina, aumentaram queixas comerciais e ações defensivas contra Pequim.

Dominância avança mesmo com tensões

Apesar dos riscos geopolíticos e da tentativa global de diversificação, analistas veem pouca chance de desaceleração mais forte no comércio externo da China. Além disso, o Morgan Stanley projeta que a participação chinesa nas exportações globais de bens alcance 16,5% até o fim da década.

Eskelund diz que o desequilíbrio é ainda maior quando analisado em volume: para cada contêiner enviado da Europa para a China, quatro retornam no sentido oposto. Por consequência, em termos de volume embarcado, a China seria responsável por cerca de 37% das exportações globais em contêineres.

Segundo ele, a pressão internacional tende a aumentar; por isso, “podemos chegar a um ponto em que as relações se rompam”, afirmou.