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Como a inflação na Argentina pode atingir o Brasil?

Especialistas destacaram que solução para o país vizinho seria a criação de uma nova moeda

Com uma alta de 7% na inflação mensal e com a inflação anual ao consumidor chegando ao maior nível em 31 anos (78,5%), a Argentina tem tido dificuldades para controlar o lado fiscal do país. Especialistas já cogitam uma inflação anual de 100% no país. Mas será que isso pode influenciar o Brasil de alguma forma? O BP Money consultou especialistas para entender o que acarretou esta situação no país vizinho e como essa inflação descontrolada pode atingir o Brasil. 

Para Maykon Henrique de Oliveira, CFP, professor na Eu Me Banco, a inflação alta na Argentina pode influenciar o Brasil, sim, já que a Argentina é uma parceira comercial muito importante para o País. 

“Só em 2021, a balança comercial entre os dois países passou de US$ 20 bilhões, entre importações e exportações. Entre os produtos mais comercializados estão o minério de ferro, grãos e automóveis”, disse Oliveira. 

Apesar do mundo inteiro estar vivendo um cenário de inflação, que tem como um dos grandes motivos a guerra da Ucrânia – responsável por alterar preços de commodities e combustíveis – a Argentina está vivendo um cenário muito mais específico. Isso porque a inflação que atinge grande parte dos países do mundo beira os 8%/10%. A Argentina, por outro lado, tem expectativas de inflação anual que chegam a 100%. Segundo especialistas, isso só reforça a tese de que a política fiscal do país está descontrolada.

Para Oliveira, da Eu me Banco, o Brasil pode sentir a questão do turismo diminuir por aqui. “O fluxo de turistas argentinos por aqui tende a cair muito, enquanto a presença de brasileiros na Argentina vai aumentar, visto a valorização do real frente ao peso”, afirmou o especialista.

Segundo Uriã Fancelli, internacionalista pela FAAP, a inflação encarece os produtos nacionais da Argentina e torna-os menos competitivos no mercado internacional. “Fica mais caro para importar deles e mais barato para eles importarem de nós”, comentou Fancelli. 

A solução para a inflação na Argentina 

Os especialistas consultados pelo BP Money relembraram que essa situação da Argentina já aconteceu em outros países, inclusive no Brasil, e a solução encontrada foi o congelamento de preços e a troca de moeda.

Para Sillas de Souza Cezar, professor de economia do Centro Universitário FAAP, não existe na Argentina uma política fiscal condizente com a responsabilidade orçamentária, ou seja, o governo gasta mais do que arrecada e acaba, literalmente, tendo que imprimir moeda para pagar as contas. 

“É preciso recriar a moeda lá. Já fizeram isso antes. A moeda quando perde a credibilidade é muito difícil recuperar. Não adianta ter juros altos, ter uma política monetária contracionista, se não há qualquer medida fiscal que sinalize para o mercado que o governo vai tentar gastar aquilo que ele pode dentro de um padrão regular de endividamento. A qualidade fiscal da Argentina é muito precária”, disse Cezar.

“A Argentina precisa emitir moeda para honrar suas dívidas. Enquanto isso não for mudado, o país vai conviver com a inflação”, complementou o professor da FAAP.

O economista e CEO da Eu me banco, Fabio Louzada, também destacou que uma reforma monetária na Argentina poderia ser o melhor caminho para o país fugir desse cenário de inflação descontrolada. 

“A redução dos gastos públicos seria um primeiro passo importante para que o risco fiscal da Argentina encontre um equilíbrio, mas sozinha essa medida não terá a força necessária para solucionar a questão. O peso está extremamente desvalorizado, controlar a depreciação com juros está cada vez mais difícil, ainda mais com uma possível inflação de 100% no horizonte. Uma reforma monetária é algo que deveria ser levado em consideração pelo governo argentino”, disse Louzada.

A inflação muito alta pode ter diversos efeitos sobre a economia de um país e um dos maiores deles é o empobrecimento da população de forma desenfreada, como explica Maykon de Oliveira, especialista em investimentos da Eu me Banco.

“Para se ter uma ideia, a inflação de itens como água e energia elétrica pode chegar a mais de 250%. Isso acaba fazendo com que o índice suba ainda mais. Outra preocupação é a desvalorização do peso em relação ao dólar, porque o dólar é uma moeda muito utilizada pelos argentinos. E quando a população começa a utilizar muito uma moeda secundária, acaba criando um mercado paralelo para driblar as restrições que o governo colocou de negociação de dólar. A reserva atual de dólar da Argentina não é suficiente para cobrir nem um semestre de importações. Quando isso acontece, a economia pode sofrer um colapso”, disse Oliveira. 

A Argentina vem sofrendo com a inflação há tempos, porém isso aumentou nos últimos meses. Desde março de 2022, a inflação na Argentina vem registrando altas mensais superiores a 5%. Segundo o internacionalista Uriã Fancelli, durante a pandemia o governo argentino ampliou os mecanismos de seguridade social, mesmo sem ter espaço fiscal para fazer isso. 

“O governo implementou diversos programas de controle de preços, que só agravaram a inflação. Tudo isso somado a guerra da Ucrânia e a desarticulação da cadeia de produção só poderia acarretar em uma inflação desse nível”, explicou Fancelli sobre a inflação na Argentina.

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