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Crise imobiliária chinesa começa a se espalhar pelo mundo

Crise mundial provocada pelo aumento dos custos do crédito já eliminou mais de US$ 1 trilhão dos imóveis comerciais

Os investidores chineses e seus credores estão apreensivos com seus ativos imobiliários no mundo todo, diante da necessidade de levantar dinheiro em meio a uma crise imobiliária interna que supera os riscos de venda desses ativos em um mercado em baixa. As informações são da Bloomberg.

A crise mundial provocada pelo aumento dos custos do crédito já eliminou mais de US$ 1 trilhão apenas dos valores dos imóveis comerciais, disse Barry Sternlich, presidente do conselho de administração da Starwood Capital Group na semana passada. Mas o dano total ainda é desconhecido porque pouquíssimos ativos foram vendidos, deixando os avaliadores com poucos dados recentes para seguir com suas análises.

Os negócios com imóveis comerciais concluídos caíram globalmente ao menor patamar em uma década no ano passado, com os proprietários relutando em vender imóveis com grandes descontos.

As autoridades reguladoras e o mercado temem que esse impasse possa estar ocultando perdas grandes e não realizadas, prenunciando problemas tanto para os bancos, que avançaram mais nos empréstimos físicos durante a era do dinheiro barato, como para os proprietários dos ativos.

A ação do New York Community Bancorp atingiu o menor patamar em 27 anos na terça-feira, após cortar seu dividendo e acumular reservas em parte devido a problemas com crédito imobiliário. O Banco Central Europeu (BCE) teme que bancos da região tenham sido lentos demais na redução dos valores dos empréstimos e a Financial Conduct Authority do Reino Unido vai rever as avaliações nos mercados privados, incluindo o imobiliário.

Crise imobiliária na China acende alerta; Brasil pode ser afetado?

A crise imobiliária da China ganhou um novo capítulo no final de janeiro, quando a Evergrande, gigante do setor, declarou falência após uma agonia que se arrastava já há algum tempo.

Carregando um fardo de aproximadamente US$ 300 bilhões em passivos, a empresa deixou de cumprir compromissos financeiros há dois anos, quando iniciou as negociações para reestruturar sua dívida. O prazo para a aprovação de um acordo chegou ao fim nesta segunda-feira.

“O setor imobiliário da China passa por problemas desde 2021, quando a própria Evergrande declarou dificuldade em honrar com suas dívidas”, disse ao BP Money o head de produtos da InvestSmart, Alexandre Carvalho.

Carvalho avalia que um dos principais impactos da falência da Evergrande é sobre os credores, principalmente os que se encontram fora da China Continental. “É onde se encontra a maior parte dos ativos da empresa. A dificuldade será recuperar parte do que foi emprestado”. “Além disso, a falência da empresa impacta o setor imobiliário como um todo, dado que a mesma ainda tem projetos inacabados”, alertou.
E o Brasil?

Apesar de ser o maior parceiro comercial do Brasil, ainda é cedo para avaliar os impactos da crise chinesa na economia local, segundo os especialistas ouvidos pela reportagem.

“Para o Brasil, o impacto deve ser limitado, uma vez que o setor imobiliário da China já está em processo de desaceleração desde o final de 2021, quando iniciou a crise”, pondera o head da InvestSmart. “Podemos ter impactos indiretos, como por exemplo maior desaceleração na atividade econômica chinesa, que poderia reduzir a demanda por produtos commodities brasileiras”, acrescentou.

“A China, crescendo menos, é a segunda maior economia do planeta, afeta o mundo e, notadamente, o Brasil, que tem nela seu maior parceiro comercial, tanto em agro e principalmente em minerais. Se a situação for contornada, e ela aparentemente tende a ser contornada, acabará sendo positiva para o Brasil, se não, afeta o mundo inteiro e o Brasil vai na mesma onda”, pontuou Álvaro Bandeira.