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Europa: o que explica as recentes quedas nas bolsas do continente?

Especialistas ouvidos pelo BP Money dizem que bolsas europeias sofrem com problemas internos e externos

As bolsas da Europa vêm chamando atenção do mundo por conta de suas sucessivas quedas em outubro. Os principais índices do velho continente registraram perdas significativas nas últimas semanas. Do início do mês até esta sexta-feira (20), o DAX, de Frankfurt, recuou 3,84%, enquanto o índice Euro Stoxx 50 caiu 3,56%. Já o CAC 40, de Paris, desvalorizou 4,51%.

Especialistas ouvidos pelo BP Money avaliam que as bolsas europeias sofrem com problemas internos, como a elevação de juros para conter a inflação e a guerra na Ucrânia, e também com fatores externos, como as incertezas vindas dos EUA e a recente eclosão do conflito entre Israel e Hamas.

“O mercado acionário europeu vem refletindo a queda de atividade econômica do bloco, em especial na sua principal economia, a Alemanha. O processo de elevação da taxa de juros, implementado pelo BCE e pelo BoE, para conter a alta da inflação, tem surtido efeito e desacelerado a atividade. Alguns analistas da área econômica indicam que o bloco pode estar próximo de uma recessão”, indicou a estrategista de renda variável da InvestSmart, Mônica Araújo.

“Numa visão mais ampla, deve-se considerar também o que ocorre em outras economias e que interfere nos ativos de risco globalmente, consequentemente nos mercados europeus também, que são a alta da taxa de juros de longo prazo nos EUA e mais recentemente, o conflito entre Israel e o Hamas. Portanto, não somente fatores internos da Europa, mas também e principalmente, fatores externos, explicam essa volatilidade nos mercados acionários da região”, acrescentou.

O fraco desempenho da economia europeia já está se refletindo nas empresas. Entre as companhias que divulgaram resultados do terceiro trimestre, a francesa de cosméticos L’Oréal perdeu 1,54%. Já a finlandesa Nokia, anunciou queda de 15% nas vendas e um plano para a demissão de 14 mil funcionários.

“Uma série de grandes empresas estão divulgando balanços nos últimos dias e mostrando receitas, lucratividades ou margens menores do que se esperava”, alertou o economista Rica Mello.

Para ele, as incertezas relativas ao novo conflito no Oriente Médio e aos juros nos EUA, devem manter o cenário desfavorável para a economia do continente por mais tempo.

“Aiinda não entendemos exatamente como e quando a guerra vai terminar como ou quais são os atores que ainda vão se envolver nela. Então, enquanto isso não acontece, enquanto os resultados das empresas europeias também não mostram resultados melhores, enquanto os números de inflação de juros americanos também não forem bons, entendo que essa volatilidade vai continuar. As oscilações vão continuar com uma tendência muito mais de queda do que de alta”, afirmou Mello.

Como fica o Brasil ?

Os países da Europa são importantes parceiros comerciais do Brasil. Juntos, eles representam algo em torno de 19% do total de exportações, com destaque para Holanda e Espanha, principais compradores do bloco.

De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços,
os principais produtos exportados para o continente são: óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos crus; farelos de soja e outros alimentos para animais; farinhas de carnes; minérios de cobre e seus concentrados; milho e café.

Ainda segundo dados da pasta, no período acumulado de janeiro a setembro de 2023, em relação a igual período do ano anterior, as exportações para a União Europeia caíram 10,9% e atingiram US$ 34,34 bilhões. As importações cresceram 7,6% e totalizaram US$ 34,97 bilhões. Consequentemente, neste período, a balança comercial com este bloco comercial apresentou déficit de US$ -0,63 bilhões e a corrente de comércio diminuiu -2,5% somando US$ 69,31 bilhões.

“Especificamente sobre a relação de eventos na Europa que afetam o Brasil, é importante destacar que temos uma relação comercial importante, e que a queda de atividade e de demanda na Europa pode afetar a venda de produtos brasileiros para a região. Nas isso deve ser analisado caso a caso, assim como os impactos efetivos e as alternativas que os produtores nacionais teriam para compensar”, ponderou Mônica Araújo.