Investidores da Evergrande temem que a desistência da gigante do mercado imobiliário da China de levar adiante um plano de reestruturação de US$ 19 bilhões possa gerar um “colapso incontrolável” do setor no país asiático.
Em comunicado emitido na segunda-feira (9), o grupo de investidores, que detém mais de US$ 6 bilhões em ações da companhia, disse esperar que a empresa siga em frente com o plano de reestruturação de sua dívida. Eles questionaram os esforços da companhia para obter o apoio de autoridades reguladoras do país.
A suposta falta de empenho da Evergrande para viabilizar a reestruturação afetará, inevitavelmente, outras companhias do setor imobiliário chinês, avaliam.“Qualquer reestruturação offshore das empresas imobiliárias chinesas pode se tornar uma missão impossível”, dizem os investidores no comunicado.
Entenda crise da gigante chinesa e preocupações do mercado
Em meados de agosto, os mercados foram surpreendidos pela Evergrande, gigante chinesa da construção, que solicitou um pedido de proteção contra falência, o conhecido “Capítulo 15”, em Nova York. Este movimento ligou todos os alertas, devido ao histórico de problemas da companhia.
Em 2021, a Evergrande enfrentou uma crise de liquidez ao não conseguir emitir pagamentos sobre os juros de empréstimos vencidos. Na época, a preocupação era de que a quebra da incorporadora gerasse um efeito cascata, provocando uma crise global – chegando a ser comparada com o caso ‘Lehman Brothers’, um dos bancos responsáveis pela crise econômica de 2008.
No ano de 2021, a Evergrande contabilizou prejuízo de US$ 65,4 bilhões e de US$ 14,5 bilhões em 2022. Apesar das dívidas bilionárias, a empresa conseguiu resistir, mas agora o mercado mundial volta a questionar o que pode acontecer em caso de possível quebra da gigante. Para Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, as atenções devem se voltar para como o governo chinês irá se posicionar em relação ao setor imobiliário.
“Os dados continuam ruins, a gente tem sinais que são negativos do setor de construção civil na China e que levaram inclusive ao Banco Central chinês a diminuir as suas taxas médias e taxas de baixíssimo prazo. Ainda não mexeram nas taxas de juros principais, mas a gente tem que ficar de olho”, declarou.
De acordo com Ricardo Martins, economista chefe da Planner Corretora, os mais recentes indicadores da atividade econômica chinesa, em desaceleração contínua, demonstram a enorme dificuldade que passarão as empresas do setor imobiliário.
Em conversa com a BP Money, ele comentou sobre como muitos fundos estão lastreados por projetos imobiliários de incorporadoras, algumas já problemáticas como a Evergrande. “Entre credores bancários chineses que retomaram US$ 2 bilhões que deveriam permanecer no controle dos detentores de títulos offshore e a ameaça de credores estrangeiros de liquidar as operações no exterior, a Evergrande decidiu valer-se do Capítulo 15 do Código de Falências dos EUA, para reestruturação da dívida offshore, de US$ 19 bilhões, onde muitos títulos estrangeiros são regidos pela lei dos EUA”, comentou.
O que o Capítulo 15 significa, neste caso, é uma busca por proteção contra esses credores e o reconhecimento dos débitos, e não exatamente um pedido de falência, diz Ricardo. “Suas vendas, que acabaram paralisadas em setembro de 2021, originando a crise de não pagamentos, retomaram a partir do 4T22, trazendo expectativas de que soluções podem ser melhor negociadas, criar um ambiente de maior segurança jurídica com o Capítulo 15 e evitar o pior”, acrescentou.
Há um consenso entre os analistas de que o Capítulo 15 foi apenas uma manobra para ganhar tempo, como conta Dierson Richetti, especialista em investimentos e sócio da GT Capital. “Isso já ocorreu em outro momento, já não é novidade. Então o que significa? A empresa está sem caixa e ela tem que honrar os seus compromissos financeiros. Então, basicamente, ela pediu um um tempo para receber outros pagamentos e remanejar o seu caixa, disse.
Quanto aos impactos diretos que esse movimento pode estimular no mercado, ainda é difícil precisar. “Vamos supor que ela venha à falência ou deixe de pagar os seus parceiros, ou suas dívidas, ela vai impactar muitas empresas na China porque tem muitas empresas que prestam serviços para ela. Os próprios investidores vão deixar de acreditar na empresa e deixar de emprestar dinheiro”, disse Richetti.
O caminho de saída fica na mão de uma boa gestão interna e de estímulos do governo chinês para evitar danos maiores. Resta então aguardar novas movimentações no país asiático.