Comércio internacional

FMI diz que tarifas não resolvem desequilíbrios globais

Foto: Reprodução
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Os saldos globais – positivos e negativos – em conta corrente aumentaram acentuadamente em 2024, revertendo o estreitamento ocorrido desde a crise financeira global de 2008/2009, informou o FMI (Fundo Monetário Internacional) nesta terça-feira (22), alertando que as tarifas comerciais não são a resposta para os desequilíbrios.

Em seu relatório anual do setor externo, que avalia os desequilíbrios nas 30 maiores economias, o FMI observou que superávits ou déficits externos não eram necessariamente um problema, mas poderiam representar riscos caso se tornassem excessivos.

A instituição disse também que desequilíbrios internos prolongados, incerteza contínua na política fiscal e tensões comerciais crescentes podem deteriorar o sentimento de risco global e elevar o estresse financeiro, prejudicando tanto os países devedores quanto os credores.

Tarifas dos EUA

O relatório criticou a imposição de tarifas de importação mais altas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, contra quase todos os parceiros comerciais, o que, segundo seu governo, pretende aumentar as receitas e corrigir déficits comerciais de longa data.

“Uma nova escalada da guerra comercial teria efeitos macroeconômicos significativos”, disse o FMI, observando que tarifas mais altas reduziriam a demanda global no curto prazo e aumentariam as pressões inflacionárias por meio do aumento dos preços das importações.

O aumento das tensões geopolíticas também pode desencadear mudanças no IMS (Sistema Monetário Internacional, na sigla em inglês), o que por sua vez pode prejudicar a estabilidade financeira, afirmou o FMI.

O parecer deste ano, baseado em dados de 2024, mostrou que o aumento dos saldos globais em conta corrente se deveu, em sua maioria, à elevação dos saldos excedentes nos EUA, China e na zona do euro.

O déficit americano aumento em US$ 228 bilhões, para US$ 1,13 trilhão ou 1% do PIB (Produto Interno Bruto) global, enquanto o superávit da China aumentou em US$ 161 bilhões, para US$ 424 bilhões, e os superávits da zona do euro se expandiram em US$ 198 bilhões, para US$ 461 bilhões.

Soluções domésticas

O economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, disse que superávits ou déficits excessivos resultam de distorções internas, como políticas fiscais excessivamente flexíveis, em países deficitários, e redes de segurança insuficientes que causam poupanças excessivas por precaução, em países superavitários.

Mudanças voltadas para esses fatores internos (mas não tarifas) eram necessárias, disse ele. Ele acrescentou que a China deveria se concentrar em impulsionar o consumo, a Europa deveria investir mais em infraestrutura e os EUA precisavam reduzir os grandes déficits públicos e controlar os gastos fiscais, acrescentou.

O relatório foi baseado em dados coletados antes da aprovação de um grande projeto de lei de corte de impostos e gastos, que o Escritório de Orçamento do Congresso disse na segunda-feira que adicionaria US$ 3,4 trilhões ao déficit dos EUA ao longo de dez anos, causando mais pressão.

O aumento das tarifas teve pouco impacto nos desequilíbrios globais, disse Gourinchas, uma vez que elas tenderam a reduzir tanto o investimento quanto a poupança, deixando os saldos das contas correntes pouco alterados.

Papel dos EUA

A incerteza quanto às tarifas também pode minar a confiança de consumidores e empresas, aumentar a volatilidade do mercado financeiro e levar a valorizações persistentes do dólar, segundo o relatório do FMI.

No entanto, o relatório observou que o dólar havia se desvalorizado 8% desde janeiro, sua maior queda semestral desde 1973.

O órgão reconheceu o domínio contínuo do dólar, mas disse que a crescente fragmentação geoeconômica pode representar riscos no futuro, e a recente demanda mais fraca por títulos do Tesouro dos EUA pode refletir preocupações sobre a trajetória fiscal norte-americana.

Um grande risco para a economia global é que os países respondam aos crescentes desequilíbrios aumentando ainda mais as barreiras comerciais, levando a uma maior fragmentação geoeconômica. E embora o impacto sobre os desequilíbrios globais permaneça limitado, os danos à economia global serão duradouros.