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Guerra ficou cara, mas sair deixaria Rússia desmoralizada, diz analista

A Guerra na Ucrânia completou um ano recentemente sem muita perspectiva de ser encerrada

A Guerra na Ucrânia completou um ano recentemente sem muita perspectiva de ser encerrada, mesmo com algumas complicações. Advogado especializado em Direito Econômico Internacional e Governança Corporativa, Emanuel Pessoa aponta que o conflito já se tornou caro para a Rússia, mas não crê em um final próximo, pois deixariam os russos desmoralizados. 

“Os EUA estão bancando toda a defesa da Ucrânia e eles estão com o bolso muito melhor que o bolso russo, então para eles se acabasse logo seria economicamente melhor. No entanto, os russos não podem acabar antes, pois se tiver uma perda militar nesse momento, ficam completamente desmoralizados. A situação é um pouco mais complicada do que parece, e por isso talvez não acabe agora”, afirmou Pessoa em entrevista ao BP Money. 

Buscando contribuir para o fim do conflito, a ONU (Organização das Nações Unidas), em Assembleia Geral, aprovou uma nova resolução pedindo o encerramento da guerra. A atitude foi até louvável, mas só na teoria, como explica o especialista. 

“As pessoas, às vezes, não percebem que as resoluções da ONU não têm muito efeito prático, especialmente quando são tomadas contra outros membros do Conselho Permanente de Segurança. Por mais que isso seja importante do ponto de vista moral, fato é que não deverá se traduzir necessariamente em atuação militar. O efeito ele é moral e serve mais como uma forma de constranger a Rússia em Fóruns internacionais”, explicou o Mestre em Direito pela Harvard Law School e pela Universidade Federal do Ceará.

Único país dos Brics a votar favorável para o fim da guerra, o Brasil teve sua participação avaliada pelo especialista. Pessoa analisou o País governado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e agora pelo presidente Lula (PT). 

“O papel do Governo Bolsonaro foi ponderado. As pessoas gostam muito de falar do jeito dele, mas ele entendeu muito bem que 80% dos fertilizantes do Brasil são importados, e aproximadamente um terço da nossa importação vem da Rússia e Bielorússia. Se tivéssemos entrado em choque direto com os russos, eles teriam condições de retalhar o Brasil de uma maneira que realmente doeria absolutamente no País”, destacou. 

“Hoje, Lula está tentando ter uma postura mais protagonista. Podemos imaginar que ele quer o prêmio Nobel da Paz, lustrar sua biografia, mas fato é que, hoje, o Brasil está tentando assumir uma posição de liderança nas negociações de paz, por conta da tradição brasileira de solução pacífica de conflitos e não intervenção nos aflitos alheios. O fato de o Brasil defender a paz é positivo para a Ucrânia, e o fato de o Brasil não atacar a Rússia é positivo para os russos. Isso nos dá uma posição que faz com que ambos os lados do conflito entendam que o Brasil tenta se manter o mais distante de uma posição parcial possível”, avaliou Pessoa. 

Impactos econômicos da Guerra 

Com a Rússia sendo uma das maiores exportadoras de energia do mundo, principalmente petróleo, hidrocarbonetos e gás natural, os impactos econômicos afetaram o mundo, principalmente a Europa ao longo deste último ano. 

“O ponto principal que aconteceu para o mundo todo foi a inflação do ano passado, especialmente do começo do ano. O que se viu foi um nível de inflação e redução de poder de compra que os europeus não assistiam no período sem guerra, que dificultou a questão de conseguir pagar as contas. O brasileiro está mais acostumado com esse tipo de situação, mas os europeus sempre ganham o suficiente para ter uma vida bacana, então foi um impacto muito grande”, apontou. 

Por fim, Pessoa deixa um questionamento no ar. Para ele, alguém está se beneficiando com o conflito, e esse “alguém” não é nenhum dos dois países envolvidos na Guerra. 

“Antes da Guerra, os EUA estavam incentivando a Ucrânia entrar na OTAN, enquanto que Putin ameaçava invadir caso isso ocorresse. Se olhar os deputados americanos que mais pressionavam lá atrás, eles são financiados por empresas do complexo militar industrial americano. Então iremos perceber que a guerra foi um ótimo negócio para empresas americanas. Embora a Ucrânia vá pagar por isso, os EUA estão emprestando dinheiro. Alguém está ganhando dinheiro, só não sei quem é”, opinou Pessoa.