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EUA: analistas projetam alta na inflação e (mais) recessão global

A inflação nos EUA vem impactando o mercado ao longo da semana

O CPI (índice de preços ao consumidor) será divulgado nesta quinta-feira (13), mas a inflação nos EUA vem impactando o mercado ao longo da semana, com investidores receosos quanto ao resultado e em como o Fed (banco central norte-americano) irá reagir. Consultados pelo BP Money, especialistas acreditam em nova alta, com o índice atingindo 8,2% nos últimos doze meses. 

“A minha expectativa acompanha a do Fed de Cleveland, que dá 0,3%, enquanto que o consenso está em 0,2%. O que me preocupa é que, dos últimos 19 CPIs, em 17 delas a coleta do Cleveland estava um pouco abaixo do que veio. Se ele já está acima do consenso, a chance de vir um pouquinho acima já é bem grande. Com isso, o anual sai de 8,1% para 8,2%”, afirmou Fabio Fares, especialista em análise macro da Quantzed.

Para Nicole Kretzmann, economista-chefe Upon Global Capital, a inflação ainda possui fortes vetores altistas e vai exigir mais aperto de juros para convergir para a trajetória correta.

“A inflação americana tem mostrado uma dinâmica bastante negativa: além de estar muito acima da meta, não está mostrando sinais de desaceleração. Ao analisarmos os núcleos mais inerciais (ou seja, que contribuem mais para desancoragem de expectativas e que exigem aperto maior para que arrefeçam), eles seguem subindo”, afirmou Kretzmann.

Na última semana, os EUA divulgaram que foram criadas 263 mil vagas de trabalho fora do setor agrícola em setembro, acima do esperado, enquanto que a taxa de desemprego caiu para 3,5%, segundo dados do Payroll, mostrando que a economia ainda está aquecida e que o Fed precisará agir para conter a inflação. 

“Como os dados de emprego nos EUA vieram muito sólidos há uma expectativa que o Fed continuará atuando para aplacar a inflação nos EUA, com uma subida de 0,75 ponto percentual nos juros básicos. Frente a este cenário, não parece haver outra alternativa ao Fed senão efetuar mais uma alta de juros, sinalizando ao mercado a credibilidade  e o compromisso da autoridade monetária com o controle da aceleração dos preços”, apontou Celso Pereira, Diretor de Investimentos da Nomad. 

Já para Kretzmann, é importante que o Fed mantenha o diálogo com o mercado com transparência do que seguirá fazendo. “Não é trazer a taxa de juros para patamares restritivos o suficiente para causar desaceleração do mercado de trabalho, mas também seguir firme na comunicação de que deixará a política monetária nessa instância contracionista por tempo o suficiente, até ter evidências convincentes de que a inflação está convergindo para a meta”, afirmou a economista-chefe. 

Como inflação dos EUA impacta no Brasil

Apesar de o Brasil estar em um momento diferente da economia dos EUA, por ter iniciado o seu ciclo de alta de juros há mais tempo, o País acaba sendo impactado pelo atual momento dos norte-americanos, como explica Fares. 

“É ruim para o Brasil pois a gente acaba importando a inflação. O dólar vai ficando cada vez mais forte. Porém, já fizemos nossa lição de casa e estamos no terceiro mês de deflação seguido, os juros estão na lua e temos experiência para lidar com inflação. Eu entendo o Banco Central quando ele diz que não tem perspectiva de baixar os juros. Enquanto estivermos neste cenário dificilmente a Selic irá cair”, afirmou o especialista. 

Pereira segue a mesma linha e salienta que a bolsa e a economia brasileira são impactadas negativamente com o aumento de juros e de inflação. 

“O fortalecimento dos juros e do dólar exportam inflação de preços para o Brasil e elevam o custo de financiamento da dívida pública e das empresas nacionais. Adicionalmente, a piora das expectativas do consumidor e empresas dos EUA – que são nosso segundo maior parceiro comercial – atrapalham o comércio e o investimento entre o Brasil e a maior economia do mundo”, destacou o diretor de investimentos da Nomad. 

Questionados se o cenário de recessão irá persistir por mais tempo, os especialistas acreditam que as economias de EUA e Europa ainda sofrerão por mais algum tempo no próximo ano. 

“Os EUA estão passando por um processo de retirada dos estímulos no pós-pandemia, e exigirá que a atividade desacelere para que a inflação volte para a meta. A Europa também enfrenta a questão da inflação, mas suas ferramentas e tempo necessário serão diferentes, pois também precisa lidar com o forte choque de oferta causado pela guerra na Ucrânia e com riscos de fragmentação dos países da Zona do Euro”, analisou Kretzmann.

Já Pereira destaca a projeção do FMI (Fundo Monetário Internacional) para 2023 e salienta que os números podem, inclusive, ser novamente revisados para baixo por fatores como conflito na Ucrânia, crise energética e tensões geopolíticas. 

“O FMI projeta para 2023 crescimento de somente 0.5% para a zona do Euro como um todo, enquanto a projeção de crescimento para os EUA é de 1% e 4.4% para a China. Esses números assumem uma recuperação da recessão ainda em 2023, fechando o ano com números anêmicos de crescimento. Porém, esses números podem ser novamente revisados para baixo, conforme se agudizam o conflito da Rússia na Ucrânia, os preços de energia e o rigor do inverno na Europa. Também são preocupações as tensões geopolíticas entre EUA e China”, ponderou o Diretor de Investimentos da Nomad. 

Por fim, Fares a economia norte-americana precisará enfrentar muitos desafios ainda em 2023, enquanto que a Europa se encontra em situação pior por conta da guerra e da crise energética. 

“2023 será o ano de estancar o final do estrago no começo e depois aquele ano de deixar cicatrizes curarem antes de deixarmos o menino voltar a sair de casa para correr na rua de novo. Vai ser um ano de muito mais de espera e paciência”, concluiu o especialista em análise macro da Quantzed sobre a inflação dos EUA e do mundo. 

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