Jackson Hole é um vale no estado americano de Wyoming, com pouco mais de 10 mil habitantes, conhecida por atrações turísticas, mas também por receber, uma vez por ano, o simpósio dos bancos centrais há 40 anos. Neste ano, a expectativa é de que os investidores acompanhem ainda mais de perto o encontro.
A cada ano, o simpósio de Jackson Hole trata sobre um tópico diferente. Agora em 2022, o tema é “Reavaliando restrições à economia e à política”. As discussões vão girar em torno do desequilíbrio entre oferta e demanda, herança da pandemia que acabou por impulsionar a inflação em todo o mundo.
Por conta desse movimento, a maioria dos Bancos Centrais do mundo têm elevado as taxas de juros depois de anos, incluindo os EUA. A edição deste ano do simpósio começa na quinta-feira (25) e termina no sábado (27).
Porém, o dia mais aguardado pelos participantes é o segundo. Nesta sexta (26), às 11h (horário de Brasília), está previsto o discurso do atual presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. A fala promete mexer com os mercados, pois deve dar um indicativo mais preciso sobre o futuro do ciclo de aperto monetário nos EUA.
A expectativa é de uma mudança radical no discurso de Powell em relação aos últimos anos. Em 2020, no primeiro ano da pandemia, a preocupação do Fed era outra. Na época, a inflação medida pelo índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) estava 1,3%, abaixo da meta perseguida pela autoridade monetária, de 2%. A taxa de desemprego, acima dos 8%.
Naquele ano, por teleconferência, Powell anunciou que a estratégia do Fed era fazer com que a inflação ficasse “moderadamente acima dos 2% por algum tempo”.
Já em 2021, o cenário já era bem diferente. O CPI havia disparado para 5,2%, muito acima da meta do Fed, enquanto a taxa de desemprego recuou para o patamar dos 5%.
Os estímulos ao consumo ao longo da pandemia geraram um descompasso entre demanda excessiva e escassez de oferta, numa cadeia de abastecimento fragilizada pelos lockdowns. O Fed, porém, disse no evento que a inflação era “transitória” e ainda se mostrava receoso em pisar no freio.
Discurso de Powell em Jackson Hole marca primeira fala após Fomc
O discurso de Powell em Jackson Hole será sua primeira fala pública a respeito da política monetária desde a última reunião do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), em que o Fed elevou os juros em 75 pontos-base.
Na ocasião, Powell deu a entender que a taxa não subiria nas mesma intensidade em reuniões futuras e afirmou que o Fed está percebendo sinais de desaceleração da atividade econômica.
“Desde a última reunião, os membros do Fomc tentaram reverter parte da leitura do mercado, rebatendo especulações de que a taxa de juros já pode ser cortada no início de 2023. Passaram recados, sinalizando que o Fed segue focado em convergir a inflação americana para a meta de 2,0% ao ano”, observa Sávio Barbosa, economista-chefe da Kínitro, segundo o InfoMoney.
Ainda de acordo com Barbosa, Powell deixará em aberto a magnitude da próxima alta de juros, até porque o Fed já disse que está sendo guiado pelos indicadores que saírem entre uma reunião e outra.
“Na semana passada, o presidente do Fed de Richmond, Thomas Barkin, afirmou que o BC americano está comprometido em convergir a inflação para a meta de 2,0% e que fará o que for necessário para alcançar essa meta. Nossa leitura é que J. Powell passará a mesma mensagem, o que pode frustrar parte dos agentes do mercado”, diz o economista-chefe da Kínitro.
O BofA acredita que o mercado de ativos de risco tem motivos para se preocupar com Jackson Hole. “Na nossa visão, o aumento de expectativas de preço neste verão [no hemisfério norte, que vai de fim de junho a fim de setembro] é um lembrete de que a luta contra a inflação ainda não acabou e isso deve pressionar o Federal Reserve a se manter hawkish“, dizem os analistas o banco.
Já o Goldman Sachs vai no caminho contrário. “Esperamos que Powell reitere a desaceleração do ritmo de alta de juros, apontada em sua fala pós-reunião de julho e na minuta do mesmo encontro”, escreveram os analistas.
No entanto, o banco acredita que Powell deve equilibrar o discurso, dizendo que o Fomc permanece comprometido em reduzir a inflação e dependente dos próximos indicadores econômicos para embasar suas próximas decisões de política monetária.
Há 40 anos, Jackson Hole é palco do simpósio anual dos bancos centrais. Esses encontros começaram em 1978, no Kansas, por uma iniciativa do Federal Reserve distrital. O evento mudou para Jackson Hole em 1982. A partir dali, o simpósio deixou de ser somente um encontro de caráter regional, passando a atrair autoridades monetárias de todo o mundo.