Os EUA criaram 263 mil vagas de trabalho fora do setor agrícola em setembro, acima do esperado, e a taxa de desemprego caiu para 3,5%, apontam dados do Payroll, divulgado nesta sexta-feira (7), pelo Departamento do Trabalho. Especialista em análise macro da Quantzed, Fabio Fares aponta que os números mostram um mercado de trabalho muito apertado e aquecido.
“Com isso, mais gastos e, consequentemente, maior inflação, mostrando que o FED tem uma missão muito difícil pela frente porque está cada vez mais difícil controlar a inflação. Já tem um tempo também que o FED tem deixado claro via seus membros que o combate à inflação é prioridade número um para eles. Números de payroll corroboram para a decisão de seguir com aumento de juros pelo FED, que tem um trabalho longo pela frente”, afirmou Fares em entrevista ao BP Money.
João Beck, Economista e sócio da BRA, também segue a mesma linha e destaca a continuidade de um mercado aquecido.
“O saldo de empregos de setembro veio em linha com o consenso, mas o desemprego de 3,5% veio abaixo do esperado e, portanto, mostra um mercado de trabalho ainda aquecido”, afirmou o especialista.
Já o salário médio por hora de todos os funcionários em folhas de pagamento não agrícolas privadas aumentou em 10 centavos, ou 0,3%, para US$ 32,46. Nos últimos 12 meses, os ganhos médios por hora aumentaram 5%. Em setembro, o rendimento médio por hora da produção do setor privado e funcionários não supervisores cresceu 10 centavos, ou 0,4%, para US$ 27,77.
“Com esses dados ainda lento do crescimento do desemprego e continuidade da alta de salários, será difícil vermos números bons no CPI que será divulgado em 13 de outubro. A interpretação do mercado é que com a divulgação de hoje, a trajetória de altas de 75 pontos na taxa de juros não muda e caminhamos para uma taxa terminal projetada em 4,5%”, explicou Beck.
A carga de trabalho média ficou em 34,5 horas por semana pelo quarto mês consecutivo. Na manufatura, a semana de trabalho média para todos empregados manteve-se inalterada em 40,3 horas, e horas extras também mantiveram o patamar de 3,2 horas.
“A geração de empregos, aliada ao avanço do salário, indica um cenário de leve recuperação no mercado americano, frente a um cenário de incerteza na política monetária”, pontuou Alexsandro Nishimura, economista e sócio da BRA.
“Dados de emprego foram bons, o que é ruim para a economia atual. Mais empregos foram criados, o que mostra que economia está aquecida, logo inflação está mais persistente”, salientou Fares.
Ibovespa abre em queda com Payroll
Com a divulgação do crescimento de empregos nos EUA, o Ibovespa abriu em queda de 0,19%, aos 117.337 pontos, na manhã desta sexta-feira (7). No entanto, o principal índice da bolsa de valores brasileira virou para alta de 0,39% aos 117.696 mil pontos, às 12h07 (horário de Brasília).
“Bolsas sentiram caindo forte. Expectativa de aumento em 75 pontos na próxima reunião ganha cada vez mais força agora. Vemos mercado reagindo de forma negativa esperando juros mais altos por mais tempo”, analisou Fares.
O resultado também levou os índices futuros dos EUA a caírem até 2%, refletindo também na bolsa brasileira, ainda que em menor grau.
Às 12h04 (horário de Brasília), o Dow Jones recuava 1,41%, o S&P 500 1,84% e o Nasdaq 2,62%.
Para Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, os dados mostram que a inflação ainda não está controlada.
“Assim que saíram os dados do Payroll, dólar subiu forte acompanhando DXY no mundo. Índice futuro no Brasil despencou. Bolsas internacionais caem e o Ibovespa acompanha queda. Na minha opinião, o FED deve manter política contracionista de aumento de juros. Não vemos nem sombra de queda de juros no curto prazo”, afirmou Cohen.