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Tarifa de Trump: analistas veem como ‘resposta a provocação’ de Lula

“Não éramos uma preocupação para os EUA, já que somos deficitários e importamos menos. Agora temos essa mudança", disse analista

Foto: Pexels
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O anúncio da tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil teve repercussão negativa, especialmente pelo cunho político da medida. Na carta enviada por Donald Trump, ficou evidenciado que se tratava de uma retaliação ao julgamento em curso do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de tentar anular o resultado das eleições de 2022.

Segundo analistas, a medida pode ter sido uma resposta a diversas provocações do governo brasileiro, ainda que feitas de forma despretensiosa. A nova alíquota deve entrar em vigor no dia 1º de agosto.

“Certamente temos uma motivação política para a decisão de Trump. Ele começa justificando com a questão do Bolsonaro, STF, em relação à censura das plataformas digitais. Além disso, tivemos a reunião do Brics e comentários do Lula questionando o dólar como moeda para transações internacionais”, disse Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital.

Segundo Bolzan, isso fez com que o Brasil ganhasse mais evidência, considerando que, em abril, o país não havia sido considerado para enfrentar a taxação de 10% que foi amplamente imposta a outros países que vendem para os EUA.

“Não éramos uma preocupação para os EUA, já que somos deficitários e importamos menos. Agora temos essa mudança — e certamente ela é, sim, por questões políticas”, acrescentou.

‘Mercado consumidor americano é o maior do mundo’, diz analista

Os EUA são um país naturalmente consumista, como explicou Bolzan: “O mercado consumidor americano é o maior do mundo, e deixar de vender para ele é bem ruim”.

Com a nova tarifa, espera-se que o Brasil exporte menos para os EUA, o que, consequentemente, deve reduzir o PIB (Produto Interno Bruto) nacional. Segundo o analista, esse seria um reflexo imediato.

Além disso, diante do cenário, o dólar passa a ser um ponto de preocupação, pois deve apresentar alta considerável, assim como os juros futuros.

Repercussões da tarifa de 50%

Após o anúncio, feito na quarta-feira (9), a repercussão foi quase imediata na bolsa brasileira. O Ibovespa fechou com queda de 1,31%, aos 137.480,79 pontos, enquanto o dólar comercial subiu 1,06%, a R$ 5,50.

Além dos efeitos no cenário nacional, a imprensa internacional também condenou a medida. O New York Times classificou a decisão como “extraordinária”. Segundo o jornal, o uso de tarifas para intervir em um julgamento criminal no exterior indica que o presidente trata impostos de importação como “porretes que servem para todos”. Já a emissora CNBC descreveu a carta como uma ofensiva sem precedentes, por misturar política interna de outro país com medidas econômicas norte-americanas.

“Essa taxação de 50% é totalmente descabida e impraticável. O impacto seria muito grande. Acredito que essas conversas possam evoluir e o impacto, de fato, ser reduzido”, comentou Bolzan.

‘Governo brasileiro fez diversos ataques aos EUA’, diz analista

Para o economista da Corano Capital, Bruno Corano, “o governo brasileiro fez diversos ataques aos Estados Unidos e agora corre o risco de enfrentar uma retaliação”.

“Os comentários apontam que Trump está fazendo uma ofensiva à soberania brasileira. Mas, na realidade, o que houve foram ataques e mais ataques do governo brasileiro aos Estados Unidos ultimamente, via Brics. Agora, poderemos ter de enfrentar uma retaliação que pode afetar até a saúde da economia daqui pra frente”, disse Corano.

Na sequência, o analista ponderou: “Até que ponto será que essas tarifas serão realmente mantidas? E até quando? Em quais condições?”.

Segundo ele, quem vai pagar “essa conta” é a própria população norte-americana.